Os temas mobilizados e o engajamento alcançado pelos cinco principais postulantes de 2018 na última semana de campanha eleitoral
Cada vez mais temos trabalhos de análise de conteúdo de posts de campanha no campo da comunicação política e eleitoral, mas ainda não temos muitas análises de conteúdo de candidatos de eleições proporcionais, como deputados estaduais e federais (MURTA et al., 2017; CARLOMAGNO E BRAGA, 2016). Isso acontece pelo fato de que, sendo as eleições para o executivo e para o legislativo simultâneas, as eleições para cargos do executivo acabam chamando mais atenção. Outro fato é que a quantidade maior de candidatos nas eleições proporcionais implica em uma dificuldade para a análise de conteúdo: a necessidade de muitos codificadores e de muito tempo para uma análise de todos os candidatos.
Sabendo dessa lacuna, este comentário apresenta uma breve análise de posts dos cinco deputados federais mais votados do Paraná na última semana de campanha, abordando os temas por eles mobilizados, as diferenças e similaridades nas estratégias discursivas e a repercussão das postagens por tema e por candidato.
Quadro 1 – Os cinco deputados mais votados no Paraná em 2018
| Candidatos | Descrição |
| Sargento Fahur (PSD- PR) | Primeiro mais votado, representa o “bolsonarismo” no Paraná. Fahur é um personagem conhecido nacionalmente pela forma como se posiciona, principalmente sobre temas de segurança pública. |
| Felipe Francischini (PSL-PR) | Segundo mais votado, também é representante do “bolsonarismo” no estado. Filho do deputado estadual Fernando Francischini, Felipe vem de família conhecida na política paranaense. |
| Gleisi Hoffmann (PT-PR) | Presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) e figura de peso na política nacional, também usou sua página para debater a eleição presidencial. |
| Luizão Goulart (PRB-PR) | Foi vereador e prefeito de Pinhais, região metropolitana de Curitiba. |
| Sandro Alex (PSD-PR) | Aliado de Ratinho Júnior, governador eleito no Paraná, assumiu a Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística em seu governo. |
O estudo foi feito com o uso do livro de códigos do MEME (E-monitor eleitoral), projeto de extensão orientado pelo professor Sérgio Braga, da UFPR, onde foi desenvolvida e treinada a codificação[1]. Abaixo, no quadro 2, são descritas as categorias da variável “tema de postagem”, utilizada na análise.
Quadro 2 – Opções de codificação para a variável “tema da postagem”
| Categorias | Descrição |
| Agenda e informação | Quando a postagem mostra eventos de campanha, notícias sobre a campanha ou sobre a corrida eleitoral de maneira geral. |
| Gerenciamento da imagem pessoal | Quando o candidato se propõe a formar sua imagem por meio de apoios ou realizações anteriores. |
| Posicionamento ideológico | Quando, por meio da divulgação de uma opinião, o candidato acaba se posicionando no debate. |
| Campanha negativa | Crítica administrativa ou moral de adversários políticos, eleitorais ou não. Também conta a defesa contra ataques sofridos. |
| Engajamento e convite à participação | Convite à mobilização online ou offline, ou solicitação de contribuição financeira. |
| Policies | Proposição ou promessa de política pública. |
| Outros | Quando a postagem não se encaixa em nenhuma das categorias acima. Um exemplo é uma simples troca de foto de perfil. |
No todo, foram coletadas 209 postagens. A quantidade de publicações por candidato está representada no gráfico abaixo. Vê-se que Gleisi foi quem mais postou e que todos os candidatos tiveram uma boa quantidade de postagens na última semana.
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Gráfico 1 – Número de postagens por candidato
Mas não é só intensidade que gera repercussão, um conteúdo que satisfaça o eleitorado é essencial para o engajamento. O gráfico abaixo mensura os temas mobilizados na campanha por cada candidato.
Gráfico 2 – Tema por candidato
O tema mais recorrente nos posts dos candidatos foi “gerenciamento da imagem” (41,1% do total), seguido de “agenda e informação” (36,8%). O tema menos mobilizado foi “engajamento” (2,9%).
Vejamos as particularidades dos postulantes: Fahur é, disparado, o que mais faz “posicionamento ideológico”, seguido de Gleisi; Gleisi faz “campanha negativa” assim como Francischini; Fahur também foi quem mais propôs políticas públicas percentualmente, além de Luizão, que também se destacou nesse quesito; o “engajamento” mobilizado por Luizão talvez seja o maior diferencial das estratégias.
O tema da publicação apresenta uma correlação significativa e de 0,161 com engajamento (compartilhamentos + reações + comentários) , resta saber quais temas têm mais engajamentos.
Gráfico 3 – Engajamento por tema
“Campanha negativa” e “posicionamento ideológico” foram os temas com maior engajamento, o que fica visível no gráfico de engajamento por candidato, apresentado abaixo, que explica, também, a discrepância entre média e mediana.
Gráfico 4 – Média de engajamento por candidato
O outlier é um problema pra amostras pequenas e, neste caso, quem ocupa esse papel é o Sargento Fahur. Ele tem, em média, 10 mil engajamentos a mais que o segundo colocado e não foi o mais votado à toa. A correlação entre candidato e engajamento foi significativa e de 0,303. Conclui-se que os temas mais mobilizados pelos candidatos não foram os que mais tiveram engajamento; “campanha negativa” e “posicionamento ideológico” foram os temas mais valorizados pelo eleitor, muito provavelmente por esses posts tratarem da campanha presidencial. O candidato explica mais o engajamento que o tema, com Fahur sendo outlier. Percebemos que é essencial para estudar a campanha para deputados federais registrarmos a presença de campanhas “maiores”, esse é um incremento que deve ser feito para trabalhos futuros, além do aumento da amostragem.
[1] Registro aqui meu agradecimento ao Tiago Borges, colega que fez a codificação comigo, e a toda a equipe do MEME pelos treinamentos.
Referências
CARLOMAGNO, M.; BRAGA, S. Sobre o que falaram os candidatos a prefeito de Curitiba durante a campanha eleitoral? Análise dos temas gerais e estratégias discursivas no Facebook em agosto e setembro. Boletim informativo MEME: e-monitor eleitoral, GEIST/UFPR, n. 15. p. 1-9, 2016.
MURTA, F. et al. Eleições e mídias sociais: Interação e participação no Facebook durante a campanha para a Câmara dos Deputados em 2014. Compolítica, v. 7, n. 1, p. 47-72, 2017.
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