Os prefeituráveis usaram seus programas políticos para se vincular a administrações da mesma ou de outras esferas?

Naiara Sandi de Almeida Alcântara e Mariana Marinho Soares

Esse post tem como objeto de análise o conteúdo do Horário Gratuito de Programa Eleitoral (HGPE) de candidatos à prefeitura de Curitiba no ano de 2020, com foco específico na estratégia de comunicação baseada na “associação a administração em curso” (quando o candidato se vincula à administração em curso ou a ações desenvolvidas nela, desde que na mesma esfera do cargo em disputa) e a “associação à administração em outra esfera” (cita governantes que ocupam cargos em outras esferas de poder).

Nosso objetivo será i) identificar quais foram os candidatos que mais fizeram uso desse tipo de estratégia discursiva e ii) analisar qual o tipo de associação (em curso ou em outra esfera) foi mais utilizado. Partimos da H1 de que o candidato Rafael Greca terá a maior porcentagem de presença no item associação à administração em curso, pois trata-se do atual prefeito e acreditamos que haverá associação a sua própria administração. Já os demais candidatos atuam na condição de adversários políticos da atual gestão, então devem ter ausência de associação à administração em curso e podem ter presença na associação à administração em outra esfera.

Salienta-se que tanto a ausência quanto a presença da associação à administração em curso são importantes estratégias de comunicação. Como existem outras maneiras de mencionar a administração que está em curso sem que haja associação à mesma, essa menção pode ter caráter positivo ou negativo, e conforme demonstra Machado (2009), a exploração das gestões em curso tem como finalidade o favorecimento da candidatura. Portanto, pode ser tratada também de maneira negativa, com críticas. Contudo, nesta análise, a associação é encarada de forma positiva.

É comum que associação à administração apareça figurando entre as estratégias comunicacionais mais utilizadas pelos candidatos. De acordo com a pesquisa realizada por Massuchin et al. (2016) sobre os segmentos que compunham o HGPE de dois candidatos à Presidência da República em 2014 – Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB)–, dentre as 11 estratégias de comunicação, cinco apareceram como as mais utilizadas:  associação à administração em disputa, apelo à mudança, ofensiva quanto a temas e ataque ao adversário.  

Partindo para a análise empírica, agradecemos ao grupo de pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública da Universidade Federal do Paraná (CPOP/UFPR) pela coleta dos dados dos quais faremos uso. Trata-se de material qualitativo, coletado ao longo da campanha à prefeitura de Curitiba em 2020. Cada bloco de propaganda de cada candidato foi separado em segmentos, observando-se principalmente o orador dominante e o tema principal em pauta no vídeo. Sobre as associações explícitas realizadas pelos postulantes ao cargo de prefeito em Curitiba no pleito de 2020, foram coletadas informações sobre associações realizadas à administração em curso na capital e sobre à administração de outra esfera (esfera estadual ou federal). Para cada uma dessas duas variáveis, observou-se a presença ou não de algum tipo de associação no segmento, como pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 1 – Percentual de segmentos, por candidato, com alguma associação à administração em curso ou em outra esfera

Fonte: autoras (2021).

De modo geral, a maioria dos postulantes não realizou (ou realizou muito esporadicamente) associação à administração em curso ou outra esfera. No entanto, como esperado, o candidato à reeleição Rafael Greca (DEM) foi quem mais realizou associações à administração em curso na capital, em 50% dos seus segmentos, confirmando nossa hipótese de pesquisa. 

Já nas associações à administração em outras esferas, Greca as realizou em apenas 1% dos seus segmentos, dando clara preferência à sua própria gestão e à apresentação do que já realizou nos últimos 4 anos. Além disso, o candidato à reeleição possuía mais tempo de TV, uma média de 187 segundos por bloco. Por isso, foi o candidato que mais pôde segmentar sua transmissão (média de 6 segmentos por bloco). Durante os segmentos, foram abordados diversos temas e em diversos formatos. 

Outro candidato com tempo expressivo de TV, Fernando Francischini (PSL), preferiu utilizar seu tempo focando em propostas e não em associações (de apoio ou oposição) à administração em curso ou em outras esferas. A candidata que teve mais segmentos com associações à administração em outra esfera foi Marisa Lobo (AVANTE). Embora tenha tido uma média de apenas 11 segundos de transmissão e tendo apenas uma segmentação, em média, por bloco, escolheu utilizar 27% dos seus segmentos para associar-se à atual gestão federal como a única candidata ao pleito de 2020 em Curitiba que estava ao lado do presidente Jair Bolsonaro.


O banco de dados utilizado na produção deste texto está disponível para ser compartilhado com pesquisadores e profissionais interessados em campanhas eleitorais e análise de redes sociais on-line. Para obter o material, contate nucleocpopufpr@gmail.com.


Referências

MACHADO, M. A retórica da reeleição: mapeando os discursos dos Programas Eleitorais  (HGPE)  em  1998  e  2006. Opinião  Pública,  Campinas,  vol.15, núm.1, p.159-189. 2009.

MASSUCHIN, M. G. et al. A construção da campanha eleitoral majoritária no HGPE: uma análise comparada das estratégias usadas pelos presidenciáveis de 2014. Política & Sociedade, v. 15, n. 32, p. 171-203, 2016. DOI:  http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2016v15n32p171