Uma análise dos programas dos prefeituráveis na capital paranaense

Bruno Santos e Camilla Gonda

As eleições 2020 foram marcadas por acontecerem em meio à pandemia. Da incerteza de sua realização à decisão do adiamento, toda a discussão esteve centralizada no avanço da contaminação e aglomeração que um processo eleitoral poderia causar. Com a certeza da realização e definição do adiamento para 15 de novembro, candidatos e partidos intensificaram a organização de suas campanhas eleitorais e temas a serem abordados, sobretudo para o HGPE – Horário Gratuito Político Eleitoral. 

O HGPE tem uma importante função enquanto alerta à população de que o período eleitoral está acontecendo e que é necessário prestar atenção nos candidatos e no que eles falam.

"Com o HPGE, a elite política, com candidatos às disputas, é que produz os conteúdos, sem a intervenção de nenhum ator/instituição externo aos partidos. Esses conteúdos têm um objetivo fundamental: convencer o eleitor de que determinado candidato é melhor do que os demais concorrentes. E, o mais importante, através do HGPE os conteúdos informacionais (não mais noticiosos) entram diretamente nas casas dos eleitores" (CERVI, 2010, p. 13).

Ainda, os temas pautados no HGPE, em geral, refletem as discussões sociais do período, “(…) tornando-se importante, então, identificar sobre o que os candidatos falam para ter conhecimento sobre parte do conteúdo que está circulando na sociedade em períodos eleitorais” (ALBUQUERQUE E TAVARES, 2018, p.162). Em 2020, a pandemia foi o grande tema nacional e local.

No início do HGPE, em 27 de setembro de 2020, o Brasil entrava em descenso no número de novos casos e mortes, com uma média móvel de 26.811 novos casos e 692 mortes em relação ao período em que se iniciaria o HGPE se mantida a data original, 28 de agosto, quando o Brasil possuía uma média móvel de 38.925 novos casos e 878 de mortes. Ainda eram números altos, mantendo-se a pandemia como o principal problema do país e assunto mais debatido e comentado.

Partindo desse cenário, utilizando dos dados coletados pelo Grupo de Pesquisa em Comunicação e Política (CPOP) acerca do HGPE 2020 de Curitiba, buscou-se quantificar a incidência dos temas “Saúde” e “Covid-19” nos programas eleitorais e o quanto a pandemia influenciou nos programas exibidos.

Observa-se na tabela abaixo a incidência dos temas em sua média temporal (em relação ao número de segmentos) e o total de segmentos em que aparecem. Os segmentos dentro do programa de um candidato são pontuados a partir do momento em que existe a mudança de locutor, tema ou cenário.

Tabela 1 – Temas “Saúde” e “COVID-19” por média e total segmentos no tempo dos partidos no HGPE de 2020

Fonte: autores (2021).

Analisando o tema “Saúde”, PL, MDB e PSL foram os partidos que mais abordaram a temática na média, enquanto o PT, PV, PSOL e AVANTE não comentaram a respeito em nenhum segmento. 

Em razão da campanha ter ocorrido em meio à pandemia, o CPOP observou que a coluna “Saúde” poderia se apresentar muito ampla, coletando assim os dados especificamente sobre a COVID-19 em outra categoria. É possível notar que apenas cinco partidos falaram diretamente deste tema. O DEM, partido do prefeito que concorreu à reeleição, Rafael Greca, embora tenha ficado entre os que menos abordaram o tema “Saúde”, apresentou-se como o partido que mais abordou a temática da COVID-19 na média. Ficando em segundo lugar, há o PSL, partido que, embora tenha terminado a disputa em terceiro, era visto como o principal opositor. Nota-se também a expressiva média do partido PCdoB, com 15 segundos na média dos seus 18 segmentos. 

É possível analisar assim que o PSL apostou tanto no tema “Saúde” de maneira geral como no tema “COVID-19”. Enquanto o DEM, que trouxe o tema “Saúde” apenas em 1 segmento, apresentou o tema “COVID-19” em diversos momentos. Já o PL, partido que na média mais apresentou o tema “Saúde”, não abordou o tema “COVID-19” em específico. Três partidos não abordaram nenhum dos dois temas em segmentos: PT, PSOL e AVANTE.

Pode-se afirmar, então, que não há uma relação direta dos temas “Saúde” e “COVID-19”, aparecendo ambos, apenas um ou nenhum deles dependendo do partido. Logo, a pandemia não esteve atrelada especificamente à saúde em todos os programas.

Tratando exclusivamente da COVID-19, é preciso entender o quanto estes segmentos e suas médias representam no tempo total de cada partido no HGPE (tabela 2).

Tabela 2 – Tempo total do HGPE 2020 por partido e tempo dedicado ao tema “COVID-19” (em segundos)

Fonte: autores (2021).

O gráfico 1, abaixo, mostra qual o percentual de tempo dos programas eleitorais de cada partido que foi dedicado exclusivamente ao tema “COVID-19”.

Gráfico 1 – Percentual de aparição do tema “COVID-19” em relação ao tempo geral de cada partido no HGPE 2020

Fonte: autores (2021).

Conforme o gráfico acima, o DEM, que embora tenha liderado na média com 41 segundos por segmento, mostra que dedicou apenas 4,6% do seu tempo total para a temática COVID-19. O PSL, que era o segundo no tempo médio, usou apenas 2,7% do seu tempo neste tema. Já o PCdoB, que liderou no total de segmentos, foi o partido que mais dedicou espaço nos seus programas para o tema, com 40,7% do tempo.

É possível afirmar, assim, que, embora a pandemia tenha sido o grande assunto durante o período do HGPE, não refletiu explicitamente nos programas apresentados pelos candidatos, aparecendo em poucos segmentos e nos programas de apenas cinco partidos. Importante ressaltar que esta análise é sobre a abordagem explícita aos temas citados. É possível que a pandemia possa ter aparecido implicitamente aliada a outras temáticas ou no tema “Cardápio”, em que vários temas são apresentados ao mesmo tempo.


O banco de dados utilizado na produção deste texto está disponível para ser compartilhado com pesquisadores e profissionais interessados em campanhas eleitorais e análise de redes sociais on-line. Para obter o material, contate nucleocpopufpr@gmail.com.


Referências

ALBUQUERQUE, Afonso; TAVARES, Camilla Quesada. Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral: estilos, estratégia, alcance e desafios para o futuro. In: FIGUEIREDO, Argelina Cheibub; BORBA, Felipe (Orgs.). 25 anos de eleições presidenciais no Brasil. Curitiba: Appris, 2018. pp. 147-170.

CERVI, Emerson O “Tempo da política” e a distribuição dos recursos partidários: uma análise do HGPE. Revista Em Debate, Belo Horizonte, v.2, n.8, p. 12-17, ago. 2010.