A atuação das campanhas via comentários nas eleições de 2016.

Fernanda Cavassana e Hector Bradasch

(Post de 19/05/2017 migrado do antigo site do CPOP)

Quando, ao final dos anos 90, a Internet passou a configurar mais um dos diversos veículos para a comunicação política, acreditava-se que ela seria aquele que possibilitaria uma maior democratização da comunicação entre políticos e eleitores. O fato de a internet reduzir os custos e facilitar o acesso de candidatos, sobretudo de partidos menores, assim como a possibilidade de interação direta entre eleitor e candidato, é um dos argumentos favoráveis a esta perspectiva (BRAGA et al., 2007). Contudo, esta interação possui diversas restrições.

De acordo com Braga, França e Cruz (2007), a internet produz sim efeitos no processo eleitoral e de discussão política, mas ela não é o espaço democrático, plural e deliberativo o qual muitos imaginavam que iria se tornar. Há um raio de ação e de influência limitados. Padrões dentre os políticos que obtêm melhores resultados nas redes já foram identificados. Aqueles que possuem mais recursos – sobretudo financeiros – tendem a ter uma rede de comunicação online muito mais estruturada e eficiente, possibilitando uma maior interação com o eleitor (BRAGA et al., 2007).

Para Nielsen e Vaccari (2014), a comunicação ampla entre candidatos e eleitores nas redes sociais é rara, com poucas exceções de sucesso. Isso se deve ao fato de poucos candidatos possuírem muitos seguidores nessas redes e conseguirem acesso a dezenas de milhares de possíveis eleitores. Assim como nos websites, o sucesso nas redes sociais dependerá da adesão e do comportamento de seus usuários.

Perfis em redes como o Facebook aproximam o candidato e o eleitorado não só por meio das publicações oficiais de campanha, mas também pelas ferramentas de interação da própria plataforma, como a seção de comentários. Ainda que a aproximação não gere mudanças concretas na disputa eleitoral, o relacionamento do candidato com o seu público pode gerar efeitos positivos a sua imagem, principalmente se o cidadão, que vai até o perfil da campanha na rede opinar ou demandar algo para a sua cidade, sentir-se ouvido pelo candidato. E mais ainda, obter uma resposta do mesmo.

Em 2016, os eleitores de Curitiba tiveram a oportunidade de comentar nas publicações de todos os candidatos à prefeitura no Facebook. Já a decisão de respondê-los ou não, coube às estratégias e recursos de comunicação de marketing. Sobre isso, este post observa e compara as respostas da própria candidatura na discussão via comentários. O gráfico abaixo indica o volume de comentários, durante a campanha, que foram feitos pelas próprias páginas em suas publicações. Mais uma vez, Greca ganha destaque.

De modo geral, dialogando com aos autores citados, encontram-se disparidades entre as candidaturas no que diz respeito ao volume de comentários registrado. O gráfico permite-nos afirmar que houve quatro candidaturas que se empenharam a debater com o público via comentários em suas respectivas páginas: Greca (4248), Requião (2145), Leprevost (2104) e Fruet (1793). Em contrapartida, Veneri, Maria Vitória, Xênia e Ademar não assumiram essa forma de interação como estratégia na campanha, estando ausentes do debate que ocorria em suas postagens, e não se dedicando a responder os comentários que eram publicados pelos eleitores e seguidores.

Assim, os candidatos que apresentaram maior quantidade de comentários nas suas páginas foram aqueles que possuíam mais recursos para investir em comunicação, inclusive online. Contudo, nem por isso foram aqueles que mais responderam aos eleitores e alimentaram o debate, caso a análise seja comparada proporcionalmente ao número total de comentários recebidos na campanha.

A tabela a seguir sumariza a atuação dos perfis oficiais dos candidatos a prefeito em Curitiba em comparação com o volume de comentários do público. Nota-se, por exemplo, que por mais que Rafael Greca – ou sua equipe – tenha comentado mais de quatro mil vezes em suas publicações, proporcionalmente, o candidato eleito respondeu menos aos eleitores do que seus adversários, com exceção de Xênia e Fruet – este o que menos respondeu, totalizando apenas 7,1% de comentários próprios no período.

Comparativamente, a primeira informação relevante exposta na tabela a se perceber é que Requião Filho foi o candidato que mais se destacou na interação com seu público por meio de comentários (18,7%). Isso quer dizer que a cada cinco comentários publicados na página de Requião Filho, um era respondido pela campanha. Essa estratégia é coerente com a campanha adotada, de apresentação de um candidato jovem, presente e ativo nas redes sociais, com um discurso que estimulava o engajamento com o eleitorado via redes sociais. Depois, Leprevost é o segundo candidato que mais respondeu seu eleitorado por meio de comentários no Facebook, sendo que 15% dos comentários no período foram da própria página.

Já em relação aos candidatos de partidos menores, observa-se a baixa interação com os eleitores por meio de comentários. Para além da escassez de recursos financeiros, há a de recursos humanos para a tarefa. Assim, candidatos menores, muitas vezes, tendem a administrar suas próprias páginas e a responder aos comentários. Não contam com equipes para isso.

Independentemente do tamanho do partido ou da campanha, esses dados caracterizam o debate do público com os candidatos de Curitiba em 2016 como desproporcional e não-dialógico. São as porcentagens relativas às respostas que demonstram que há uma falsa impressão de comunicação entre candidatos e eleitores na internet. No geral, a cada dez comentários feitos pelos eleitores curitibanos, apenas um foi respondido pelas candidaturas.

REFERÊNCIAS:

BRAGA, S. et al. Como os políticos brasileiros estão usando a internet para se comunicar e interagir com o eleitor? Política & Sociedade, v.6, n.10, 2008.

NIELSEN, R K; VACCARI, C. As pessoas curtem os políticos no Facebook? Não mesmo! A comunicação direta em larga escala entre candidatos e eleitores como um fenômeno outlier. Revista Eletrônica de Ciência Política, v.5, n.2, 2014.