Uma comparação entre os pleitos de 2016 e 2020
Sob cenário pandêmico, as eleições municipais de 2020 foram marcadas por peculiaridades que colocaram novas óticas sobre a construção de campanhas políticas, principalmente em ambientes virtuais. Para evitar a aglomeração de pessoas e impedir que medidas sanitárias fossem violadas, as campanhas de rua foram suspensas durante o período eleitoral, levando candidatos a reforçarem suas atividades nas redes sociais online (RSO).
Essa medida veio em conjunto com a reforma eleitoral de 2015 que, dentre outras medidas, reduziu as durações das campanhas no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral e reduziu também os valores de financiamento externo permitidos para campanhas como um todo, também incentivando que a atividade de atores políticos em redes sociais fosse alavancada, por apresentarem um baixo custo para uma maneira alternativa de interagir com o eleitorado.
Tomando as eleições para prefeitura em Curitiba em 2020 como exemplo, a atividade dos candidatos na rede social Twitter foi maior em relação às eleições anteriores. Das 16 candidatas e candidatos na disputa (número expressivo por si só), 13 utilizaram da rede para impulsionar suas campanhas. Em comparação, a prefeitura de Curitiba em 2016 foi disputada por 9 candidatas e candidatos, dos quais 7 utilizaram Twitter como plataforma de campanha.
Durante os períodos referentes aos primeiros turnos das eleições de 2016 e 2020, a diferença de quantidade de tweets é grande. Em 2016, durante o primeiro turno, os candidatos postaram 1.807 tweets.
Tabela 1 – Total de tweets por candidatos no primeiro turno de 2016
Em 2020 o número foi de 4.259, mais que o dobro, e considerando apenas posts originais (ou seja, excluindo retweets e também menções e respostas a outros usuários).
Tabela 2 – Total de tweets por candidatos no primeiro turno de 2020
Ainda que a quantidade de candidatos seja maior, podemos usar o exemplo do prefeito reeleito Rafael Greca para ilustrar o aumento da utilização da rede por candidatas e candidatos. Greca, que durante o primeiro turno das eleições de 2016 havia tweetado 238 vezes, em 2020 postou 743 tweets. Um aumento de mais de 200% em sua atividade na rede.
Pela quantidade de funções que o Twitter (e as redes sociais online como um todo) permitem aos atores políticos, não é surpresa que a rede seja usada cada vez mais para fins de campanha. As redes sociais permitem que políticos mantenham contato com amigos, família e eleitorado, sem deixar de trabalharem em suas imagens públicas e exporem posicionamentos políticos, participando de discussões e diálogos com o público eleitor (SKOGERBØ, KRUMSVIK; 2015).
Faz sentido, portanto, aferir que a escalada da utilização do Twitter como ferramenta eleitoral seja um reflexo da busca dos atores políticos por maior visibilidade. A pesquisadora Marina Bichara (2019) aponta que “a possibilidade de ganho de visibilidade política, e consequentemente de popularidade, para fins eleitorais, ou seja, de conseguir atenção e voto, faz com que cada vez mais os políticos e candidatos estejam presentes” no Twitter.
Essa dinâmica, a presença de candidatas e candidatos no Twitter, também molda novas relações com a mídia tradicional. Bichara (2019) explica que “conforme os candidatos priorizam o diálogo via internet e lá passam a expor cada vez mais suas opiniões, esta plataforma (Twitter) vai ganhando relevância e uma nova relação entre ela e os meios de comunicação também vai se desenvolvendo”.
As mídias tradicionais continuam atuando, e continuarão apresentando oportunidades para a exposição de agentes políticos ao público, dentro e fora de períodos eleitorais. A importância do HGPE para o processo eleitoral no Brasil ainda é indiscutível. Bichara (2019) argumenta que o HGPE não será extinto por causa das redes sociais, pelo fato, dentre muitos, de que o horário eleitoral televisivo está ligado a outras questões importantes, como a efetivação de coligações por exemplo; porém a coexistência das redes sociais e do HGPE é clara e indiscutível, expansível, tomando como referências os últimos processos eleitorais analisados.
Referências:
BICHARA, M. Uso do Twitter em campanhas eleitorais: um estudo de caso. Rio de Janeiro: FGV EBAPE. 2019.
SKOGERBØ, E.; KRUMSVIK, A. H. Newspapers, Facebook and Twitter. Journalism Practice, v. 9, n. 3, p. 350-366, 2015.