O facebook da Folha de S. Paulo nas eleições de 2014.

Bruno W Nichols

bru.nichols@gmail.com

(Post de 06/02/2017 migrado do antigo site do CPOP)

O post visa realizar uma análise comparativa entre as principais estratégias argumentativas utilizadas pelos comentadores do jornal Folha de S. Paulo em sua página no Facebook. A escolha por essa rede e esse jornal estão baseadas na popularidade das mesmas: segundo dados da última pesquisa brasileira de mídia, 63% dos brasileiros costumam utilizar a internet como o principal meio para obter informações sobre o que acontece no país e, nesse sentido, o Facebook é a rede mais utilizada por 83% dos brasileiros que estão conectados à internet. Por sua vez, a Folha de S. Paulo é o jornal de veiculação nacional com o maior número de “curtidas” no Facebook, sendo seguido por quase seis milhões de usuários.  

A metodologia utilizada consiste na análise de conteúdo aplicada aos comentários obtidos pelo aplicativo Netvizz. A técnica de análise de conteúdo implica na realização de três etapas quanto ao tratamento dos dados. Segundo Alonso, Volkens e Goméz (2012), tais passos estão relacionados à definição do material a ser trabalhado, bem como na decomposição dos textos em unidades de análise e na codificação e quantificação dos dados. Vale lembrar que, após a raspagem dos comentários, os dados foram codificados segundo o livro de códigos do CPOP-UFPR para comentários em páginas de Facebook. Por fim, os dados foram trabalhados pelo software IBM-SPSS, ao qual nos permitiu o acesso aos resultados quantificados.

Porém, esse estudo não está considerando todos os dados obtidos pela raspagem. Sendo assim, o recorte temático estabelecido corresponde a todos os comentários das categorias “radicalização” e “persuasão”, ambas presentes na variável “Reflexividade”, estabelecida pelo CPOP-2014. Tal variável foi desenvolvida por Jensen (2003) ao buscar entender como se deu o debate sobre temas políticos nos portais “dk.politik” e “dk.politic”.

Originalmente, o autor concebeu a essa variável o nome de “Reciprocidade”. Tal variável está embasada nos princípios de reciprocidade estabelecidos por Gutman e Thompson (1996). Segundo os autores, a base da reciprocidade consiste na capacidade que os indivíduos possuem para buscar condições de cooperação em busca de benefício mútuo. Assim, a variável criada por Jensen (2003) continha as seguintes categorias: persuasão, quando há sinais claros de que um comentador foi persuadido por uma postagem ou outro comentário; progresso, quando há trocas de comentários entre os participantes, devendo trazer novos argumentos e informações ao debate e, por último, a radicalização consiste na reação negativa de um comentário em relação ao outro, ao qual implica em ofender um comentário e/ou a pessoa que o fez.

A título de esclarecimento, todos os comentários citaram, nominalmente ou através de apelidos, os candidatos Aécio Neves (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e os candidatos Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (PSB). A análise compreende os comentários realizados durante toda a eleição presidencial em 2014, dos dias 05 de julho à 29 de outubro de 2014. Por fim, o total válido para essa pesquisa corresponde somente aos dados categorizados em persuasão, progresso e radicalização, não considerando, assim, os comentários que escaparam a esses padrões. Para fins comparativos, durante o primeiro turno foram coletados 156.465 comentários que citam os candidatos e, no segundo turno, este número chegou aos 260.963. Desta forma, a tabela a seguir indica a dinâmica da reflexividade no primeiro turno da eleição presidencial:

Os dados contidos na tabela acima nos permitem algumas conclusões. A primeira delas está ligada ao fato de que os comentários persuasivos, progressivos e radicalizados corresponderam, no primeiro turno, cerca de 50% de todos os comentários que citaram nominalmente os candidatos citados. Outra conclusão é de que ‘persuasão’ foi a estratégia argumentativa mais utilizada pelos comentários, representando 42% do total analisado para esta variável. Por sua vez, ‘radicalização’ ficou em segundo lugar, com quase a mesma porcentagem obtida por ‘persuasão’, com 40%. Por fim, ‘progresso’ foi a estratégia menos utilizada, com apenas 17%. Estes foram os dados relacionados ao primeiro turno. Para fins comparativos, a tabela sobre o segundo turno nos permite outras conclusões:

Percebe-se que no segundo turno houve modificações quanto a intensidade dos comentários. Se no primeiro turno era possível notar certo equilíbrio entre ‘persuasão’ e ‘radicalização’, agora percebe-se o contrário: há um domínio expressivo da primeira categoria, obtendo 73% do total para essa variável, enquanto ‘radicalização’ apresenta declínio significativo, com apenas 18%. A categoria ‘progresso’ também apresenta uma diminuição, consistindo em 8% do total analisado. Percebe-se, também, que o montante dessas três categorias consiste em 35% de todos os comentários que citaram um ou mais candidatos frente aos 50% no primeiro turno – vale lembrar que esta pesquisa não considerou a categoria ‘outro’, desta forma, é possível pensar num aumento desta outra categoria durante turno e returno. Por fim, nota-se, também, o aumento da ‘persuasão’ face a diminuição das outras categorias ao longo do tempo. 

REFERÊNCIAS:

ALONSO, Sonia; VOLKENS, Andrea; GÓMEZ, Braulio. Análisis de contenido de textos políticos. Un enfoque cuantitativo. Madrid: Colección Cuadernos Metodológicos, 2012.

GUTMAN, Amy.; THOMPSON, Dennis; Democracy and Disagreement. Cambridge, 1996.

JENSEN, Jacob. Public Spheres on the internet: anarchic or Government-sponsored – a comparison. Scandinavan Political Studies, v. 26, n. 4, p. 349-374, 2003.

Pesquisa Brasileira de mídia 2015: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Brasília, 2015. Disponível em: <http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf>. Acesso em 01 fev. 2017

Pesquisa Brasileira de mídia 2016: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Brasília, 2016. Disponível em: <http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2016.pdf/view>. Acesso em 01 fev. 2017