Uma análise dos temas presentes no HGPE de 2018

Renan Colombo

A mais recente campanha para o governo do Paraná, em 2018, foi disputada por nove candidatos e ocorreu, de forma regulamentada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre 16 de agosto e 6 de outubro, com o pleito sendo realizado em 7 de outubro. O Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) em rádio e televisão aconteceu durante 35 dias, de 31 de agosto a 4 de outubro. Este comentário analisa, a partir de dados coletados pelo grupo de pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), as temáticas presentes no HGPE de primeiro turno dos 9 candidatos ao governo do Paraná. O objetivo é identificar a frequência de cada tema no espaço utilizado pelas candidaturas.

Os candidatos, com seus respectivos partidos e coligações, foram: Cida Borghetti (PP, Coligação Paraná Decide); Dr. Rosinha (PT, [sem coligação]); Geonísio Marinho (PRTB, Coligação Unidos pelo Paraná); João Arruda (MDB, Coligação Paraná: Emprego, Educação e Combate à Corrupção); Jorge Bernardi (REDE, Coligação do Bem e da Verdade para Mudar o Paraná); Ogier Buchi (PSL, Coligação Pátria Brasil); Prof. Ivan Bernardo (PSTU, [sem coligação]); Prof. Piva (PSOL, Coligação PSOL-PCB) e Ratinho Junior (PSD, Coligação Paraná Inovador). O pleito foi vencido por este último, em primeiro turno, com 59,99% dos votos (total de 3.210.712 votos).

A veiculação das propagandas para o cargo de governador(a) do Paraná ocorreu às segundas, quartas e sextas-feiras, em dois blocos de 10 minutos cada, nos seguintes horários: entre 7h16 e 7h25, e 12h16 e 12h25, no rádio; e entre 13h16 e 13h25, e 20h46 e 20h55, na televisão. Cada candidato teve 30 inserções em rádio e 30 inserções em televisão, ao longo de 15 dias, distribuídas igualitariamente entre segundas, quartas e sextas-feiras. A distribuição do tempo destinado a cada candidatura foi feita pelo TSE, da seguinte forma: 90% do tempo foi dividido com base no número de representantes dos partidos na Câmara Federal e os 10% restantes, de forma igualitária (TSE, 2016).  No caso específico das eleições de 2018 para o governo do Paraná, a divisão teve a seguinte configuração: Cida Borghetti: 3’20; Ratinho Júnior: 2’30; João Arruda: 1’51; Dr. Rosinha: 1’12; Ogier Buchi: 0’12; Prof. Piva: 0’10; Geonísio Marinho: 0’09; Jorge Bernardi: 0’09; e Prof. Ivan Bernardo: 0’05.

O HGPE “é considerado um recurso de campanha importante por muitos autores, inclusive em países onde não há espaço regulamentado para os partidos”, sobretudo no que tange à exposição realizada em cadeia nacional de televisão (CERVI, 2011, p. 108). Assim, torna-se relevante compreender de que forma foi utilizado pelas candidaturas.

O uso do HGPE pelos candidatos busca, naturalmente, gerar-lhes benefícios eleitorais, o que remete ao conceito de “capital político” de Bourdieu (1989, p. 167-168, grifos do autor), entendido como o “crédito firmado na crença e no reconhecimento ou, mais precisamente, nas inúmeras operações de crédito pelas quais os agentes conferem a uma pessoa – ou a um objeto – os próprios poderes que eles lhes reconhecem”. Nesse sentido, o HGPE pode ser tomado como um “agente” que realiza “operações de crédito” para conferir visibilidade e ampliar o “capital político” dos indivíduos que retrata.

A análise identificou 28 temas presentes, com domínio do item Imagem do candidato, que foi o tema líder nas campanhas de todos os candidatos e que correspondeu a 49,28% do tempo total utilizados por todas as candidaturas somadas, conforme detalha o gráfico 1, abaixo.

Fonte: autor (2020).

É interessante notar que os candidatos que, dentro do próprio HGPE, proporcionalmente mais utilizaram o recurso da própria imagem, em volume superior a 50% do tempo total, foram os 5 que dispunham de menor tempo, tal qual apresenta o gráfico abaixo. O destaque é Prof. Ivan Bernardo (PSTU), que exibe a própria imagem em 75% do tempo.

Fonte: autor (2020).

Outro fenômeno interessante é que, excluídas as categorias de imagem (que são 7: adversário, candidato, cidade e região metropolitana, eleitor, estado, país, partido) e de metacampanha (que são 4: apelos ao engajamento do eleitor, cenas externas de campanha, pedagogia do voto, pesquisa eleitoral), têm-se 18 categorias que tratam de temas específicos de interesse público, que constituem objeto de manifestação de opinião e/ou de formulação de propostas pelos candidatos. Nesse recorte, os temas mais recorrentes foram saúde (9,95% do tempo total), mulher (5,38%) e cardápio de variedade de políticas públicas (4,50%), tal qual representado no gráfico 3, abaixo.

Fonte: autor (2020).

Entre todos os candidatos, apenas dois não mobilizaram, em seus espaços de HGPE na televisão, nenhuma temática específica de interesse público, quais sejam Ogier Buchi (PSL) e Prof. Ivan Bernardo (PSTU). Em relação aos demais, houve variação na temática mais recorrente, conforme detalhado no quadro 1.

Quadro 1: Tema de interesse público mais utilizado por cada candidato(a)

Fonte: autor (2020).

Diante do exposto, este texto conclui que o uso de HGPE pelos candidatos(as) ao governo do Paraná em 2018 se centrou na imagem dos postulantes, com espaço secundário ao debate de temas de interesse público ‒ duas candidaturas não mobilizaram nenhum tema sequer. Ademais, quando o uso de tais temas acontece, é feito de maneira bastante fragmentada, sem preponderância de nenhum debate em particular.

Por fim, ressalva-se que este comentário não encerra a discussão sobre as temáticas utilizadas no HGPE por candidatos(as) ao governo do Paraná no respectivo pleito; pelo contrário, constitui-se de uma abordagem inicial e exploratória do tema, imbuída do propósito de fomentar novos olhares e abordagens sobre o objeto.


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Referências bibliográficas

BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1989.

CERVI, E. O uso do HGPE como recurso partidário em eleições proporcionais no Brasil. Opinião Pública, v. 17, n. 1, p. 106-136, 2011.

TSE. Novas regras eleitorais: mudanças no cálculo do tempo do horário no rádio e na TV. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2016/Maio/novas-regras-eleitorais-mudancas-no-calculo-do-tempo-do-horario-no-radio-e-na-tv>. Consultado em: 12 out. 2019.