é possível antecipar algo a respeito de 2018?

Emerson U. Cervi

ecervi7@gmail.com

(Post de 06/02/2017 migrado do antigo site do CPOP)

No Brasil, as eleições municipais funcionam como eleições de “meio termo”, ou seja, aquelas que ajudam a organizar as disputas nacionais e regionais que acontecerão dois anos depois (Fleisher, 2002). A associação tende a ser mais direta entre eleições municipais e organização dos partidos para as disputas regionais, para as coligações aos governos de Estado, representação no Senado, Câmara de Deputados e assembleias legislativas estaduais. A organização partidária para a eleição à presidência segue uma lógica própria. Tanto assim que a proposta de verticalização das campanhas, apresentada no final dos anos 1990, não prosperou no País. Cada Estado tem uma lógica e interesses das elites políticas locais próprias. É a partir desses interesses que os partidos se articulam em coligações regionais (Braga & Speck, 2014). Em alguma medida essas coligações tendem a replicar as relações bem-sucedidas entre os partidos na eleição municipal anterior.

Como se espera alguma continuidade das coligações bem-sucedidas em 2016 para as disputas de 2018, vale a pena verificar como foram os resultados das escolhas dos partidos nas disputas para prefeituras dos 399 municípios do Paraná no ano passado. O quadro a seguir indica os coeficientes de associação entre os partidos políticos no Paraná nas eleições para prefeitos municipais. Ele está dividido em duas partes. Da perpendicular para a parte superior estão os coeficientes de associação para todas as 1,1 mil coligações apresentadas em 2016. Da linha perpendicular para baixo encontram-se as associações para os 399 perfeitos eleitos – a maior parte deles em coligações. As cores indicam intensidade e direção das associações. Os tons de azul mostram associações positivas. Azul escuro é associação positiva mais forte. A cor amarela é associação negativa, ou seja, os dois partidos tenderam a não se coligar. E a cor vermelha e associação negativa mais forte. A cor bege indica coeficiente muito baixo, não significativo do ponto de vista estatístico.

Existem duas formas de leitura dos resultados. Pode ser por partido, acompanhando a linha e a coluna em que ele aparece. Por exemplo, o PMDB, partido que participou do maio número de coligações para prefeito do Paraná em 2016. Se olharmos a linha do PMDB teremos as associações dele com os demais partidos para todas as candidaturas. Perceba que a única coligação forte é entre PMDB e PDT. Se olharmos a coluna do PMDB, teremos as coligações com os demais partidos apenas para os eleitos. Perceba que não há nenhuma associação forte, porém, PDT continua tendo o maior índice de associação com PMDB, entre candidaturas bem-sucedidas. Outra maneira é analisar por tipo de resultado. Perceba que o número de casas azul escuras na parte inferior (apenas para os eleitos) é menor que o da outra metade da tabela. Isso indica que há muitas associações fortes entre pares de partidos que não se coligam entre os eleitos. Por exemplo, vejamos as cores que indicam associações negativas. Entre todos os candidatos existe associação negativa fraca entre PT, PSB e SD, ou seja, esses três partidos tenderam a não se coligar. E apenas uma associação negativa forte, entre PT e PSDB, indicando que esses dois partidos tenderam a não aparecer em coligações para prefeito no Paraná em 2016. Os mesmos desempenhos negativos se repetem entre os eleitos.

Vejamos, agora, como alguns partidos que devem estar coligados em 2018 se comportaram em coligações vitoriosas em 2016, começando pelo partido que está no governo, o PSDB. Dentre as candidaturas vitoriosas de que participou o PSDB, as associações mais fortes são com PSD, PP, DEM, PTB, PSB e PR. Curiosamente, o PSC, partido que também faz parte do governo apresentou associação mais fraca. Considerando essas forças locais, qualquer candidato de um desses partidos tenderia a ser apoiado pelos demais, pois já foram mais vitoriosos em 2016.

Do outro lado está o PDT, partido considerada a principal força regional para apresentar candidato de oposição ao atual governo. Nesse caso, os partidos com os quais ele obteve os melhores resultados foram mais ecléticos. Nenhum resultado positivo forte. Mas os positivos fracos foram com PT, PMDB, PSDB, DEM, PTB, PT, PPS, PSC, PV e SD. Quer dizer, ainda que com intensidade moderada, o PDT tem um leque bastante amplo de possibilidades de coligações em 2018, se considerarmos as associações bem sucedidas para prefeito em 2016. Outras duas forças políticas do Estado, o PMDB apresenta resultados positivos com menos partidos e o PT, com um número menor ainda.

Em resumo, no que depender das coligações para prefeitos eleitos em 2016, as relações entre partidos para 2018 estariam se organizando em torno de PSDB/PSD de um lado e PDT/PMDB de outro, com a diferença de que o PDT está mais próximo dos partidos com associação ao PSDB do que o contrário. Agora é esperar para ver como os resultados das organizações partidárias e suas coligações bem-sucedidas nas eleições municipais impactam nas decisões para a disputa ao governo do Paraná em 2018.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FLEISHER, David. As eleições municipais no Brasil: uma análise comparativa (1982-2000). Revista Opinião Pública, Campinas. n 1. 2002 (p. 80 a 105).

BRAGA, Maria do Socorro S. e SPECK, Bruno. Organização partidária e carreiras políticas no nível local. Paper, Congresso Brasa, 2014.