Como parte de uma pesquisa inicial que analisa como a direita radical se comunica em contextos subnacionais durante períodos eleitorais, o pesquisador Rafael Rocha analisa a presença dos elementos ideológicos do bolsonarismo nas campanhas dos deputados estaduais supervotados do PSL nas eleições de 2018 por meio das páginas oficiais do Facebook. O objetivo é mapear suas principais ideias e posicionamentos, verificar se os perfis dos candidatos utilizaram estratégias semelhantes ou não e compreender a construção da imagem política do campo ultradireitista e conservador nas redes sociais durante a campanha eleitoral.

Assim como Aggio e Castro (2020), acreditamos que a perspectiva de investigação do populismo centrada na comunicação busca analisar expedientes discursivos que dão forma aos conteúdos populistas, pois são instrumentos valiosos para a compreensão da comunicação política que define, substancialmente, determinado agente político e o que ele representa.

Também concordamos com Messenberg (2017) que diversas pesquisas sobre o tema vêm sendo desenvolvidas com a intenção de caracterizar e compreender seus manifestantes, os perfis ideológicos e as organizações que lhe dão suporte (ORTELLADO, 2015; TELLES, 2015; TATAGIBA; TRINDADE; TEIXEIRA, 2015), “entretanto, pouco ainda se tem clareza sobre as configurações simbólico-discursivas que orientam cognitiva e normativamente a ação de tais atores sociais” (MESSENBERG, 2017, p. 621).

As eleições de 2018 mostraram uma forte rejeição aos partidos e políticos tradicionais, o que resultou na maior renovação do Congresso desde a redemocratização. Nas assembleias estaduais, o PSL multiplicou por quatro o número de parlamentares, tornando-se o partido que mais cresceu em todo país e a 3º legenda com maior número de representantes nos estados. O PSL também conquistou a maioria nas assembleias de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Espírito Santo.

Neste quadro de ascensão da sigla de Jair Bolsonaro, três casos merecem destaques nas eleições estaduais: 1) O primeiro é o da advogada e professora universitária Janaína Paschoal – a deputada estadual mais votada de São Paulo, além da mulher mais votada da história do país, com mais de dois milhões de voto. 2) Outro caso que merece atenção é o do YouTuber pró-Bolsonaro André Fernandes – deputado mais votado para Assembleia Legislativa do Ceará, além do mais jovem do Brasil, com apenas 20 anos. André obteve 109.742 votos na sua primeira candidatura. 3) O terceiro destaque vai para o advogado Rodrigo Amorim, deputado mais votado no Rio de Janeiro, reduto político de Jair Bolsonaro, com 140.666 votos.
Para tanto, recorremos à Análise de Conteúdo (AC) (BARDIN, 1977; CARLOMAGNO; ROCHA, 2016; SAMPAIO; LYCARIÃO, 2021) para identificar e compreender os elementos ideológicos do bolsonarismo nas estratégias comunicacionais dos deputados estaduais. Desta forma, foram criadas quatro categorias e suas respectivas subcategorias:

Sobre a quantidade de material coletado, foram analisadas todas as publicações durante o período eleitoral permitido para campanhas online de acordo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre o dia 16 de agosto a 7 de outubro, incluindo imagem, texto, vídeo, GIFs e links de site de notícias. Para a coleta do material, utilizou-se o aplicativo Netvizz, no próprio Facebook. No total, foram coletadas 361 postagens, mas apenas 228 atenderam ao Livro de Códigos proposto para esta pesquisa.

Podemos inferir, a partir das análises propostas para essa investigação, que os discursos predominantes dos candidatos analisados tiveram em sua recorrência a existência de pautas morais com caráter populista. O que compreendemos após os estudos durante a campanha eleitoral de 2018 é a reafirmação de um fenômeno conhecido como Guerra Cultural, debate que surgiu com a ascensão da extrema direita pelo mundo (SOLANO; ORTELLADO, 2017), no qual pautas morais precedem o discurso político-econômico; o discurso liberal na economia não foi acionado pelos candidatos.

Por fim, apesar de apresentar resultados parciais, destacamos a importância de estudar o passado recente para compreender o bolsonarismo como um fenômeno atual e seus elementos ideológicos-discursivos. Nesse sentido, é crucial que o campo da Comunicação una esforços com outras áreas interdisciplinares para investigar esse movimento. Essa pesquisa serve como um ponto de partida, ressaltando a necessidade de repensar e aperfeiçoar a metodologia, bem como de conduzir estudos contínuos para uma compreensão mais completa e profunda sobre a temática.


REFERÊNCIAS

AGGIO, Camilo de Oliveira; CASTRO, Filipe. “Meu partido é o povo”: Uma proposta teórico-metodológica para o estudo do populismo como fórmula de comunicação política seguida de estudo de caso do perfil de Jair Bolsonaro no Twitter. Comunicação & Sociedade, São Paulo, v. 42, n. 2, p. 429-465, 2020.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

CARLOMAGNO, Márcio C.; ROCHA, Leonardo Caetano da. Como criar e classificar categorias para fazer análise de conteúdo: uma questão metodológica. Revista Eletrônica de Ciência Política, Florianópolis, v. 7, n. 1, p. 300-327, 2016.

MESSENBERG, Débora. A direita que saiu do armário: a cosmovisão dos formadores de opinião dos manifestantes de direita brasileiros. Sociedade e Estado, vol. 32, p. 621-648, 2017.

SAMPAIO, Rafael Cardoso; LYCARIÃO, Diógenes. Análise de conteúdo categorial: manual de aplicação. Brasília, DF: Enap, 2021.

SOLANO, E.; ORTELLADO, P.; MORETTO, M. Guerras culturais e populismo antipetista nas manifestações de apoio à Lava Jato e contra a reforma da previdência. Em Debate, vol. 10, 2019.