Este comentário se concentra no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) dos candidatos à prefeitura de Curitiba em 2020. O objetivo foi verificar em quais dimensões temporais eles focam em seus programas políticos, a fim de compreender se tendem a tratar mais do passado, do presente ou do futuro. Também foi verificada a qualificação dada aos períodos, que poderiam ser positivos, negativos ou neutros.

As Tabelas 1 e 2 apresentam a dimensão temporal e a valência da dimensão temporal utilizadas pelos candidatos à prefeitura de Curitiba nos programas do HGPE em 2020. Essas variáveis mostram se esses agentes políticos optam por exaltar ou criticar o passado ou presente ou se priorizam promessas para o futuro. 

A Tabela 1 expõe o cruzamento das variáveis “dimensão temporal” e “candidato”. Enquanto o teste de qui-quadrado comprova que há associação estatisticamente significativa entre as variáveis e o V de Cramér demonstra que essa associação ocorre em 36% dos casos (associação moderada), os resíduos padronizados verificam as diferenças entre os valores observados e os valores esperados das distribuições. Considerando um intervalo de confiança de 95%, tornam-se significativos os valores acima de 1,96 e abaixo de -1,96 (já destacados na tabela).

Dessa forma, nota-se que somente dois candidatos optaram por falar mais do passado ou do presente. Nos programas de Rafael Greca, essa categoria aparece acima do esperado (rp 6,8). O mesmo ocorre com o candidato do PT, que recorre a essa estratégia em 2,0 casos a mais do que o esperado. Em contrapartida, essa categoria foi menos utilizada por Goura, Carol Arns, Christiane Yared, Renato Mocellin e Letícia Lanz.

Os resíduos para a categoria futuro são positivos para Yared, Goura e João Arruda – o que confirma que esses candidatos optaram por falar mais do futuro em seus programas. Enquanto a candidata do PL trata do futuro em 5,7 casos a mais do que o esperado, Goura o faz em 4 casos a mais do que o esperado e João Arruda em 3,2 casos a mais do que o esperado. Em contrapartida, os resíduos para essa categoria são negativos para Greca e João Guilherme.

Já a categoria “indefinido” aparece mais do que o esperado nos programas de Carol Arns (2,1), João Guilherme (3,8), Renato Mocellin (3,4), Letícia Lanz (2,0) e Marisa Lobo (3,2). Isso quer dizer que esses candidatos optaram por não falar sobre uma dimensão temporal específica. Isso costuma ocorrer em segmentos que tratam da imagem dos candidatos e em segmentos muito curtos.

Tabela 1 – Dimensões temporais abordadas pelos candidatos

Fonte: CPOP (2021).

A Tabela 2 expõe a distribuição das variáveis “valência das dimensões temporais” e “candidato”. O teste de qui-quadrado comprova novamente que que há associação estatisticamente significativa entre as variáveis e o V de Cramér aponta que a associação ocorre em 33% dos casos analisados. O destaque para a valência positiva ocorre somente com o candidato Rafael Greca, que mobiliza essa categoria em 5,3 casos a mais do que o esperado – como candidato que disputava a reeleição, esses resultados indicam que ele optou por destacar as realizações de sua gestão.

Nota-se que os três candidatos que optaram por falar mais do futuro – Yared, Goura e João Arruda – também mobilizam a categoria “positiva” mais do que “negativa” e “neutra” (João Arruda inclusive apresenta resíduo de – 2,2 para a categoria “negativa”). De acordo com Parachen (2013), apesar de ser um espaço também de embate e disputa, o tom negativo não é usual no HGPE. E esses candidatos corroboram essa afirmação uma vez que privilegiaram as promessas para o futuro em detrimento das críticas.

Em contrapartida, Paulo Opuszka, Fernando Francischini e Camila Lanes mobilizaram o tom negativo mais do que o esperado – como mostram os resíduos positivos em destaque.  

E o tom neutro apareceu mais do que o esperado nos programas de Renato Mocellin (3,7), Letícia Lanz (2,9) e João Guilherme (3,3) e menos que o esperado nos programas de Rafael Greca (-4,0) e Christiane Yared (-2,0), que, como já mencionado, privilegiaram o tom positivo.

Tabela 2 – Valência das dimensões temporais

Fonte: CPOP (2021).

Conclui-se, portanto, que a campanha do candidato à reeleição se diferenciou das demais ao tentar estimular o voto retrospectivo dos eleitores – o que Machado (2009) já demonstrou ser uma característica marcante em campanhas de partidos com diferentes orientações ideológicas. Além disso, o candidato do PT, Paulo Opuszka, parece ter sido o que mais criticou a atual gestão, uma vez que mobilizou principalmente o passado/presente e usando de tom negativo. Destaca-se a valência negativa também nos programas de Fernando Francischini, que ficou em terceiro lugar, com 6,26% dos votos[1].


[1] Ver em: https://g1.globo.com/pr/parana/eleicoes/2020/resultado-das-apuracoes/curitiba.ghtml. Acesso em: 09 jul. 2021.


O banco de dados utilizado na produção deste texto está disponível para ser compartilhado com pesquisadores e profissionais interessados em campanhas eleitorais e análise de redes sociais on-line. Para obter o material, contate nucleocpopufpr@gmail.com.


Referências

MACHADO, M. A retórica da reeleição: mapeando os discursos dos Programas Eleitorais (HGPE) em 1998 e 2006. Opinião Pública, Campinas, v. 15, n. 1, p.159-189, 2009.

PARACHEN, E. Visibilidade e Disputa Eleitoral: A Formação da Imagem de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral em 2010. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) – Departamento de Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 85 p., 2013.