As publicações de parlamentares LGBTI+ em suas redes sociais estão relacionadas à sua produção legislativa protocolada nas Câmaras e Assembleias? Esta é a pergunta que Bruno Santos busca responder em sua pesquisa, que tem como foco olhar para a comunicação digital de representantes legislativos de todo o Brasil que se identificam enquanto gays, lésbicas, transexuais, bissexuais e demais orientações e identidades de gênero.
Enquanto um desdobramento de pesquisa anterior (SANTOS, 2023), em que o autor buscou identificar a presença da temática LGBTI+ nas mídias digitais de parlamentares estaduais pertencentes a este grupo, o presente estudo busca agora compreender se políticos eleitos utilizam de suas redes sociais para o exercício do que se denomina enquanto representação comunicacional (GARCÊZ, 2017), uma vez que já é central no debate o entendimento de que a representação está para além do voto, em um exercício de construção constante por parte dos eleitos (ALMEIDA, 2014).
Desta maneira, percebe-se o caráter essencialmente comunicativo da representação política (COLEMAN, 2005). Afinal, se é o voto que define o início do processo da representação, é pela comunicação que esta mantém seu elo entre representante e representado. Processo fortalecido pelo protagonismo do ambiente digital no fazer político contemporâneo, em que estar online é prioridade para muitos parlamentares, seja para prestação de contas, campanha permanente, avaliação da sua reputação e imagem pública e, principalmente, conexão imediata e em tempo real com o eleitorado, sem qualquer filtro ou barreira.
Configura-se assim como um dos objetivos desta pesquisa a definição desta representação comunicacional e modelos de sua aplicação. O que exige também uma correlação com as teorias clássicas de representação política, principalmente acerca da conceituação de Pitkin (1985), aqui priorizado o modelo de representação substantiva: não basta permanecer a um determinado grupo, é preciso também buscar ações e progresso para estes. Todavia, sem perder sua independência e discernimento próprio.
Na sequência desta definição, o processo empírico da pesquisa partirá da análise das redes sociais de todos os/as parlamentares declaradamente LGBTI+ em exercício no Brasil durante o ano de 2025, em específico seus perfis no Instagram. Logo, considerando aqueles/as que se elegeram em 2022 (4 deputadas federais e 14 deputados e deputadas estaduais) e vereadores e vereadoras que se elegerão nas eleições deste ano (2024). Inclui-se também 1 senador eleito em 2018 (em função do seu mandato ter duração de oito anos).
Imagem – Parlamentares LGBTI de nível estadual e federal em exercício
Fonte: Vote LGBT
Daqueles que se enquadrarem enquanto representantes por este viés comunicacional, conforme os parâmetros de análise de conteúdo que serão definidos e o índice de representação comunicacional digital que será desenvolvido e aplicado, o processo seguirá para a análise documental de sua produção legislativa.
Por meio dos sistemas das Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e Câmara federal, serão levantados e analisados todos os projetos de lei e também outros requerimentos relacionados à temática LGBTI+ protocolados por estes e estas parlamentares. Ao fim desta etapa, será possível responder à questão que fundamenta a pesquisa acerca da relação entre a representação comunicacional exercida e a produção legislativa apresentada, esta que pode ser definida enquanto pertencente à representação institucional, autorizada por meio do voto.
A pesquisa assim contribui para a compreensão da configuração e modelos da representação comunicacional, que tem como grande importância o auxílio na busca por reparação de visibilidade de grupos subrepresentados, que por meio do ambiente digital podem se comunicar sem necessidade de passar por filtros – como ocorre nos veículos de comunicação tradicional –.
E também para compreender a relação desta busca por visibilidade discursiva com a contribuição legislativa, na mensuração da atuação destes parlamentares na garantia de leis e demais ações parlamentares que promovam direitos, acesso e oportunidades para a população que representam. Uma vez que, como defende Fraser (2008), a luta precisa ir para além do reconhecimento de identidades e visibilidade, simultaneamente sendo também por redistribuição e reparação de injustiças sociais e econômicas. Sendo preciso para isso participação política e ocupação dos espaços de poder.
Referências
SANTOS, B. R. DOS. Sou, logo represento? A temática LGBTI+ na comunicação digital de deputadas e deputados estaduais gays, lésbicas, bissexuais e transexuais durante a legislatura 2019-2022. 2023. 160 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Setor de Artes, Comunicação e Design, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2023.
GARCÊZ, R. L. DE O. A representação política em uma perspectiva Comunicacional. In: 26º Encontro Anual da COMPÓS. 2017, São Paulo. Anais eletrônicos…Galoá: Campinas, 2017.
ALMEIDA, D. R. DE. Representação como processo: a relação Estado/sociedade na teoria política contemporânea. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, v.22, n.50, p. 175-199, jun. 2014.
COLEMAN, S. New mediation and direct representation: reconceptualizing representation in the digital age. New Media & Society; Londres, v. 7, n.2, p. 177-198, 2005.
PITKIN, H. F. El concepto de representación. Madri: Centro de Estudios Constitucionales, 1985.
FRASER, N. La justicia social en la era de la política de identidad: redistribución, reconocimiento y participación. Revista de trabajo, v. 4, n.6, p.83-99, ago/dez. 2008.
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