O uso das plataformas de mídias sociais como ferramenta de engajamento público é uma tendência global. Como este contexto tem impactado o modo de uso das redes sociais pelas câmaras municipais brasileiras? A pesquisadora Paula Andressa de Oliveira explora a presença das 100 maiores câmaras municipais no Facebook, Instagram, Youtube e TikTok, revelando disparidades e sugerindo a necessidade de regulamentação.
A utilização das redes sociais como ferramenta para comunicação e aproximação com a população é uma tendência mundial adotada pelas instituições governamentais, incluindo as câmaras municipais brasileiras e de outros países. A literatura tem se dedicado ao tema da digitalização dos parlamentos ao menos há duas décadas (MITOZO, 2018; BERNARDES, 2020), tendo em vista que os parlamentos reconhecem cada vez mais a importância das redes sociais como instrumento de divulgação de suas ações. Vale destacar que, apesar do crescente uso das redes sociais pelos legislativos, existem disparidades, sobretudo em nível municipal, no caso brasileiro (MITOZO et al., 2019). Enquanto algumas câmaras locais têm utilizado efetivamente as redes sociais como ferramenta de engajamento com a população, outras apresentam uso limitado ou inexistente dessas plataformas (OLIVEIRA, 2021).
Diante desse cenário, investigamos a comunicação pública e política dos legislativos brasileiros por meio do uso das redes sociais, com foco na atuação das câmaras dos 100 maiores municípios brasileiros, considerando o número total de habitantes. O mapeamento foi feito manualmente e levou em consideração quais câmaras estavam presentes no Facebook, Instagram, Youtube e TikTok durante uma semana, de 01 a 07 de abril de 2023, onde ainda foram observadas as atividades das câmaras em suas redes sociais, a fim de se obter informações sobre a presença, a frequência e o tipo de conteúdo publicado por cada uma delas.
Resultados: como as câmaras brasileiras se apropriam das redes digitais?
No contexto das Câmaras Municipais brasileiras, é possível observar que o Facebook ainda é uma das plataformas sociais mais populares e amplamente utilizadas entre as casas legislativas. Tal preferência pode ser atribuída a diversos fatores, como a facilidade de uso, a ampla inserção da rede na população brasileira e as funcionalidades disponíveis para divulgação de informações e interação com a comunidade (MITOZO et al., 2019). Abaixo tem-se os dados da presença de cada rede social entre as 100 cidades consideradas.
Observando-se a intensidade de uso, identifica-se que o Youtube é a rede social com o maior número de publicações pelas câmaras municipais no período considerado. Dentre essas, 1.079 são postagens na plataforma de vídeos distribuídos entre as 100 Câmaras. Em segundo lugar está o Facebook, com 1.057 publicações, seguido pelo Instagram, com 536 postagens. Esses dados indicam que os parlamentos locais têm utilizado principalmente o Youtube como meio de comunicação com o público, o que pode estar relacionado à capacidade de compartilhar vídeos e transmitir ao vivo as sessões (BERNARDES, 2020). Dentre os municípios que mais utilizam o YouTube, estão Caxias do Sul, São Paulo, Campinas, Vitória da Conquista e São José dos Campos.
Facebook: mais presente, mas com uso menos intenso
Observamos também a apropriação no Facebook. Os resultados do levantamento apontam que, nesta rede, a Câmara de Manaus foi a que mais publicou, incluindo cards, fotos, lives e vídeos. No entanto, a maior parte dessas publicações consistem em uma categoria considerada como apenas links, sem texto ou qualquer outro elemento. Foram 70 desses do total publicado. Esses resultados evidenciam a diversidade nas estratégias de uso do Facebook pelas câmaras municipais, com variações nas formas e frequências das publicações nas diferentes cidades (MAHMOOD, ZAKAR, 2018).
Ainda é crucial destacar que, embora as redes sociais tenham se tornado uma importante ferramenta de comunicação para as instituições políticas locais, nem todas as câmaras estão igualmente engajadas no uso. Muitas vezes, é possível encontrar páginas desatualizadas ou links inativos, o que pode prejudicar a transparência e a prestação de contas à população. Enquanto alguns estão desatualizados, outros não haviam publicado no período proposto. Essa falta de um fluxo pode ser reflexo da ausência de uma legislação específica ou de institucionalização da prática de comunicação digital que “regulamente” a presença das instituições políticas nas redes sociais, bem como da falta de capacitação e recursos para gerenciar as plataformas de modo adequado.
