O debate nos comentários de Facebook dos candidatos à prefeitura de Curitiba em 2016.

Isabele Mitozo e Djiovanni Marioto.

(Post de 14/04/2017 migrado do antigo site do CPOP)

Desde 2008, com a primeira campanha de Barack Obama à presidência dos EUA, os holofotes se voltaram para o uso das redes sociais digitais como ferramentas de campanha política (Gomes et al., 2013). No Brasil, especialmente devido às novas regras eleitorais que reduziram o tempo de TV e rádio da propaganda eleitoral dos candidatos, era esperado que as campanhas investissem mais em redes digitais, uma vez que “os media online aceleram a transmissão de conteúdo e são acessíveis a uma maior audiência” (Williams; Gulati, 2012, p. 54). A partir do uso desses mecanismos, porém, a campanha se abre a novas possibilidades e desafios, principalmente em relação à intervenção que os eleitores podem realizar sobre os conteúdos de campanha.

A presente análise se concentra nas campanhas no contexto das eleições municipais de Curitiba em 2016, mais especificamente em como os internautas se utilizaram de hashtags para mencionar os/as candidatos/as ao longo do período eleitoral ao comentar nas páginas oficiais, no Facebook, dos perfis de campanha.

O primeiro dado a ser destacado é que o uso das hashtags em análise, i.e., aquelas que mencionavam, nos comentários, um/a ou mais candidatos/as, aconteceu em apenas 4.503 dos mais de cem mil comentários postados nas páginas dos/as oito candidatos/as cujas páginas foram coletadas, a saber, Ademar Pereira (PROS), Gustavo Fruet (PDT), Rafael Greca (PMN), Ney Leprevost (PSD), Maria Victória (PP), Requião Filho (PMDB), Tadeu Veneri (PT) e Xênia Mello (PSOL).

Ao se observar a distribuição temporal dessas hashtags, percebe-se que há um aparecimento oscilante dessas menções. Da primeira à quarta semana de campanha, o que significa dizer o primeiro mês, há um crescimento linear das menções aos candidatos em suas páginas de Facebook. Esse dado pode estar relacionado ao próprio uso que as equipes fazem da ferramenta, pois, conforme Aggio e Reis (2013) apontam, é comum que as campanhas utilizem pouco as redes sociais no início do período eleitoral e, ao longo do processo, intensifiquem o uso dessa estratégia.

As semanas 7 a 9, todavia, são aquelas que concentram maior pico de menções em hashtags. Uma explicação para esse fenômeno pode ter sido uma polêmica em que o líder de intenções de voto, Rafael Greca, acabou se envolvendo e, ainda, a proximidade do pleito. A última semana de campanha, por sua vez, acaba superando as anteriores, concentrando mais de 20% das hashtags com menção a candidatos, período em que, proporcionalmente, mais se aproxima do volume de comentários que não utilizavam hashtag de menção.

Um dos dados mais interessantes da pesquisa é a alta incidência dessas hashtags nas páginas dos três principais concorrentes: Rafael Greca, Gustavo Fruet e Ney Leprevost. Eles concentraram 4.418 menções (98,1% do total), o que significa dizer que apenas 85 hashtags (ou seja, menos de 2%) mencionaram outros candidatos. Desse modo, a análise que se apresentará na próxima postagem se concentra apenas no quanto e como aqueles três prefeituráveis foram mencionados, i.e., qual o volume de menções a cada um e que tipo de valência (o teor do comentário) foi mais utilizada quando os eleitores os mencionaram.

Referências

Aggio, C.; Reis, L. Campanha eleitoral no Facebook: Usos, configurações e o papel atribuído a este site pelos candidatos durante as eleições municipais de 2012. Anais do V Encontro da Compolítica, Curitiba-PR, 2013.

Gomes, W.; Fernandes, B.; Reis, L.; Silva, T. Politics 2.0: A campanha de Barack Obama online em 2008. In: Marques, F.P.J.; Sampaio, R.; Aggio, C. Do clique à urna: internet, redes sociais e eleições no Brasil. Salvador: Edufba, 2013.

Williams, C.B.; Gulati, G.J. Social networks in political campaigns: Facebook and the congressional elections of 2006 and 2008. New media & Society, 15(1), p. 52–71, 2012.