Comentários nas fanpages de Greca, Fruet e Leprevost durante a campanha eleitoral de 2016.
(Post de 05/05/2017 migrado do antigo site do CPOP)
Nos últimos anos, a internet tem se tornado essencial para as campanhas políticas. Os candidatos a cargos públicos têm investido na criação de sites e páginas nas principais redes sociais. Nos Estados Unidos, a campanha política online começou com Howard Dean, em 1994, e ganhou proeminência com Obama, nas eleições presidenciais de 2008. No Brasil, a primeira campanha que utilizou a internet foi a de 1998, ainda que de forma limitada devido ao pequeno número de eleitores com acesso à rede. Segundo Aggio e Reis (2013), as redes sociais são importantes para as campanhas eleitorais porque permitem que o conteúdo político atinja usuários que não estão diretamente ligados a uma fanpage de um partido político ou de um candidato. E, além disso, os internautas são vistos pelas equipes de comunicação não apenas como possíveis eleitores, mas também como potenciais militantes.
As pesquisas em Comunicação Política têm estudado não apenas os posts das páginas de candidatos e partidos políticos, mas também os comentários dos internautas, a fim de analisar os debates que ocorrem entre os eleitores através da comunicação online. Aqui exploramos os comentários nas páginas do Facebook dos três principais candidatos à prefeitura de Curitiba – Rafael Greca, Gustavo Fruet e Ney Leprevost – durante o período da campanha eleitoral de 2016. Apresentamos quais são os temas mais abordados pelos usuários da rede que comentaram nas páginas desses candidatos.
O gráfico acima apresenta os comentários, separados pelos principais temas, nas páginas de Gustavo Fruet (PDT), Rafael Greca (PMN) e Ney Leprevost (PSD), durante o período da campanha eleitoral de 2016. Percebe-se que a fanpage de Rafael Greca, que foi eleito prefeito de Curitiba, foi a que mais recebeu comentários. A página de Gustavo Fruet, então candidato à reeleição, ficou em segundo lugar e a página de Ney Leprevost tem o menor número de comentários.
A tabela acima apresenta o número de comentários absolutos separados pelos principais temas. Percebe-se que no caso da fanpage de Gustavo Fruet, os temas mais abordados foram gestão e infraestrutura. O tema “gestão” pode ter ficado em primeiro lugar porque Fruet ocupava o cargo de prefeito e, portanto, era responsável pela gestão da cidade. No caso da página de Rafael Greca, os temas mais abordados também foram gestão e infraestrutura. Entretanto, ao contrário do que ocorreu na fanpage de Fruet, o tema “infraestrutura” ficou em primeiro lugar. A campanha política de Greca utilizou o slogan “Volta Curitiba” para criticar a administração de Fruet e enfatizar as políticas de sua gestão anterior na prefeitura da cidade. A proeminência dos temas gestão e infraestrutura nos comentários do Facebook não significa que esses temas eram vistos como mais importantes pelos eleitores de Curitiba. Como uma grande parcela do eleitorado não participa dos debates online, os comentários aqui estudados não representam o comportamento político dos curitibanos.
A fanpage de Ney Leprevost, por sua vez, é a que menos apresenta comentários abordando os temas observados. São 2095 comentários, contra 8902 de Rafael Greca, e 8795 de Gustavo Fruet. É importante observar que mesmo tendo menor participação dos eleitores em sua página, Ney disputou o segundo turno da eleição com Rafael Greca, derrotando o então candidato à reeleição já no primeiro turno.
Na fanpage de Ney, os temas gestão e infraestrutura novamente aparecem em primeiro e segundo lugar. E “saúde” foi o terceiro tema mais tratado, que aparece em 15,5% dos comentários, contra 10,6% em Greca e 9,5% em Fruet. A campanha de Ney Leprevost discutiu bastante o tema da saúde, já que seu candidato à vice era o médico João Guilherme Moraes, filiado ao PSC, e que Ney possui um histórico de políticas públicas nessa área, como, por exemplo, a criação da linha de ônibus inter-hospitais.
O tema menos abordado pelos internautas foi “taxi/Uber”. Mesmo com as discussões off-line acerca da regulamentação do aplicativo e o posicionamento contrário dos taxistas sobre essa política pública, o tema não ganhou adesão dos comentaristas do Facebook.
É importante salientar que os temas abordados pelos usuários da rede não representam as postagens dos três candidatos e não demonstram que existiram debates entre os usuários. Ao estudarem a postura dos comentadores das páginas da Folha, do Estadão e do Globo no Facebook, durante a campanha eleitoral de 2014, Mitozo, Massuchin e Carvalho (2015), afirmam que em todos os três jornais predominam os comentários monológicos, ou seja, os comentaristas apenas conversam sozinhos expondo suas opiniões sem interagir com os outros usuários. Portanto, os dados aqui apresentados apenas mostram os temas abordados pelos internautas. As postagens dos candidatos poderiam estar discutindo outros assuntos quando os usuários da rede citavam esses temas. Além disso, não podemos afirmar a valência desses comentários, que podem consistir em críticas, elogios ou comentários neutros.
Referências Bibliográficas:
AGGIO, C.; REIS, L. Campanha eleitoral no Facebook: usos, configurações e o papel atribuído a esse site por três candidatos eleitos nas eleições municipais de 2012. Revista Compolítica, n.3, v.2, 2013.
Mitozo, I. B.; Massuchin, M. G.; Carvalho, F. C. Características do debate político-eleitoral no Facebook: os comentários do público em posts jornalísticos nas eleições presidenciais de 2014. VI Congresso Compolítica, Rio de Janeiro, 2015.