A pesquisa produzida por Thiago Fedacz Anastacio e Bruna Bonin investiga se o perfil do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) culpabilizou os atores responsáveis pelas queimadas e incêndios que têm repercutido pelo país.

De acordo com o Monitor do Fogo do MapBiomas, entre os meses de janeiro e setembro, o Brasil vivenciou 150% mais queimadas em 2024 do que em 2023, totalizando 22,38 milhões de hectares devastados, área comparável ao estado de Roraima (Mapbiomas, 2024). Os estados mais afetados pelo problema são os da região Norte e Centro-Oeste, cujos biomas acometidos pelos incêndios são o Pantanal, Cerrado e Amazônia (Mapbiomas, 2024).

Como base para a investigação proposta, olhou-se para o conceito de Comunicação Pública. Brandão (2012) sistematiza as diferentes definições encontradas na literatura por meio de cinco identificações possíveis: Comunicação Organizacional, comunicação científica, comunicação de Estado e/ou governamental, comunicação política e estratégias de comunicação da sociedade civil organizada. No caso desta pesquisa, nos interessa a terceira citada acima, que pode ser caracterizada de forma a atribuir ao Estado e ao governo o estabelecimento de um fluxo informativo e comunicativo com os cidadãos (Brandão, 2012).

Para alcançar o objetivo da pesquisa, a técnica utilizada foi a análise de conteúdo (Sampaio; Lycarião, 2021). Foram selecionadas 88 publicações coletadas do perfil no Instagram do MMA que tinham como foco as queimadas e incêndios. As publicações utilizadas na análise foram postadas entre os meses de maio a setembro de 2024. A análise foi realizada a partir da criação de um livro de códigos, dividido em quatro eixos: formato da publicação (foto, vídeo, card e carrossel), culpabilização pelas queimadas, presença de atores políticos e outras instituições e tema da publicação. Aqui daremos destaque para dois deles.

Após a codificação, notou-se que a culpabilização das queimadas pelo ministério esteve presente em parte das publicações analisadas. Do total, 40 (45%) apresentavam algum indicativo de responsabilização pelo problema ambiental. Em 39 das 40 postagens, a culpa atribuída pelo ministério foi direcionada à ação humana. No entanto, a culpabilização é feita, majoritariamente, de forma ampla e pouco específica, sem a identificação dos atores envolvidos diretamente. Os problemas ambientais gerais e fenômenos climáticos (El Niño e La Niña, secas históricas e crise hídrica) estiveram presentes nas publicações como intensificadores das queimadas e incêndios.

Quanto aos temas das publicações, as categorias legislação e reuniões estavam presentes em igual número nas postagenss (21,59%), seguidas de coletivas/entrevistas (19,32%), apelo à participação (2,27%) e atitudes diante de queimadas e saúde pública (1,14% em ambas). Cuidados à saúde não esteve presente em nenhuma das publicações analisadas. No entanto, as categorias de maior destaque foram as de informe sobre a atual situação das queimadas (34,09%) e informes sobre as atuais medidas de combate (70,45%). As categorias não eram excludentes entre si, o que permitia que uma publicação apresentasse mais de um tema por vez.

No caso das duas últimas categorias citadas, ambas são de interesse público. No entanto, observou-se um maior destaque dado pelo perfil do ministério à inclusão de informações sobre as ações do governo diante do problema, o que pode significar uma tentativa de manutenção da imagem pública do governo. Weber (2009, p. 12) sintetiza o conceito de imagem pública como sendo “o resultado de disputas simbólicas exibidas ao imaginário coletivo em busca de respostas”. Em um texto anterior, a autora defende que a imagem pública é um instrumento vital para a visibilidade e reconhecimento das instituições e sujeitos da política (Weber, 2004).

Portanto, conclui-se que o ministério culpabilizou a ação humana parcialmente pelas queimadas existentes no país, mas sem apontar objetivamente quem são os responsáveis. O segundo aspecto observado foi que a informação de interesse público esteve presente em meio às publicações. No entanto, o constante destaque para as medidas tomadas pelo governo pode indicar uma tentativa de construção de uma boa imagem pública.


Referências

BRANDÃO, E. P. Conceito de Comunicação Pública. In: DUARTE, J. (org.). Comunicação pública: estado, mercado, sociedade e interesse público. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2012.

ÁREA queimada no Brasil entre janeiro e setembro foi 150% maior que no ano passado. MapBiomas, 2024. Disponível em: https://brasil.mapbiomas.org/2024/10/11/area-queimada-no-brasil-entre-janeiro-e-setembro-foi-150-maior-que-no-ano-passado/. Acesso em: 02 de dez. 2024.

SAMPAIO, Rafael Cardoso; Lycarião, Diógenes. Análise de conteúdo categorial: manual de aplicação. Brasília: Enap, 2021. Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/handle/1/6542. Acesso em: 03 de dez. 2024.

WEBER, Maria Helena. Imagem pública. In: ALBINO, Antonio; RUBIM, Canelas (org.). Comunicação e política: conceitos e abordagens. Salvador: Edufba, p. 259-307, 2004. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/bitstream/ufba/134/4/Comunicao-Politica_RI.pdf#page=260. Acesso em: 04 de dez. 2024.

WEBER, Maria Helena. O estatuto da imagem pública na disputa política. Revista ECO-pós, v. 12, n. 3, 2009. Disponível em: https://revistaecopos.eco.ufrj.br/eco_pos/article/view/929. Acesso em: 02 de dez. 2024.