O post de Felipe Schwarzer Paz discute o papel do HGPE nas eleições brasileiras. Destaca-se a menor abordagem de temas como direitos das mulheres e questões raciais, possivelmente para atrair um eleitorado amplo. O estudo propõe investigar se haverá uma presença mais proeminente do discurso racial nas eleições de 2022.

O horário gratuito de propaganda eleitoral (HGPE) é um artifício importante nas eleições majoritárias e proporcionais no Brasil, sendo uma forma tanto de o partido organizar uma forma de lista de candidatos de acordo com o aparecimento na propaganda, sendo um espaço em que o candidato pode se fazer conhecido ou reforçar sua mensagem, como também, sendo um espaço com menor intervenção da mídia, é o momento de veicular aquilo que o candidato ou partido acham mais relevante da forma que acharem mais relevante. Dessa forma, o horário eleitoral serve não apenas para conhecer o candidato, mas também pode ser um artifício interessante de análise de conjuntura, avaliando os temas que mais aparecem no discurso daqueles que montam os programas.

As falas, na maior parte dos casos, giram em torno da construção de imagem do candidato, sendo os temas abordados parte constitutiva dessa mesma identidade, sempre pensados de forma a atrair a maior quantidade de votos e afastar a menor quantidade de eleitores. Quando olhamos para o caso das candidatas mulheres a cargos majoritários em 2018, por exemplo, como explorado por Massuchin e Tavares (2022) temos em cerca de 50% do tempo, enquanto apenas 2,3% dos segmentos se dedicaram a discutir o direito das mulheres, sendo mais presente, ao invés disso, se ligando mais a temas como saúde e educação, gerando assim um estereótipo bastante comum da candidata qualificada porque, ‘antes de política, é mulher e mãe’, algo que se espera gerar empatia e atrair uma quantidade maior de votos ou ao menos tornar mais conhecida a candidata em questão. 

A questão que se coloca é: mas porque não debater mais o direito das mulheres nesse caso? O que podemos concluir, é que a pauta de direito feminino, ou não interessa ao eleitorado que está sendo mirado, ou gera uma imagem que pode afastar parte do eleitorado. Quando olhamos para o discurso racial temos o mesmo efeito e, portanto, a mesma hipótese, de que alguns candidatos evitam o discurso direto como parte de uma minoria ou como defensor dos direitos desta pois, fazendo isso, afastaria parte do eleitorado que deseja captar votos, sendo o exemplo clássico a eleição de Barack Obama para presidente. 

Porém, tal qual no discurso feminino se começa a ver alguma mudança na direção temática, sendo que em 2018 já se nota um tipo de discurso misto, havendo presença de falas sobre a economia em 12% dos segmentos e infraestrutura em 8% destes.

Esse realinhamento é reflexo, provavelmente, de mudanças na forma que se enxerga cada tema dentro da sociedade, de forma que se tenta romper com a ideia excessivamente ligada a candidaturas masculinas quando se trata de temáticas como estas. Esse realinhamento de temáticas pode ocorrer em outros casos a depender da conjuntura que se encontra. Por isso, quando olhamos para as eleições de 2022, numa conjuntura de reinterpretação da lei de cotas para mulheres, sendo expandidas para pessoas negras, e a contagem dupla de cada voto depositado nesses dois grupos quando para a contagem do fundo eleitoral, pode indicar não só uma maior presença destes grupos nas campanhas, mas um discurso mais proeminente sobre estes na propaganda eleitoral, seja presente de maneira direta, ou mobilizada por meio de estereótipos, visuais ou discursivos. Portanto, a pesquisa que se deseja explorar é justamente, será que nas eleições de 2022 temos uma presença mais proeminente do discurso racial, ou será que a imagem muito diretamente ligada a este grupo ainda gera demasiada animosidade e é evitada pelos candidatos? 

Quando olhamos, por exemplo, para as eleições proporcionais de 2018, temos que grande parte dos segmentos não apresenta tema específico (cerca de 60%), mas quando olhando para os demais segmentos que apresentam proposta temática, podemos ver que o tema minorias é mobilizado em apenas 5% (código 13) do total do horário eleitoral daquele ano, sendo mais citados, também, os temas relacionados à política institucional (7%) e temas relacionados à ética e moral (5%) tais como corrupção ou tradição e costumes. 

Outro dado é a não presença de menção à origem étnica em nenhuma propaganda. O que se espera é uma reversão deste quadro de 2022 em diante, havendo maior número de auto declarações raciais de forma discursiva diretamente ou por meio de símbolos na fala, vestimentas ou cenário.Gráfico


Referências:

Massuchin, M. G., & Tavares, C. Q.. (2022). Gênero na propaganda eleitoral: as candidatas dos pleitos majoritários de 2018 e o discurso protagonizado no Horário Gratuito Político Eleitoral (HGPE) . Revista Brasileira De Ciência Política, (39), e261713. https://doi.org/10.1590/0103-3352.2022.39.261713.

Amora, G. F. (2008). Raça e representação política: Uma análise das eleições para Deputado Federal no Distrito Federal, 2006 [Dissertação, Universidade de Brasília – UNB]. http://repositorio.unb.br/handle/10482/1201.