Análise dos programas eleitorais dos candidatos à prefeitura da capital paranaense

Júlia Frank de Moura e Mariana Marinho Soares

O Horário de Propaganda Eleitoral Gratuita (HGPE) é uma das formas e fontes de comunicação política para a construção da imagem dos candidatos nas eleições da democracia brasileira. Em um país como o Brasil, em que a televisão ainda é um dos meios de comunicação mais importantes, utilizar o espaço no HGPE é parte importante de uma campanha política. Segundo a pesquisa Mídia Dados de 2020, a TV aberta no Brasil tem uma penetração de 80% no total da população. 

Apesar de parecer invasiva para alguns e ser considerada uma obrigatoriedade que tira a opção de escolha do espectador por outros, a propaganda eleitoral na televisão possui audiência voluntária significativa. Segundo Dias (2013, p. 199), “em 2006, a média de audiência durante o primeiro turno das eleições, segundo o IBOPE, foi de 55,9 pontos, aumentando para 63,2 pontos no segundo turno. Os índices seriam similares aos maiores sucessos da programação televisiva no Brasil”. Tal exposição precisa ser aproveitada da melhor forma possível pelos candidatos, que se adequam a formatos, tempo e edições; e seus conteúdos variam, claro, de acordo com a verba, tempo, desenvoltura e equipe disponíveis, o que torna o HGPE uma espécie de mosaico formado pelos segmentos dos diferentes partidos. Segundo Alves (2017, p. 154), a propaganda do HGPE:

[...] é estruturada aproximando-a quanto ao seu   formato   aos   programas   exibidos   pela   televisão   e, assim, com   intuito   de diminuir o estranhamento do público que a  “invasão”  do  HGPE  causa  ao  ser inserido em meio à programação normal das emissoras abertas em todo o país. Em relação ao conteúdo, esse assemelha à propaganda comercial, com forte conteúdo emocional, onde o objetivo é “vender” um produto ou uma candidatura.

Há uma redução do papel do partido como centro das informações (ALVES, 2017) e a televisão acaba assumindo o papel de sintetizadora dos conteúdos e a fonte na qual os eleitores buscam as respostas políticas. Uma das plataformas que permite essa busca é o HGPE. Este texto apresenta dados sobre os programas eleitorais dos prefeituráveis curitibanos em 2020, olhando, especificamente, para o orador dominante nos segmentos de cada programa. Para fins de análise, cada bloco de propaganda do HGPE foi separado de acordo com a data de exibição, o período do dia, o candidato e os segmentos dentro da propaganda de um mesmo partido. Dessa forma, a menor unidade de análise utilizada é o segmento de um candidato. Um bloco de propaganda pode ser formado por um ou mais segmentos, de acordo com as escolhas e possibilidades de sua campanha. O segmento, portanto, corresponde a uma unidade independente em termos de formato ou de conteúdo dentro de um programa.Apesar de o HPGE ser formado por diferentes formatos de propaganda eleitoral, a coleta dos dados do HGPE das eleições municipais de Curitiba de 2020, realizada pelo CPOP, apresenta-nos algo em comum entre os vídeos dos diversos partidos: o orador dominante em 60% (612) dos segmentos do horário eleitoral é o próprio candidato, comprovando que a forma mais utilizada pelos partidos para a tentativa de convencimento do público é a fala do próprio prefeiturável. A segunda estratégia de orador mais utilizada é o locutor em off, com 18% (182) dos segmentos, como mostra o Gráfico 1.

Gráfico 1 – Distribuição dos segmentos por tipo de orador dominante

Fonte: Autoras (2021).

Dados do artigo “Estratégias de discurso no HGPE na campanha pela prefeitura de Curitiba em 2016”, de Neves, Kniess e Ultramari (2017), permitem-nos uma importante comparação. Em 2016, o candidato à reeleição Gustavo Fruet (PDT) “usou, em 14,2% de seus segmentos o orador popular, aquele no qual pessoas desconhecidas do público, o ‘povo’, dão declarações nos segmentos” (NEVES, KNIESS E ULTRAMARI, 2017, p. 81). Esse fato se repete na campanha eleitoral de 2020, quando o candidato à reeleição – dessa vez Rafael Greca (DEM) – utilizou o orador popular em 21% de seus segmentos, conforme demonstrado na Tabela 1. De todos os candidatos, Greca foi quem, proporcionalmente ao número de segmentos, mais utilizou o orador popular. Segundo os autores, isso confirmaria a hipótese de que “o candidato à reeleição utilizaria populares e personalidades para confirmarem a visão positiva de sua gestão” (NEVES, KNIESS E ULTRAMARI, 2017, p. 81).

Tabela 1 – Distribuição dos segmentos por tipo de orador dominante por candidato com tempo de propaganda eleitoral na televisão

* Candidato à reeleição em 2020.
Fonte: Autoras (2021).

Além disso, observou-se que os candidatos que tiveram o maior tempo de televisão foram os que puderam utilizar diversos formatos de propaganda e, assim, utilizar diversos tipos de oradores. Rafael Greca (DEM) e Fernando Francischini (PSL) tiveram, respectivamente, um tempo médio de 187 e 110 segundos de propaganda eleitoral, sendo as duas maiores médias entre os candidatos (Tabela 1). Foram, portanto, os dois candidatos que utilizaram um maior número diferente de tipos de orador, tendo também um maior número médio de segmentos por bloco de propaganda em virtude do tempo disponível. Em contrapartida, os candidatos que possuíam menor tempo de propaganda optaram por priorizar o próprio candidato como orador dominante.


O banco de dados utilizado na produção deste texto está disponível para ser compartilhado com pesquisadores e profissionais interessados em campanhas eleitorais e análise de redes sociais on-line. Para obter o material, contate nucleocpopufpr@gmail.com.


Referências

ALVES, Mércia. A imagem dos candidatos à prefeitura de São Paulo na campanha eleitoral de 2016. Revista de Discentes de Ciência Política da UFSCAR, São Carlos, v. 5, n. 2, p. 148-170, 2017. Disponível em: https://www.agendapolitica.ufscar.br/index.php/agendapolitica/article/view/137/131. Acesso em: 30 maio de 2021. 

DIAS, Márcia Ribeiro. Nas brumas do HGPE: a imagem partidária nas campanhas presidenciais brasileiras (1989 a 2010). Opinião Pública, Campinas, v. 19, n. 1, p. 198-219, jun. 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/op/a/wwFrDRbJhnTRPkjbQ7MjQJQ/?format=html. Acesso em: 30 maio de 2021. 

MÍDIA Dados Brasil 2020. Mídia Dados Brasil 2020 para todxs. São Paulo: Grupo de Mídia São Paulo, 2020. Disponível em: www.gm.org.br. Acesso em: 03 jun. 2021.