E você pode fazer muito com pouco que a geografia eleitoral te oferece.

Ricardo Dantas Gonçalves.

(Post de 18/03/2017 migrado do antigo site do CPOP)

O estudo de eleições pode ser feito em três escalas: a que trata do eleitor individual; a que utiliza comportamento agregado de eleitores em espaços delimitados dentro de um país; e as análises feitas entre nações. A Geografia Eleitoral se encaixa na segunda escala. O tema foi inaugurado por cientistas políticos e data do início do século XX na França (JOHNSTON, 2006, p. 2). De lá pra cá, o uso do espaço como categoria analítica principal ou complementar nos estudos eleitorais evoluiu muito. Infelizmente, no Brasil a aplicação de estatística espacial se restringe a um número muito baixo de publicações (GONÇALVES, 2015). O uso das ferramentas geoquantitativas mais avançadas têm se limitado, em grande medida, aos dados de países desenvolvidos, particularmente os Estados Unidos da América (MARZAGÃO, 2013, p. 288).

Enquanto abordagem teórica, a Geografia Eleitoral trata de temas de notável importância, com ligações objetivas com problemas de democracia – como comportamento eleitoral e efeito de regras eleitorais. Os trabalhos da área, de maneira geral, podem ser divididos em três linhas: estudos dos efeitos da composição dos espaços; estudos dos efeitos do contexto na definição de comportamento social e; estudos dos efeitos da organização territorial dos sistemas eleitorais. A aplicação de Geografia Eleitoral na Ciência Política do Brasil pode ser dividida em dois grandes temas: um que utiliza o espaço para explorar temas relativos à representação e consequências de regras eleitorais, usando os padrões territoriais de voto no espectro concentrado-disperso; outro que associa variáveis contextuais e composicionais às divulgações de resultados eleitorais, tratando de estruturas macro de comportamento eleitoral (o GIF 1, abaixo, é um exemplo desta linha)

FONTE: Elaboração própria

E por que “a Geografia Eleitoral precisa de você”? Esse comentário visa divulgar a metodologia aos cientistas políticos, na aposta de que na massa de dados disponíveis existam padrões sociopolíticos ocultos e a Geografia Eleitoral possa ser uma luz nesse caminho. A linha de pesquisa é sub-estudada frente à disponibilidade de dados e potencialidade das explorações. A análise espacial pode parecer complexa, entretanto os avanços tecnológicos e a disponibilidade de dados georefenciados permitem, de modo relativamente simples, o acesso à modelagem espacial e procedimentos de estimação e métodos de inferência.

FONTE: Elaboração própria

Para os interessados, existem softwares livres disponíveis para usuários não familiarizados com cálculos robustos da estatística espacial, programas de cartografia automática que possibilitam analisar grandes conjuntos de dados espaciais, utilizando uma variedade de métodos. O GeoDa, Philcarto, Qgis são exemplos e contam com diversos manuais detalhados. Assim como o R e Python linguagens de programação livre e possuem diversos pacotes específicos para geoestatística e processamento de dados geográficos. Como bem disse Terron (2012, p.17): “Juntem-se a nós nesta Jornada!”

Links úteis para se aventurar pela Geografia Eleitoral.

Softwares citados, bem como os manuais, podem ser adquiridos gratuitamente pelos endereços:

<https://geodacenter.asu.edu/software>

 <http://philcarto.free.fr/>

 <http://www.qgis.org/>

<https://www.r-project.org/>

<https://www.python.org/>.

Bancos de dados:

Canal que reúne os arquivos para download de todas as áreas do IBGE: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/>

Núcleo de Geotecnologias da Universidade do Estado do Rio de Janeiro com 571 diretórios de dados geográficos gratuitos para consulta e download: <http://www.labgis.uerj.br/fontes_dados.php>

Referências para introdução no tema:

TERRON, Sônia. Geografia Eleitoral Em Foco. Revista Em Debate, Belo Horizonte, v. 4, n. 2, p. 8-18, 2012.

SONNLEITNER, Willibald. Explorando las dimensiones territoriales del comportamiento político: Elementos y reflexiones teórico-metodológicas sobre la geografía electoral, la cartografía exploratoria y los enfoques espaciales del voto. Estudios Sociológicos, v. 31, p. 97-142, 2013.

JOHNSTON, Ronald Jon. Electoral Geography. In: WARF, B. Encyclopedia of Human Geography. Califórnia, Estados Unidos da América: Sage Publications, 2006.

ELAZAR, Daniel J. POLITICAL SCIENCE, GEOGRAPHY, AND THE SPATIAL DIMENSION OF POLITICS. Political Geography, Durham, v. 18, n. 8, p.875-886, nov. 1999.

AGNEW, John. Mapping politics: how context counts in electoral geography. Political Geography, Durham, v. 2, n. 15, p.129-146, abr. 1996.

ZAVALA, R. G. B. Génesis de la geografía electoral. Revista Espacialidades. Cuauhtémoc-México: Universidad autónoma Metropolitana, v. 2, n. 1, p. 80-95, 2012.

Referências para análise espacial:

SMITH, M.; GOODCHILD, M.; LONGLEY, P. Geospatial Analysis: A Comprehensive Guide to Principles, Techniques and Software Tools. 5ª eds. Winchelsea: The Winchelsea Press, 2015.

RODRIGUES-SILVEIRA, Rodrigo. Representación espacial y mapas. In: Cuadernos Metodológicos 50, Madrid: Centro de Investigaciones Sociológicas, 2013

John O’Loughlin. Spatial Analysis in Political Geography. In J. Agnew, K. Mitchell and G. O Tuathail, eds. A Companion to Political Geography. Oxford: Basil Blackwell, p. 30-46, 2008.

REFERÊNCIAS

GONÇALVES, Ricardo Dantas. Eleições Mapeadas: Como se Infere Sobre a Dimensão Geográfica das Eleições Presidenciais Brasileiras?. Revista Eletrônica de Ciência Política, Vol. 6, No. 2, p. 364- 381, 2015.

JOHNSTON, Ronald Jon. Electoral Geography. In: WARF, B. Encyclopedia of Human Geography. Califórnia, Estados Unidos da América: Sage Publications, 2006.

MARZAGÃO, Thiago. A dimensão geográfica das eleições brasileiras. Opinião Pública, Campinas, v. 19, n. 2, p. 270-290, 2013.

TERRON, Sônia. Geografia Eleitoral Em Foco. Revista Em Debate, Belo Horizonte, v. 4, n. 2, p. 8-18, 2012.