Interações nos comentários de Facebook na disputa pela prefeitura em 2016.

Giulia Sbaraini Fontes.

(Post de 07/04/2017 migrado do antigo site do CPOP)

O desenvolvimento das redes sociais digitais alterou o modo de difusão da informação política. Os meios de comunicação tradicionais – que antes detinham maior controle sobre a produção e disseminação de conteúdo informativo – agora precisam concorrer pela atenção dos usuários também com partidos, candidatos e até mesmo com outros internautas (MARQUES; SAMPAIO, 2011). A euforia quanto aos efeitos desta nova lógica na qualidade do debate público, no entanto, logo deu lugar à noção de que, nas redes sociais digitais, os usuários tendem a compartilhar conteúdos com os quais já concordavam. O resultado seria a filiação a grupos com os quais o usuário tem afinidades políticas e não, de fato, a discussão de opiniões divergentes.

Estudos como o de Mendonça e Cal (2012) apontam para a homofilia em redes sociais digitais como o Facebook, em que há resistência dos usuários a expressões de oposição. A tendência de formação de grupos like-minded também aparece nas páginas de veículos de comunicação nas redes sociais, mesmo que associadas a outras formas de interação. Nichols (2015) aponta que, nos comentários em posts do jornal Folha de S. Paulo relacionados às eleições de 2014, 40,2% das participações durante o primeiro turno da campanha foram categorizadas como radicalização, isto é, como reações negativas à postagem ou a um comentário de um outro participante.

Na mesma pesquisa, contudo, o autor demonstra que, no segundo turno da eleição de 2014, o que predominou foi a persuasão: 73,4% dos comentários demonstravam que o usuário foi persuadido ou tentava persuadir seu interlocutor. Nos dois períodos, porém, destaca-se que poucos comentários (17,3% no primeiro turno e 8,4% no segundo) citavam outra postagem mencionando novos argumentos e promovendo, assim, um diálogo entre os interlocutores. 

Dessa forma, tendo como pano de fundo este debate acadêmico, o CPOP apresenta, a partir da semana que vem, uma série de comentários sobre o uso do Facebook nas eleições municipais de Curitiba em 2016, trazendo comentários da semana que tratam do comportamento dos comentaristas em posts nas páginas do Facebook de candidatos à prefeitura de Curitiba em 2016 e das páginas dos principais veículos de comunicação da cidade. Os dados foram coletados durante os meses de campanha eleitoral, entre agosto e outubro de 2016.

Serão apresentadas nas próximas semanas informações a respeito dos oito candidatos à prefeitura de Curitiba: Ademar Pereira (PROS), Gustavo Fruet (PDT), Rafael Greca (PMN), Ney Leprevost (PSD), Maria Victória (PP), Requião Filho (PMDB), Tadeu Veneri (PT) e Xênia Mello (PSOL) que chegaram ao final da campanha. O total de comentários nas páginas dos candidatos foi de 101.273, distribuídos como indicado na tabela 1 a seguir.

Pode-se perceber na tabela 1 acima que a página do candidato Rafael Greca no facebook representou quase metade (46,8%) do total de comentários publicados nas páginas de todos os concorrentes. Depois dele, segue Gustavo Fruet, com 19,2% do total e Ney Leprevost, com 13,7% do total de comentários.

Depois de coletados, os comentários foram submetidos a uma análise de conteúdo quantitativa. Os resultados das análises feitas a partir do banco de dados coletado serão expostos em sete textos publicados a partir da semana que vem, começando por uma análise sobre o uso de hashtags pelos comentadores. Os posts seguintes trarão informações sobre os temas abordados pelos comentários dos diferentes candidatos, salientando os temas que mais apareceram e as interações entre usuários e candidatos. Com isso, pretendemos apresentar respostas às perguntas: que candidato foi mais citado nos comentários? Como os comentadores trataram cada um dos candidatos? Quais foram os temas mais abordados nas páginas dos candidatos? A que temas os nomes dos candidatos foram vinculados nos comentários no Facebook? Como as presenças deles se alteraram ao longo da campanha? Essas e outras questões começam a ser abordadas dia 14/4, em comentários semanais feitos por pesquisadores da equipe CPOP.

REFERÊNCIAS

MARQUES, Francisco Paulo Jamil Almeida; SAMPAIO, Rafael Cardoso. Internet e eleições no Brasil: rupturas e continuidades nos padrões mediáticos das campanhas políticas online. Revista Galáxia, São Paulo, n. 22, p. 208-221, dez. 2011.

MENDONÇA, Ricardo Fabrino; CAL, Danila. Quem pode falar no Facebook? O “autocontrole” em um grupo sobre o plebiscito acerca da divisão do estado do Pará. Revista Debates, Porto Alegre, v.6, n.3, p. 109-128, set.-dez. 2012.

NICHOLS, Bruno Washington. Eleições 2014: uma análise dos comentários relacionados aos principais presidenciáveis no Facebook da Folha de S. Paulo. 43 f. Trabalho de Graduação (Bacharelado em Ciências Sociais) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2015.