Uma breve análise da postura dos quatro principais candidatos à Presidência da República em seus programas
Daniela Neves e Naiara S. de A. Alcântara
As eleições de 2018 se deram após importantes movimentos políticos no Brasil, como as marchas de 2013, o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, atuação de juízes e promotores de primeira instância e a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva, que ajudaram a polarização da campanha (ALMEIDA, 2019). O vice, Michel Temer, assume após quatro vitórias seguidas de presidenciáveis do PT, e mesmo sendo ele o vice, era considerado adversário no processo de impeachment. Soma-se a isso que, desde 2013, além das ruas, as redes sociais foram ocupadas por estratégias políticas de difamação, boatos e detração de atores políticos (RUEDGER, 2017).
Neste cenário atípico, no qual oposição e situação se misturam diante dos acontecimentos, este post analisa de que forma se posicionaram os quatro principais candidatos à Presidência da República (de acordo com resultado das urnas) – Jair Bolsonaro (PSL), Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alkmin (PSDB) – em relação ao atual governo e aos seus adversários nos programas do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE).
Para tanto, foi realizada uma análise de conteúdo, sendo a unidade de análise o segmento do programa, ou seja, trecho que em não se alteram locutor, tema e cenário. Os programas foram coletados e classificados segundo livro de códigos pré-estabelecido pelo Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública da Universidade Federal do Paraná (CPOP-UFPR) e as variáveis aqui analisadas são apelo a mudanças, ataque à administração em curso e ataque ao adversário.
Dentre as referências para o estudo de HGPE está a de Figueiredo et al. (2000) que mostram recursos discursivos que são típicos da situação e outros que são típicos de oposição. Os situacionistas utilizam estratégias como o carisma e o cargo, competência e o cargo, símbolos do cargo, postura acima da briga, ênfase em realizações e associação com a administração em curso. Já as estratégias do desafiante seriam o apelo à mudança, ofensiva quanto a temas, ênfase no otimismo para o futuro, ataques à administração em curso e ataques ao adversário. Porém, diante desta situação política excepcional, espera-se que os candidatos não utilizem estratégias típicas no HGPE.
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Em 2018, após a campanha de primeiro turno, foram para o segundo turno Bolsonaro (46%) e Haddad (29%). Ciro Gomes obteve 12,4% dos votos e Alkmin 4,76%. O restante não atingiu 3% dos votos válidos (TSE, 2018). O segundo turno teve vitória de Bolsonaro, com 55,13% dos votos, enquanto Haddad obteve 44,87% e 21% de abstenções (TSE, 2018). Com o resultado do primeiro turno, escolhe-se aqui analisar as estratégias discursivas das campanhas que obtiveram mais de 3% dos votos ou os quatro primeiros candidatos mais bem colocados.
Tabela 1 – “Apelo a mudanças” no HGPE dos principais candidatos a presidente do Brasil no 1º turno de 2018
Candidatos | Ciro | Haddad | Bolsonaro | Alckmin | |
Apelo a mudanças | Não | 41 91,1% | 124 87,9% | 18 66,7% | 159 79,1% |
Sim | 4 8,9% | 17 12,1% | 9 33,3% | 42 20,9% | |
Total | 45 100,0% | 141 100,0% | 27 100,0% | 201 100,0% |
Fonte: autoras, a partir do banco HGPE presidencial – 1º turno/ 2018 (CPOP-UFPR).
Percebe-se pelos dados que Bolsonaro (33,3%), seguido por Geraldo Alckmin (20,9%), foram os que mais usaram o termo mudança em seus programas na televisão. Haddad e Ciro, os mais contrários ao processo de impeachment, foram dentro os quatro candidatos os que menos fizeram apelo à mudança, muito em função do legado deixado pelo PT nas últimas gestões.
Tabela 2 – “Ataque a administração em curso” no HGPE dos principais candidatos a presidente do Brasil no 1º turno de 2018
Candidatos | |||||
Ciro | Haddad | Bolsonaro | Alckmin | ||
Ataque à adm. em curso | Não | 45 100,0% | 129 91,5% | 27 100,0% | 182 90,5% |
Sim | 0 ,0% | 12 8,5% | 0 ,0% | 19 9,5% | |
Total | 45 100,0% | 141 100,0% | 27 100,0% | 201 100,0% |
Fonte: autoras, a partir do banco HGPE presidencial – 1º turno/ 2018 (CPOP-UFPR).
Quem estava no poder durante a campanha presidencial de 2018 era o presidente Michel Temer (MDB), portanto, no que tange a administração em curso durante o período de campanha, houve poucos ataques desferidos pelos candidatos a essa administração, portanto todos optaram majoritariamente por não atacar. Haddad (8,5%) ataca Temer e os grupos que se uniram contra o PT e Geraldo (9,5%) tenta se firmar como a terceira via entre PT e grupos mais à direita.
Tabela 3 – “Ataque a adversário” no HGPE dos principais candidatos a presidente do Brasil no 1º turno de 2018
Apenas quatro candidatos | |||||
Ciro | Haddad | Bolsonaro | Alckmin | ||
Ataque a adversário | Não | 43 95,6% | 134 95,0% | 27 100,0% | 121 60,2% |
Sim | 2 4,4% | 7 5,0% | 0 ,0% | 80 39,8% | |
Total | 45 100,0% | 141 100,0% | 27 100,0% | 201 100,0% |
Fonte: autoras, a partir do banco HGPE presidencial – 1º turno/ 2018 (CPOP-UFPR).
Em relação ao tipo de discurso de ataque ao adversário, verifica-se também que esse tipo de linguagem foi pouco utilizado pelos candidatos, sendo que o candidato que mais utilizou de ataques foi Geraldo Alkmin (39,8%), muito em função do crescimento da candidatura de Bolsonaro. O discurso dele era na tentativa de se construir como a alternativa de terceira via.
Pela da análise dos seguimentos, percebe-se que não houve discurso típico de situacionista e de desafiante (FIGUEIREDO et al., 2000), como a literatura aponta, pois a saída do PT por processo de impeachment, após quase 15 anos de governo, e a entrada de Temer complica a estratégia de ataque e apelo à mudança. Percebe-se a excepcionalidade desta campanha pelo fato de o governo anterior ser do PT. Após impeachment de Dilma Rousseff é seu vice, Temer, que assume o poder. Formalmente, atacar o PT não é atacar a administração em curso, conforme modelo de análise. Diante disso, os candidatos optaram majoritariamente por não desferir ataques nem à administração em curso e nem aos seus adversários durante o HGPE.
Referências
ALMEIDA, Ronaldo. Bolsonaro Presidente: Conservadorismo, Evangelismo e a Crise Brasileira. Novos estudos – CEBRAP, v. 38, n. 1, 2019.
FIGUEIREDO, M.; ALDE, A.; DIAS, H.; JORGE, V. Estratégias de Persuasão nas Eleições Majoritárias: Uma proposta metodológica para o estudo da propaganda política. In: FIGUEIREDO, R. (Org.) Marketing Político e Persuasão Eleitoral. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2000.
RUEDGER, M. A. (coord.). Robôs, redes sociais e política no Brasil [recurso eletrônico]: estudo sobre interferências ilegítimas no debate público na web, riscos à democracia e processo eleitoral de 2018. Rio de Janeiro: FGV, DAPP, 2017.