Mais de 12 mil candidatos apresentaram uma posição religiosa no nome de urna durante as eleições municipais deste ano
O Brasil, ainda um país majoritariamente católico, presencia a ascensão dos evangélicos, sobretudo a ala neopentecostal, frente à política nacional desde a sua última redemocratização, em 1988 (SILVA, 2017, p. 238). Desde então, há uma cada vez mais expressiva presença evangélica no cenário político brasileiro, a exemplo da crescente Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional.
No que tange aos partidos desses políticos, cabe ressaltar que eles se distribuem em diferentes legendas, com o auxílio do sistema eleitoral nacional (RODRIGUES-SILVEIRA; CERVI, 2019). Assim como podem ser encontrados em partidos de diferentes espectros ideológicos, associam-se também às legendas que se aproximam de suas identificações religiosas, como o Partido Republicano Brasileiro (PRB) e Partido Social Cristão (PSC), controlados pela Igreja Universal do Reino de Deus e Assembleia de Deus (CARVALHO JUNIOR; ORO, 2018).
Além da evidente presença na Câmara dos Deputados, com a já citada Bancada Evangélica, o núcleo protestante também se sobressai nas eleições municipais. Os pleitos de 2012, 2016 e 2020 revelaram que, entre os candidatos que optaram por incluir em seu nome de urna termos que distinguem seus cargos religiosos, a presença de pastores foi massiva (ver Tabela 1). Aqui são incluídos candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador.
Tabela 1 – Candidatos religiosos nas eleições municipais brasileiras de 2020
Ao focarmos nas eleições para prefeito, atentamo-nos aos números de padres e pastores (ver Tabela 2). Verificamos que a diferença entre eles não é tão expressiva quanto nas que incluem os vereadores. Todavia, enquanto o número de padres apresenta queda, o de pastores segue aumentando.
Tabela 2 – Candidatos religiosos a prefeito em 2020
Considerando a ascensão e relevância evangélica no cenário político nacional das últimas décadas, propomo-nos aqui a observar como os candidatos a prefeito, cujo nome de urna inclui o termo pastor ou pastora, se distribuem entre os estados brasileiros e os partidos políticos durante a eleição de 2020. Abaixo, observamos que os 61 candidatos que manifestam o termo religioso em seu nome de urna se distribuem em 21 estados (ver Tabela 3). Ainda que o Pará ostente o maior número de pastores prefeituráveis, valor que vai de encontro ao fato da região norte concentrar a maior porcentagem de evangélicos no país (CARVALHO JUNIOR; ORO, 2018), nota-se que há uma pulverização desse perfil de candidato em todas as regiões brasileiras.
Tabela 3 – Candidatos pastores distribuídos por estados
Essa dispersão dos candidatos religiosos, além de se apresentar geograficamente, também é percebida no que tange às legendas escolhidas (ver Quadro 1) [1]. Embora o Brasil não tenha um partido integralmente religioso, assinala-se que há os identificados como confessionais de direita. Eles “baseiam a sua ideologia ou programa explicitamente em concepções religiosas e/ou estão ligados a igrejas e a movimentos com forte apelo conservador” (CODATO; BERLATTO; BOLOGNESI, 2018, p. 879). Seguindo a classificação que Coppedge propôs para os sistemas de partidos latino-americanos, Codato, Berlatto e Bolognesi (2018) incluem os partidos PEN, PHS, PR, PRB, PSC e PSDC nessa categoria político religiosa. Logo, poderíamos esperar uma concentração de candidatos com denominação religiosa nesses partidos políticos. Entretanto, observa-se ampla distribuição. Esses prefeituráveis se associam às legendas confessionais, assim como aos partidos personalistas e seculares de direita, incluindo alguns de centro e centro-esquerda.
Quadro 1 – Partidos políticos classificados a partir das categorias de Coppedge, atualizada por Codato, Berlatto e Bolognesi (2018)
Os dados expostos acima reiteram a descentralização partidária dos religiosos na política nacional (RODRIGUES-SILVEIRA; CERVI, 2019). São candidatos que se apresentam em legendas confessionais e seculares. Essa capilaridade, encontrada também nos estados, indica como esse perfil de candidato religioso tem espaço para ascender em diferentes meios, sejam eles ideológicos ou geográficos.
[1] Essa classificação não inclui os partidos Rede e PMB, cada partido contou com um candidato. Essas legendas, relativamente novas, não estão na categorização de Codato, Berlatto e Bolognesi (2018).
Referências
CARVALHO JUNIOR, E. T. DE; ORO, A. P. Eleições municipais 2016: religião e política nas capitais brasileiras. Debates do NER, v. 2, n. 32, p. 15–68, 2018.
CODATO, A.; BERLATTO, F.; BOLOGNESI, B. Tipologia dos políticos de direita no Brasil: uma classificação empírica. Análise Social, v. LIII, n. 229, p. 870–897, 2018.
COPPEDGE, M. A classification of Latin American political parties. Helen Kellogg Institute for International Studies, v. 244, 1997.
RODRIGUES-SILVEIRA, R.; CERVI, E. U. Evangélicos e voto legislativo: Diversidade confessional e voto em deputados da bancada evangélica no Brasil. Latin American Research Review, v. 54, n. 3, p. 560–573, 2019.
SILVA, L. G. T. DA. Religião e política no Brasil. Latinoamérica. Revista de Estudios Latinoamericanos, n. 64, 2017.