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Os pesquisadores Nayra Gazafi e Emerson Cervi analisam os padrões de investimento em comunicação de candidatas e candidatos ao cargo de vereador nas eleições municipais brasileiras de 2024. A pesquisa parte da hipótese de que a comunicação política funciona como capital simbólico e estratégico, cuja distribuição desigual reflete e reforça assimetrias estruturais de gênero no campo eleitoral.
O ponto de partida do estudo é o reconhecimento de que o financiamento de campanha é um dos principais fatores explicativos do sucesso eleitoral. Pesquisas como as de Speck e Mancuso (2012), Lima (2014) e Silva e Silva (2014) demonstram que o volume de recursos arrecadado e investido se associa ao desempenho nas urnas, embora essa relação varie conforme o perfil da candidatura, o cargo disputado e o contexto territorial. Os autores defendem, no entanto, que observar apenas o montante arrecadado é insuficiente: é preciso compreender como os recursos são alocados e quais estratégias são priorizadas.
Inspirados por estudos que associam desempenho eleitoral à visibilidade e à profissionalização das campanhas (Speck & Cervi, 2013; Cervi, 2023), a pesquisa centra-se nos percentuais de investimento em comunicação tradicional (como impressos, jingles, comícios, rádio e TV) e online (como redes sociais e páginas na internet), comparando candidaturas femininas e masculinas, eleitas e não eleitas. A comunicação, aqui, é tratada como forma de capital político, cuja conversão em votos está condicionada a fatores como acesso à mídia, familiaridade com o eleitor e recursos disponíveis.
A base de dados utilizada foi extraída do repositório de prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e contempla 415.213 candidaturas ao cargo de vereador em todo o Brasil. Para garantir maior comparabilidade, foram considerados apenas os candidatos e candidatas que chegaram ao final do processo eleitoral, com candidaturas regulares. Os dados foram organizados por região e por gênero, permitindo uma análise tanto agregada quanto territorializada.
Na etapa descritiva, os dados revelam que os homens eleitos foram os que mais concentraram recursos em comunicação, com uma média de 53,62% do total de seus gastos, seguidos por mulheres eleitas (49,33%), homens não eleitos (33,52%) e mulheres não eleitas (26,42%). Quando se observa a comunicação tradicional isoladamente, nota-se que sua presença é significativamente maior entre as candidaturas vitoriosas. No Nordeste, por exemplo, mulheres eleitas destinaram 60,69% dos recursos à comunicação tradicional, enquanto as não eleitas destinaram 36,21%. Padrão semelhante foi observado entre os homens: 64,07% dos eleitos contra 41,27% dos não eleitos.

Esse padrão indica que, embora a digitalização tenha ampliado as possibilidades comunicacionais, a comunicação tradicional permanece como o principal canal de visibilidade e mobilização para campanhas vitoriosas. Em contextos locais, como as eleições para o legislativo municipal, o contato direto e os meios físicos de divulgação ainda exercem papel central na construção da presença pública e no engajamento do eleitorado.
Os primeiros achados desta pesquisa reforçam a importância de compreender a comunicação como recurso estratégico condicionado por desigualdades estruturais. Ainda que as mulheres representem cerca de 35% das candidaturas, suas campanhas tendem a operar com menor volume proporcional de recursos voltados à comunicação, o que pode indicar tanto menor acesso aos mecanismos de financiamento quanto menor apoio institucional. Nas próximas etapas da pesquisa, os autores pretendem aprofundar a análise sobre o papel das estratégias comunicacionais na competitividade das candidaturas, contribuindo para o debate sobre gênero, financiamento e representação política no Brasil.
Referências
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