Entre as eleitas para a Câmara Municipal da capital paranaense em 2020, quem atuou de maneira mais intensa no Twitter?
Sabe-se que as mulheres são sub-representadas no universo da política e que esse é um cenário generalizado, relacionado a diferentes esferas de poder e a vários lugares do mundo (NORRIS E INGLEHART, 2001, 2005; MIGUEL E BIROLI, 2010; CHILDS E LOVENDUSKI, 2013; PANKE E IASULAITIS, 2016; PAXTON, HUGHES E BARNES, 2020). É certo que, nas últimas décadas, a presença feminina nos espaços de tomada de decisão cresceu (MASSUCHIN, MARQUES E MITOZO, 2020), mas elas ainda são minorias nos parlamentos ao redor do globo (ONU MULHERES E UNIÃO INTERPARLAMENTAR, 2020) e ainda enfrentam barreiras estruturais, institucionais e culturais para ascender no campo político (NORRIS E INGLEHART, 2005).
Em um contexto eleitoral, as candidatas femininas precisam enfrentar o impacto dos estereótipos de gênero na escolha do eleitorado (MASSUCHIN, MARQUES E MITOZO, 2020), a desigualdade na representação midiática – que costuma ser mais favorável a seus colegas homens (MIGUEL E BIROLI, 2011; SARMENTO, 2018) – e a invisibilidade, já que elas, normalmente, têm menos tempo de televisão para veiculação de propaganda política do que os postulantes masculinos (CARVALHO, KNIESS E FONTES, 2016).
Frente a essa disparidade, plataformas como o Twitter assumem importância para a campanha de muitas candidatas, que podem interagir de maneira direta com seu público e apresentar suas propostas de forma rápida e menos custosa (MASSUCHIN, MARQUES E MITOZO, 2020). Por isso, este texto foca em eleições, redes sociais on-line e presença feminina na política, trazendo dados sobre o uso do Twitter por mulheres que concorreram e foram eleitas para a Câmara Municipal de Curitiba durante o pleito de 2020. O objetivo é compreender se há alguma relação entre a intensidade de uso da plataforma on-line – medida pelo número de tweets publicados – e a quantidade de votos recebidos por cada uma das vereadoras. Com ajuda do pacote TwitteR para o ambiente de programação R, foram coletadas as postagens de seis das sete representantes eleitas. O quadro 1 mostra a relação de vereadoras estudadas.
Quadro 1 – Vereadoras eleitas para a Câmara Municipal de Curitiba em 2020
As mulheres representam 18,4% dos 38 vereadores eleitos na capital paranaense. Indiara Barbosa, do partido Novo, foi a representante mais votada entre todos os candidatos – homens e mulheres. De todas as eleitas, apenas a conta de Flávia Francischini (PSL) não foi encontrada. O gráfico 1, abaixo, mostra o número de postagens feita por cada uma das vereadoras com conta no Twitter, considerando as duas primeiras semanas de novembro de 2020, que representam a reta final da campanha eleitoral, já que o primeiro turno do pleito foi realizado no dia 15 do mesmo mês.
Gráfico 1 – Número de tweets publicados pelas candidatas entre 1 e 15 de novembro de 2020
A ordem de publicações segue, de fato, a relação de vereadoras mais votadas, com uma exceção: Indiara Barbosa (NOVO), representante que encabeça o ranking de votos, mas que está em última posição em relação às postagens no Twitter, tendo feito apenas 20 entre 1 e 15 de novembro. A candidata que publicou mais tweets no período foi Carol Dartora (PT), segunda mulher mais votada de Curitiba. Amália Tortato (NOVO), com pouco mais de três mil votos, tuitou 35 vezes nas duas semanas que antecederam o primeiro turno da eleição – 15 publicações a mais do que Barbosa.
Os dados apresentados não são suficientes para comprovar ou descartar a importância do Twitter no cenário eleitoral aqui exposto. Porém, a forma com que a intensidade de uso acompanhou a quantidade de votos – salvo exceções – pode sugerir que a plataforma tem certa relevância na campanha de postulantes que, conforme aponta a literatura (NORRIS E INGLEHART, 2005; MIGUEL E BIROLI, 2010; PANKE E IASULAITIS, 2016; MASSUCHIN, MARQUES E MITOZO, 2020; PAXTON, HUGHES E BARNES, 2020), estão em desvantagem na corrida por postos de poder, como é o caso das mulheres. Pode-se investigar com mais profundidade qual é o papel que o site de rede social assume nesses contextos e se, de fato, ajuda a aproximar candidatas de um público segmentado e disposto a se engajar sob a bandeira do gênero.
Referências
CARVALHO, F. C.; KNIESS, A. B.; FONTES, G. S. Representação feminina na propaganda eleitoral partidária no Brasil: as candidatas a Deputada Federal pelo Paraná na TV. Estudos em Comunicação, v. 1, p. 231-246, 2018.
CHILDS, S.; LOVENDUSKI, J. Political Representation. Oxford Handbooks Online, 2013.
MASSUCHIN, M; MARQUES, J; MITOZO, I. Marketing Women Political Leaders. In: Ross, K. International Encyclopedia of Gender, Media, and Communication. Wiley, 2020.
MIGUEL, L. F.; BIROLI, F. Práticas de gênero e carreiras políticas: vertentes explicativas. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 18, n. 3, p. 653, set. 2010.
MIGUEL, L. F.; BIROLI, F. Caleidoscópio convexo: mulheres, política e mídia. São Paulo: Editora Unesp, 2011.
NORRIS, P.; INGLEHART, R. Women as Political Leaders Worldwide: Cultural Barriers and Opportunities. IN: THOMAS, S.; WILCOX, C. (Eds.). Women and Elective Office: Past, Present, and Future. Nova Iorque: Oxford University Press, 2005. pp. 244-63.
ONU MULHERES E UNIÃO INTERPARLAMENTAR. Women in Politics 2020. Disponível em: https://www.unwomen.org/en/digital-library/publications/2020/03/women-in-politics-map-2020. Acesso em: 3 jan. 2021.
PANKE, L.; IASULAITIS, S. Mulheres no poder: aspectos sobre o discurso feminino nas campanhas eleitorais. Opinião Pública, v. 22, p. 385-417, 2016.
PAXTON, P.; HUGHES, M. M.; BARNES, T. Women, Politics and Power: A Global Perspective. Laham: Rowman & Littlefield, 2020.
SARMENTO, R. Estudos feministas de mídia e política: uma visão geral. BIB-Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, n. 87, p. 181-202, 2018.