O comentário analisa as características mais presentes entre os postulantes durante a exibição do HGPE dos deputados pelo estado do Paraná

Afonso Ferreira Verner e Marina Michelis Fernandes

Na disputa por cargos públicos é comum que os candidatos(as) usem termos ligados à profissão em que atuam, bem como outros termos de identificação pessoal que facilitem a aproximação com seu eleitorado. A utilização de terminologias caracterizantes, inclusive no nome de urna, é recorrente tanto nos cargos no Legislativo, como também na busca por uma vaga no Executivo. Por essa razão, este comentário apresenta os dados referentes às principais características de identificação dos concorrentes às cadeiras da Câmara dos Deputados pelo Paraná em 2018. O intuito é traçar, de modo descritivo, um perfil geral da propaganda política em questão. A importância deste panorama reside no fato de que o HGPE é hoje uma das principais ferramentas de aproximação entre a  elite política e seus eleitores (MIGUEL, 2004).

Ao todo, a Câmara dos Deputados do Paraná somou 450 candidatos em 2018 – destes, 30 foram eleitos para um mandato de quatro anos em Brasília. Todos os 33 partidos políticos registrados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registraram candidaturas de deputado federal em 2018. Os dados apresentados neste texto foram coletados a partir da exibição do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE). Os programas de HGPE coletados foram veiculados entre 1 de setembro e 4 de outubro de 2018. A codificação dessas informações foi baseada em um livro de códigos, elaborado pelo grupo de pesquisa Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP), que leva em conta vários quesitos do conteúdo apresentado nos programas eleitorais. Para esta análise, olharemos especificamente para o gênero do candidato(a); menção ao partido; menção à profissão; e principais temas pautados.

A primeira informação a ser apresentada diz respeito à frequência da variável “sexo do candidato” durante a exibição do HGPE. De um total de 2.016 aparições, 73,8% eram homens, ao passo que somente 26,2% eram mulheres. Tal dado nos indica que a participação feminina no HGPE esteve restrita a poucos segmentos. Sobre isso, Araujo (2005) explica que o fato de esses espaços serem, de um modo geral, ocupados por homens, acaba por gerar padrões de eleição com perfis também associados aos padrões masculinos.

No que diz respeito aos 2.016 segmentos coletados (991 veiculados no período da noite e outros 1.025 veiculados no período da tarde), é importante destacar que em 12,4% – um total de 249 segmentos – houve menção à profissão do(a) postulante. Isso significa que a menção à atividade profissional é aquela com maior incidência. As cinco ocupações profissionais mais citadas pelos candidatos a deputado federal foram: professor(a) com 101 citações (40,5%); policial com 27 citações (10,8%); médico com 22 segmentos (8,8%) e as profissões de empresário e agricultor, que têm, cada uma delas, 19 citações, resultando em 7,6% do total de citações profissionais para cada, como mostra o gráfico 1. As outras profissões, juntas, somam pouco menos de 25% das citações.

Gráfico 1 – Profissões mais mencionadas pelos candidatos(as) à Câmara dos Deputados pelo PR (número de segmentos)

Fonte: CPOP (2021).

Enquanto 12,1% dos segmentos coletados contém menções ao quesito profissional, a menção ao partido atinge apenas 5,2% do total de segmentos, a citação à organização social está em apenas 1,4% da coleta, a menção à região em outros 4,1% e citações ao quesito religioso em apenas 0,2% do total coletado. No caso das etnias, não houve nenhuma menção categorizada desta forma.

A segunda menção mais significativa, portanto, foi com relação aos partidos. Nesse caso, dos 5,2% que citaram os partidos, destacaram-se o Partido dos Trabalhadores (PT), com 3,2%; Novo, com 0,8%; e Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), com 0,5% de frequência. O restante dos partidos mencionados, como Democracia Cristã (DC), Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Partido Pátria Livre (PPL), Partido Verde (PV) e Rede Sustentabilidade, representam uma soma de 0,5%. O gráfico 2 mostra essa relação.

Gráfico 2 – Partidos mais mencionados pelos candidatos(as) à Câmara dos Deputados pelo PR (número de segmentos)

Fonte: CPOP (2021).

Quanto aos que apresentaram alguma temática, a categoria que mais aparece é identificada como “cardápio” (11,8% dos casos), que se aplica quando o candidato(a) pauta mais de um tema sem privilegiar nenhuma questão em específico. Em seguida, destacaram-se “ético e moral” (8,6%); “política institucional” (8,4%); e “minorias” (4,6%). 52% dos segmentos foram enquadrados em “nenhuma temática”. Outros temas, como saúde, educação e economia, apareceram menos (gráfico 3).

Gráfico 3 – Temas mais abordados pelos candidatos(as) à Câmara dos Deputados pelo PR (número de segmentos)

Fonte: CPOP (2021).

Por fim, os dados aqui expostos possibilitam ao menos três reflexões. A primeira delas é que a citação à profissão ainda é um expediente importante na comunicação eleitoral – é possível defender isso diante do número de citações à ocupação profissional perante outros tipos de citação prescritos na coleta. A segunda reflexão diz respeito à baixa citação dos partidos, indicando que as campanhas são mais personalizadas nesse tipo de disputa de lista aberta e se debruçam menos sobre o vínculo entre candidato e partido. A terceira e última reflexão está também relacionada ao perfil da disputa, sinalizando que os temas são tratados de maneira rápida e em formato de “cardápio” – uma explicação para isso pode ser o curto período de exposição que os candidatos(as) a deputado federal têm no HGPE.

Referências

ARAÚJO, Clara. Partidos políticos e gênero: mediações nas notas de ingresso das mulheres na representação política. In: Revista de Sociologia e Política, n. 24, p. 193-215, 2005.

MIGUEL, Luis Felipe. Discursos cruzados: telenoticiários, HPEG e a construção da agenda eleitoral. Revista Sociologias, ano 6, n. 11, p. 238-258, 2004.