Instagram: foco nos jovens e no material visual
A importância do Instagram, visando a transparência, está na capacidade de alcançar um público que muitas vezes não acompanha os meios de comunicação tradicionalmente utilizados pelas instituições. A rede permite a divulgação de informações de forma mais visual, o que pode aumentar o engajamento e a participação da população nas atividades parlamentares (MITOZO et al., 2019). Exemplo disso é que entre as 100 câmaras observadas, apenas quatro não estão na plataforma: Petrolina, Campos dos Goytacazes, Canoas e São José do Rio Preto. Outro ponto a ser abordado diz respeito ao quantitativo de publicações entre aqueles presentes nesta plataforma. O levantamento identificou que Franca foi o parlamento municipal com maior quantitativo de posts na semana. Aqui o destaque fica por conta dos cards produzidos.
Tiktok: a rede que ainda é novidade nos legislativos
Por fim, apesar do aumento no uso nas plataformas mais conhecidas, é importante ressaltar que a apropriação é limitada e nem todas são amplamente utilizadas. É o caso do Tiktok. Por exemplo, apenas as Câmaras de São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus, Curitiba, João Pessoa e São José dos Pinhais estavam presentes no TikTok no período. E mesmo nessas câmaras, o uso é pouco explorado e limitado, em comparação com outras redes sociais. Foram 18 postagens no total somando essas seis casas legislativas. A maioria dos vídeos publicado pela Câmara de Curitiba, por exemplo, é representada por servidores explicando projetos de lei ou compartilhando curiosidades sobre o parlamento de forma dinâmica. Isso sugere que o TikTok, apesar de ainda pouco explorado, pode ser uma plataforma que atinge novos públicos e torna o conteúdo mais acessível.
Considerações
Os resultados obtidos revelaram que nem sempre as câmaras das maiores cidades são as que mais publicam. De modo específico, os dados indicam que o Youtube e o Facebook são as redes mais utilizadas pelas câmaras municipais verificadas neste recorte. Já o Instagram é menos expressivo, com menor quantidade de publicações. E o TikTok é praticamente irrisório. Percebeu-se, ainda, diferenças entre as casas legislativas e, com isso, foi identificada a necessidade de uma regulamentação que estabeleça diretrizes claras para o uso das redes pelas câmaras municipais, a fim de garantir um compromisso maior com a periodicidade na divulgação das atividades parlamentares.
Por fim, é importante destacar que futuros estudos podem explorar mais outras variáveis, seja o engajamento dos seguidores ou a percepção da população em relação ao uso das redes sociais pelas câmaras municipais, a fim de fornecer uma compreensão mais abrangente desse fenômeno. Isto é necessário porque ter uma presença consistente nas redes sociais, com muitas publicações, não é suficiente; é importante manter essas contas atualizadas com informações relevantes e úteis.
Referências
BERNARDES, C. B. Uso do Twitter para engajamento político. Compolítica, v. 10, n. 3, p. 5-48, 2020.
MAHMOOD, Q. K.; ZAKAR, R.; ZAKAR, M. Z. Papel do uso do Facebook na previsão do capital social de ligação e ligação de estudantes universitários paquistaneses. Revista do Comportamento Humano no Meio Social, v. 28, n. 7, pág. 856-873, 2018.
MITOZO; I., MASSUCHIN; M., OLIVEIRA; P. A. (2021). As ações digitais das câmaras municipais na pandemia de COVID-19: um estudo de caso de Belém, Curitiba, Goiânia, Salvador e São Paulo. In Anais do Simpósio Interdisciplinar Sobre o Sistema Político Brasileiro. I. Rio de Janeiro. p. 269-288.
OLIVEIRA, P. A. de. De Abatiá a Xambrê: uma análise sobre a atuação dos legislativos municipais paranaenses no Facebook. Dissertação (Mestrado em Comunicação), Curitiba, 2021.
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