Essa pesquisa produzida por Nayra Gazafi destaca a necessidade de investigar os gastos em comunicação nas campanhas eleitorais de mulheres negras comparadas às de mulheres brancas. Nos últimos anos, o Brasil enfrenta uma crise de representação política, com debates sobre a inclusão de grupos marginalizados. Apesar das mulheres representarem 51,5% da população, apenas 16% conquistaram cadeiras legislativas nas eleições de 2020. Mulheres negras, em particular, enfrentam “tríplice discriminação” e ocupam apenas 6% das cadeiras nas câmaras municipais.
Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado uma crise de representação política, refletindo desafios similares aos de outras democracias ao redor do mundo (SILVA; SECCHI; CAVALHEIRO, 2021). Este cenário tem suscitado reflexões sobre a identificação entre eleitores e candidatos, considerando a diversidade do eleitorado, e gerado debates sobre representatividade e estratégias para garantir que grupos historicamente marginalizados possam acessar espaços de poder de forma efetiva (RAIS; MAGARIAN, 2021).
A presença feminina na política tem se revelado um desafio significativo para a democracia contemporânea, estimulando discussões tanto nas esferas legislativas quanto no meio acadêmico. Quando se faz um recorte de gênero, observa-se que, embora as mulheres representem 51,5% da população brasileira, elas conquistaram apenas 16% das cadeiras legislativas nas eleições municipais de 2020. Este desafio está enraizado no histórico de exclusão das mulheres da esfera política desde os primórdios da democracia. No contexto brasileiro, particularidades como o autoritarismo do Estado Novo e posteriormente a ditadura militar influenciaram a luta feminina por direitos políticos (SOUSA, 2023).
O amadurecimento da democracia brasileira acabou por excluir as mulheres da participação política, resultando em debates contemporâneos sobre a necessidade de inclusão e representatividade feminina na política. É fundamental considerar também outra herança histórica brasileira: o regime de escravidão e sua contribuição para a formação de uma sociedade étnica e culturalmente diversificada, onde a população negra representa 56% dos brasileiros (IBGE, 2023). Gonzalez (2020) argumenta que essa questão se torna ainda mais complexa quando observada a intersecção entre gênero e raça, identificando um “processo de tríplice discriminação sofrido pela mulher negra (raça, classe e sexo)”.
Figura 1 ‒ Proporcionalidade de mulheres negras eleitas em 2020 em relação à população do município
Fonte: Ramos et al. (2022, p. 29). Elaborado com base em dados do IBGE (2010) e TSE (2020).
Das 16% de vereadoras eleitas em 2020, 5,42% são mulheres pardas e 0,85% mulheres pretas. De todas as cadeiras nas câmaras municipais do Brasil, apenas 6% são ocupadas por mulheres negras. “Não há um gênero ou uma raça naturalmente mais propensa ou apta a disputar eleições. Um desequilíbrio nessas proporções demonstra uma flagrante desigualdade de acesso à política institucional” (RAMOS et al.). Gonzalez (2020) defende que essa falta de espaço reflete uma tendência presente em outros setores da sociedade, como o mercado de trabalho. A autora enfatiza que, ao abordar a questão da representatividade, a mulher negra frequentemente é deixada de fora do discurso do movimento feminino no Brasil. Embora as relações de dominação sexual, social e econômica das mulheres sejam comumente discutidas nesse contexto, a opressão racial é muitas vezes ignorada.
Ao todo, são 3.184 municípios sem nenhuma representante negra na câmara dos vereadores. Diante da sub-representação de mulheres, especialmente de mulheres pretas e pardas nas câmaras de vereadores do país, é imprescindível questionar as causas desse resultado. Com base nesse cenário, a pesquisadora Nayra Gazafi propõe uma investigação para compreender como se dão os gastos em comunicação nas campanhas eleitorais ao legislativo municipal de mulheres negras em comparação com mulheres brancas, nas eleições de 2024, além de analisar o impacto desse investimento no sucesso dessas candidaturas.
Referências bibliográficas
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo 2022. Disponível em: https://censo2022.ibge.gov.br/. Acesso em 11 mar.2024.
RAMOS, Luciana de Oliveira et al. Cidades, raça e eleições: uma análise da representação negra no contexto brasileiro. São Paulo: FGV Direito, 2022. 52 p.
SILVA, Willian Quadros da; SECCHI, Leonardo; CAVALHEIRO, Ricardo Alves. Mandatos coletivos e compartilhados no Brasil: análise descritiva de inovações democráticas no Poder Legislativo. Revista Debates, p. 168-190, 2021. Trimestral.
RAIS, Diogo; MAGARIAN, Bárbara Rebeca Alves. Mandatos coletivos: entre a experiência e o vácuo legislativo. Revista Eletrônica de Direito Eleitoral e Sistema Político – Redesp, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 87-103, jan. 2021. Disponível em: https://bibliotecadigital.tse.jus.br/xmlui/handle/bdtse/8962. Acesso em: 27 fev. 2024.
SOUSA, Ana Maílza Viegas. Representatividade feminina na política brasileira. In: ASSIS, Christiane Costa. Federalismo e democracia: reflexões contemporâneas. Belo Horizonte: Uemg, 2023. Cap. 4. p. 93-115. Disponível em: https://editora.uemg.br/component/k2/item/232-federalismo-e-democracia#sobre-o-livro. Acesso em: 11 mar. 2024.
GONZALEZ, Lélia. A cidadania e a questão étnica. In: RIOS, Flavia; LIMA, Márcia (org.). Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. p. 201-211.
GONZALEZ, Lélia. A mulher negra na sociedade brasileira: uma abordagem político-econômica. In: RIOS, Flavia; LIMA, Márcia (org.). Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. p. 49-64.
Deixe um comentário