Levantamento revela inexistência de campanhas on-line nos 10 menores colégios eleitorais do estado e manutenção de investimentos em mecanismos tradicionais de campanha

Afonso Verner

Em 2020, a eleição municipal foi marcada primeiro pelo atraso no calendário eleitoral e depois pela expectativa de fortalecimento no uso de mecanismos on-line de campanha [1] – o atraso foi causado pela pandemia da Covid-19, já a ascensão das ferramentas digitais foi motivada pela necessidade de distanciamento social durante o período. No entanto, esse esperado avanço na realização de campanhas on-line também repercutiu nas disputas nos menores colégios eleitorais?

Para tecer considerações sobre essa questão, o presente comentário apresenta a relação dos 10 menores colégios paranaenses (tabela 1) com o nome da cidade, o número de eleitores e a porcentagem que esses eleitores representam diante do total do eleitorado do estado. Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e foram coletados em 2020. Os municípios estão listados em ordem crescente – do menos para o mais populoso.

Tabela 1 – Os 10 menores colégios eleitorais paranaenses

Fonte: Autor (2021), com dados do TSE.

A partir desta listagem de 10 menores municípios, a análise sobre a existência de campanha on-line passa pela observação dos candidatos(as) a prefeito(a) a partir de duas variáveis: a presença dos(as) prefeituráveis na rede mais utilizada no Brasil, o Facebook [2] (AGGIO & REIS, 2013), e também a eventual declaração de gastos com impulsionamento em campanha e, em caso de uso de recursos em campanha on-line, quanto esse valor representa diante do gasto total com a campanha. 

Para mensurar a primeira variável (presença dos candidatos no Facebook), reuniu-se informações sobre o número de candidatos em cada uma das disputas e quantos deles mantiveram páginas ou perfis ativos no Facebook. Para mensurar a presença na rede, primeiro buscou-se a autodeclaração do candidato no sistema DivulgaCand

Caso o candidato não tenha informado o endereço da página no Facebook, realizou-se uma busca com o nome do candidato no buscador Google seguido da palavra “Facebook”. Em caso negativo para localização de um perfil do candidato, realizou-se uma segunda busca, com o nome do candidato, mais a palavra “Facebook” e ainda o nome da cidade em que ele disputou o pleito (exemplo: “José Facebook Iguatu”).

Dessa forma, chegou-se ao seguinte cenário de utilização desta rede social pelos prefeituráveis das 10 menores cidades do Paraná (tabela 2):

Tabela 2 – Municípios e candidatos ativos no Facebook

Fonte: Autor (2021).

Em Jardim Olinda, por exemplo, só um dos quatro candidatos manteve um perfil ativo no Facebook durante o pleito. Denny, do Partido Liberal (PL), ficou em segundo lugar, com 30,89% dos votos. Em Nova Aliança do Iguaçu, apenas Licinho (PSB) manteve um perfil no Facebook ao longo da eleição – ele foi reeleito para o cargo. Em Santa Inês, nenhum dos dois candidatos manteve atividades na rede. 

Já em Miraselva, os dois candidatos no pleito (Roxinho do PSL e Elvinho do PSD) mantiveram atividades no Facebook. Em Guaporema, havia dois candidatos na disputa pela prefeitura e ambos (Beto do PSD e Turbina do Podemos) tinham páginas ativas – Turbina, inclusive, manteve um perfil no Instagram. Iguatu também teve dois postulantes ao cargo de prefeito (Toninho do PMN e Barella do PSD) e apenas Barella, reeleito para o cargo, manteve atividades de campanha no Facebook.

Outra cidade com dois concorrentes ao cargo de prefeito em 2020 foi Mirador: Fabiano Travain (PSD) e Natanael (PP) eram os postulantes, mas somente Fabiano manteve atividades no site de rede social. Uniflor tinha Maicão (PP) e Zé Bassi (PSC) disputando o comando do município e ambos mantiveram contas ativas no Facebook. 

Em São Manoel do Paraná, outros dois postulantes disputaram o cargo de prefeito: Agnaldo Trevisan do PSB e Zé Carlos do PL. Os dois tinham perfis ativos no Facebook. Por fim, na cidade de Paranapoema havia dois candidatos no pleito: Ivam do PP e Sidnei Frazatto do PT. Ambos usaram a rede social. 

Depois de verificar as atividades dos prefeituráveis na plataforma, buscou-se identificar a presença de valores gastos com impulsão nas redes sociais (Facebook e Instagram, por exemplo) e nos buscadores de internet (como o Google) ao olhar para as prestações de contas de todos os candidatos que disputaram a prefeitura nas 10 menores cidades paranaenses. Entre eles, apenas um declarou ter gastado com impulsionamento em redes sociais e nenhum deles declarou gastos com impulsionamento em buscadores de internet. 

Entre os 22 candidatos(as) a prefeito(a) analisados, apenas Ivam (PP), que disputou o cargo de prefeito em Paranapoema, declarou ter investido R$ 860 em impulsionamento no Facebook – o recurso representa 2,4% do total gasto na campanha (R$ 35.154,20). Para os outros 21 candidatos, sobressaem gastos com campanhas de vereadores (doação para a campanha de candidatos ao Legislativo), gastos com postos de gasolina, com comunicação visual (adesivos a materiais gráficos diversos) e a contratação de pessoal envolvido no comitê, gastos típicos de campanhas tradicionais (NORRIS, 2001). 

O presente levantamento permite, ao menos, dois apontamentos. O primeiro diz respeito ao fato de que apesar de terem presença na rede social mais utilizada no Brasil, o Facebook, a permissão de impulsionamento de conteúdos nessa e em outras redes basicamente não alterou a forma de organização das campanhas – apenas um entre 22 postulantes declarou ter gastado recursos com impulsão.

O segundo apontamento diz respeito ao fato de que, se em colégios eleitorais de médio porte o gasto com campanhas on-line é tímido (como é o caso de Ponta Grossa), nas cidades menores ele, majoritariamente, não existe. Na prática, as prestações de contas dos prefeituráveis das 10 menores cidades do Paraná mostram que eles seguem apostando em outros mecanismos mais tradicionais de campanha (BRAGA & CARLOMAGNO, 2018), como apoio a vereadores (doação financeira para essas lideranças), material gráfico e até mesmo investimento em gasolina e pessoal para o próprio comitê.


[1] O autor já havia apresentado uma discussão sobre os gastos com campanha online na cidade de Ponta Grossa, quarto maior colégio eleitoral do Paraná. Disponível em: https://cpop.ufpr.br/redes-sociais-on-line-e-eleicoes-2020-gastos-com-impulsao-de-conteudos-na-disputa-pela-prefeitura-de-ponta-grossa/

[2] Veja mais em: https://www.tecmundo.com.br/redes-sociais/153570-brasil-4-pais-usuarios-facebook-quarentena.htm


Referências:

AGGIO, C. & REIS, Lucas. Campanha eleitoral no Facebook: usos, configurações e o papel atribuído a esse site por três candidatos eleitos nas eleições municipais de 2012. Revista Compolítica, 3 (2), p. 155-188, 2013. Disponível em: http://compolitica.org/revista/index.php/revista/article/view/48

BRAGA, Sérgio; CARLOMAGNO, Márcio. Eleições como de costume? Uma análise longitudinal das mudanças provocadas nas campanhas eleitorais brasileiras pelas tecnologias digitais (1998-2016). Revista Brasileira de Ciência Política, n. 26, p. 7-62, 2018.

NORRIS, Pippa et al. Digital divide: Civic engagement, information poverty, and the Internet worldwide. Cambridge university press, 2001.