Um monitoramento das expressões relacionadas à fala nos trending topics

Mariana Soares e Naiara S. de A. Alcantara

No dia 17 de maio de 2021, o Presidente do Brasil, Jair M. Bolsonaro, voltou a minimizar os danos causados pela pandemia de Covid-19, ao chamar de idiotas todas as pessoas que permanecem em casa, cumprindo a quarentena solicitada pelo órgãos de saúde como medida preventiva a contaminação. 

A fala na íntegra do presidente encontra-se no canal Brasil em foco como resposta à seguinte pergunta, feita por um apoiador: “Presidente, o que o senhor achou das manifestações de sábado?”. A questão fez alusão a duas manifestações que ocorreram no dia 15, a primeira nomeada como “Marcha da Família Cristã pela Liberdade” e a segunda organizada pelo Movimento Brasil Verde e Amarelo. Ambas as manifestações possuíam em comum o apoio aos atos presidenciais, bem como posicionamentos contrários ao isolamento social e o cumprimento da quarentena pelos setores que giram a economia do país. A resposta do presidente foi a seguinte: “O agro realmente não parou, tem uns idiotas por aí, o ‘fiquem em casa’, tem alguns idiotas que até hoje ficam em casa, se o campo tivesse ficado em casa [se referindo aos produtores agrícolas], esse idiota tinha morrido de fome.” 

 Desde o início de 2020, após constatado que a COVID-19 é uma doença infectocontagiosa e de fácil transmissão, os órgãos de saúde passaram a aconselhar a adoção de medidas preventivas, quais sejam: fechamento de fronteiras, isolamento social, orientações quanto à higienização corporal, especialmente das mãos e rosto, desinfecção de superfícies diversas e o impreterível uso de máscaras cobrindo toda a superfície da boca e nariz (SOARES ET AL., 2021) 

Em razão do pouco conhecimento médico acerca do SARS-CoV-2, ainda não há tratamento específico para a doença, salvo as medidas citadas, como isolamento social e higienização. Logo, os indivíduos contaminados podem ser assintomáticos, não apresentando nenhum sintoma como resposta à doença ou então apresentar sintomas diversos, alguns já descritos pela literatura (SOARES ET AL., 2021) e outros que ainda não são conhecidos. Sabe-se que, em casos de agravamento da doença, os indivíduos devem ser atendidos em Unidades de Terapia Intensiva, muitas vezes passando por procedimentos de intubação. Portanto, a utilização de medidas preventivas à contaminação serão eficientes ao passo que diminuem a taxa de contágio, permitindo, dessa forma, que o sistema de saúde seja capaz de atender, medicamentosamente e através de aparelhos e suprimentos necessários, a demanda. 

Informações dissonantes das apresentadas pelos órgãos de saúde, de acordo com Barros e Matias (2020), apenas contribuem para a disseminação da doença e, consequentemente, para a morte, em função da alta letalidade do COVID-19. Partindo dessa hipótese de pesquisa, os autores analisaram discursos oficiais do Presidente da República sobre a Covid, e a partir de análises empíricas demonstraram que as falas diferem ou são contrárias aos documentos oficiais emitidos pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS). 

A questão que se faz presente neste post não são os discursos presidenciais, mas, assim como outros estudos (PEREIRA, 2020), nos interessa a repercussão dessas falas através das mídias sociais. Por isso, nosso objeto de análise serão os trending topics no Twitter a partir do pronunciamento citado. Partimos da hipótese de que mesmo uma fala com curta duração de tempo pode ter ampla repercussão social, especialmente quando advém de um agente público de ampla visibilidade. Essa repercussão poderá ser identificada através da coleta dos termos mais acessados do Twitter.

Portanto, para analisar a repercussão da fala do presidente Jair Bolsonaro, utilizamos como meio de informação os trending topics da rede social. Nela, há os tópicos mais comentados por usuários do Twitter, seja por meio de uma hashtag ou por meio de um termo específico (classificados em ordem decrescente de repercussão). Foram coletados os 50 tópicos com maior repercussão a nível nacional no dia 17 de maio de 2021 em três horários ao longo do dia, quais sejam: 10h, 15h e 20h.

Os resultados da coleta podem ser observados na tabela 1, que contém alguns dos 50 assuntos mais comentados. Às 10h da manhã, antes da fala do presidente, como esperado, ainda não havia nenhuma menção ao fato. Às 15h, o termo idiota já figurava na 18o posição da lista, sendo o único termo nesse horário que fazia menção à fala do presidente. Cinco horas depois, às 20h, o termo idiota já havia caído 15 posições no ranking, indo para a 33a posição. À meia-noite do dia 18 de maio, o termo idiota ou qualquer outra menção ao referido fato não figuravam no ranking.

Tabela 1 – 50 tópicos mais comentados no Twitter Brasil nos dias 17/05/2021 (das 10h às 20h) e 18/05/2021 (00h)

Fonte: Autoras, com dados do Twitter.