Um monitoramento dos Trending Topics do Twitter do dia 4 de dezembro de 2019

Rangel Ramos

Para Rizzotto, Saraiva e Nascimento (2019), o avanço do ativismo digital proporcionou novos ambientes de atuações para as lutas sociais. Nesse contexto, o Twitter tornou-se o centro do “ativismo de hashtag”, que segundo as autoras, é “derivado do ciberativismo” e acontece quando inúmeras postagens, agrupadas pela mesma hashtag, apresentam alguma reivindicação social ou política.

Ao analisar a hashtag #EleNão, Rizzotto, Saraiva e Nascimento (2019, p. 5) dizem que “o Twitter foi utilizado antes como forma de convocação às ruas e durante como forma de apoio a elas, ou seja, para além do seu uso informativo, os ativistas utilizam a rede como registro de sua participação – e, portanto, de pertencimento – em uma ação coletiva de tal magnitude”.

Em uma observação da ação coletiva tangenciada pelas mídias digitais, Bennett e Segerberg (2012), relatam que uma pesquisa realizada com manifestantes do 15M, na Espanha, mostrou que a relação entre indivíduos e organizações agora é diferente da vista em movimentos mais convencionais.

Segundo os autores, apenas 38% dos entrevistados se envolveu no protesto por meio do espaço físico das organizações, assim como apenas 13% dessas organizações ofereceram qualquer possibilidade de associação ou afiliação, e, por fim, a média de idade das organizações em protestos passados que variava entre 10 e 40 anos, no 15M, não passou da média de 3 anos de existência.

Bennett e Segerberg (2012) também apresentam dois padrões que caracterizam a ação coletiva em redes digitais: o primeiro está nos bastidores das organizações, que aumentam sua rede de engajamento usando mídia digital para personalizar temas de ação e favorecendo que os cidadãos espalhem tais temas por suas redes pessoais. O segundo padrão, segundo os autores, também foi visto nos protestos do Occupy nos EUA, e é a utilização das plataformas digitais para coordenar as ações que atingem pessoas em áreas geograficamente distantes, contribuindo em decisões, planos e ações importantes, que antes estavam potencialmente isoladas.

No contexto das redes digitais, as queixas políticas conseguem se espalhar de forma mais rápida e personalizada pelo mundo. Bennett e Segerberg (2012), reforçam que a ação coletiva moldada pelas mídias digitais pode ser exemplificada pelo meme “Somos 99%”, que viajou para vários países através de histórias pessoais e imagens compartilhadas em redes sociais como Tumblr, Twitter e Facebook.

Burns e Burgess (2011, p. 3) salientam que o Trending Topics foi apropriado com diferentes fins pelos usuários da plataforma, principalmente, devido a “ausência de regulamentação em seu uso — não há limite ou sistema de classificação para hashtags do Twitter”. Os autores também compreendem o Twitter como um espaço para discussão pública, como um fragmento da esfera pública composta por outras partes. Para eles, as características do Twitter permitem que as “comunidades de hashtags” se destaquem como uma ferramenta que responde rapidamente aos eventos pontuais em alta no dia.

As hashtags funcionam como arenas de disputa online, como um espaço aberto ao público em que controvérsias como ideologia de gênero, aborto, religião na política, presença das mulheres em lugares de poder, debate ideológico nas escolas, etc. Podem ser retomadas por ativistas políticos, tuiteiros comuns, instituições, celebridades do mundo virtual, entre outros, quase sempre na tentativa de provocar o que Kies (2016) chama de deliberação online ou web-deliberação.

Mas, ao observar o Trending Topics (TT’s) do Twitter é possível identificar certas articulações orquestradas para que determinadas hashtags tenham maior proeminência no ranking, dando assim, maior visibilidade para grupos que buscam por apoiar o governo e negativar a oposição, ou vice-versa.

Figura 1 – Fluxo de ranqueamento de TT’s do Twitter

Fonte: autor (2020).