Ninguém está livre dos Trolls da Internet, especialmente em tempos de eleições. Nesse artigo o pesquisador Rangel Ramos faz uma análise sobre a presença de Trolls nas hashtags bolsonaristas.

Na mitologia nórdica, os trolls são criaturas lendárias e sobrenaturais que fazem parte do folclore escandinavo. Os trolls são conhecidos por habitar montanhas, florestas e cavernas profundas, onde levam uma vida solitária e muitas vezes hostil.

Os trolls também são conhecidos por sua natureza maliciosa e inclinação para o caos. Eles são frequentemente retratados como seres impiedosos, capazes de praticar atos cruéis e violentos. 

Além disso, reza a lenda que quando os nórdicos foram enfim conquistados pelos cristãos, os trolls passaram a se camuflar em forma de rochas.

E agora você deve estar se perguntando o que isso tem a ver com os Trolls da Internet, ou até mesmo com a Comunicação Política? 

Bom, vamos lá.

Os Trolls da internet são pessoas que se envolvem em comportamentos provocativos, ofensivos e perturbadores. São indivíduos que buscam deliberadamente causar conflitos, disseminar discursos de ódio, fazer piadas de mau gosto ou simplesmente perturbar outras pessoas em fóruns online, redes sociais, comentários de blogs e outros espaços virtuais.

Os trolls da internet geralmente agem de forma anônima ou sob pseudônimos, aproveitando o anonimato proporcionado pela internet para evitar as consequências de suas ações. 

Eles podem criar contas falsas ou usar perfis temporários para espalhar mensagens perturbadoras ou difamatórias, muitas vezes com o objetivo de chocar, provocar reações emocionais ou simplesmente causar discórdia.

Ferrara (2022) classifica os perfis em cinco tipos, entre eles estão os Trolls:

  1. Contas promocionais (ou spammers): engloba qualquer conta criada na plataforma com a intenção deliberada de promover produtos ou serviços comerciais, com o objetivo de chamar a atenção de outros usuários (legítimos) para isso.
  2. Contas falsas: compreende qualquer conta que seja criada na plataforma com a intenção de ostentar a visibilidade ou aparência de influência de outras contas. Contas falsas são frequentemente vendidas como seguidores falsos; 
  3. Automatizadas: é uma conta controlada exclusiva ou predominantemente por software, ou seja, scripts de computador mais ou menos complexos que automatizam a atividade e o comportamento da conta com o objetivo de imitar, mais ou menos fielmente, a maneira como um usuário humano se comportaria na plataforma; 
  4. Contas comprometidas: esta categoria inclui contas que foram originalmente criadas por usuários legítimos, mas que foram hackeadas ou comprometidas e seu controle foi passado para outra pessoa.
  5. Contas maliciosas (ou trolls): esta categoria distingue contas de usuários com base em suas intenções. 

Para o autor, uma prática comum na literatura é considerar usuários mal-intencionados envolvidos em atividades inautênticas quando propositalmente iniciam ou seguem uma agenda, ou seja, propaganda política, campanhas conspiratórias, desinformação, operações de influência, atitudes tóxicas, etc., destinados a direcionar ou distorcer artificialmente uma conversa no Twitter e/ou enganar usuários legítimos nela envolvidos. 

Contas maliciosas são frequentemente envolvidas em campanhas que podem ser organizadas por governos estrangeiros patrocinados pelo estado, grupos de influência e, ocasionalmente, por lobos solitários. Eles também estão frequentemente envolvidos em atividades coordenadas realizadas em orquestração com muitas outras contas desse tipo. Contas maliciosas podem ser automatizadas, mas geralmente são controladas por operadores humanos, chamados de trolls da internet. 

E, para além do proposto por Ferrara (2022),  outro trabalho que fala sobre a ação dos Trolls é Elmas et al (2019), que identificaram um ataque ao TT’s promovido por contas falsas e comprometidas, que após a hashtag chegar ao ranking, apagavam os tuítes ou excluiram a conta permanentemente, o que eles chamaram de astroturfing efêmero e, também por Recuero, Zago e Bastos (2015) que ao analisarem os discursos na hashtag #ProtestosBR categorizam os principais atores como “pessoas”, “governo” e “mídia”.

Portanto, da observação exploratória em cada perfil presente nas hashtags bolsonaristas que alçaram o topo do Trending Topics do Twitter do período de 16 de agosto até 31 de outubro, se detectou se o perfil continha palavras de apoio explícito a Bolsonaro na descrição da biografia, se o teor das últimas postagens tinha posicionamento político, assim como, se havia algum símbolo patriótico na foto do perfil ou na capa, como bandeira do Brasil, emojis ou o número 22, pertencente a sigla do Partido Liberal (PL), do candidato a reeleição, Jair Messias Bolsonaro.

No gráfico é possível perceber a presença dos Trolls da Internet nas hashtags bolsonaristas.

Fonte: o pesquisador (2023).

No gráfico é possível observar que na grande maioria dos perfis atuantes nas hashtags bolsonaristas estão perfis que foram classificados como Trolls. Esses perfis trabalhavam dentro do ecossistema do Twitter para mobilizar seguidores e alavancar a hashtags até o Trending Topics.

No gráfico abaixo é possível perceber o potencial de mobilização gerado pelos Trolls, relacionando a quantidade de compartilhamento e seguidores nos perfis.

Fonte: o pesquisador (2023).

No gráfico é interessante observar que os Trolls, em sua maioria, não possuem muitos seguidores, porém, são muito barulhentos e atuantes nas hashtags. E, dessa forma, consegue orquestrar o algoritmo da plataforma a ponto de dar visibilidade à pauta proposta na hashtag.

Há uma preocupação em conter as ações dos Trolls da Internet e, a metodologia proposta pelo pesquisador Rangel Ramos, pode ser uma forma de identificar tais perfis e enquadrá-los na legislação. 


Referências

ELMAS, T; OVERDORF, R; ÖZKALAY, A; ABERER, K. Ephemeral Astroturfing Attacks: The Case of Fake Twitter Trends. Researchgate, 2019.

FERRARA, E. Twitter spam and false accounts prevalence, detection, and characterization: A survey. First Monday, 27(12), 2022.

RECUERO, R.; ZAGO, G.; BASTOS, M. O Discurso dos #ProtestosBR: análise de conteúdo do Twitter. Galáxia (PUCSP), São Paulo, v. 14, n. 28, p. 199-216, 2014.