As pesquisadoras Maíra Orso, Júlia Frank de Moura e Dayane Saleh comparam como dois segmentos da direita – a não-oficial e a institucional – contribuem para a crise de deslegitimação das instituições midiáticas e se existem diferenças significativas entre as duas esferas da ideologia. A literatura da área demonstra que os principais comportamentos dos grutos de direita radical são o desrespeito às normas constitucionais, os ataques às instituições e valores democráticos, especialmente às instituições jornalísticas. Para investigar isso, foram analisados 5.862 tweets, coletados de ativistas e políticos de direita, com a hipótese de que os políticos de direita são mais amenos em seus discursos ao mencionarem a imprensa, enquanto os ativistas são mais extremistas.
Ao fazer a Classificação Hierárquica Descendente do corpus dos perfis institucionalizados, que parte de 2.168 tweets, foram encontrados três grupos temáticos, como é possível ver na imagem abaixo. A classe 2 (verde) lidera com 61,2% das palavras estatisticamente relevantes, enquanto que a classe 1 (vermelha) é a intermediária, aparecendo em 21,3% do corpus, e a classe 3 (azul), representa 17,5% do total.
Dendrograma dos perfis institucionais com clusters temáticos oferecidos pela CHD
A investigação dos 3.694 tweets dos perfis não-institucionalizados, origina, também, três clusters a partir da CHD, como é possível ver abaixo. Nesse caso, encontramos um cluster voltado ao jornalismo (em azul).
Dendrograma dos perfis não- institucionais com clusters temáticos oferecidos pela CHD
Contas institucionalizadas
A classificação hierárquica descendente dos tweets dos três perfis institucionalizados formou três clusters temáticos (representados pelas cores verde, vermelho e azul). O cluster em azul nos mostra termos em destaque como: TSE, Alexandre, inquérito, sistema, STF, voto, constituição, vazamento, exército e eleição; demonstrando clara relação com a temática eleições de 2022 e o STF — veremos mais à frente na análise que ele apresenta bastante similaridade com um dos clusters temáticos formado pelos termos mais utilizados nos tweets dos atores não-institucionalizados.
O cluster representado pela cor verde exibe relação com a oposição, contando com palavras como: Lula, corrupção, guerra, sujo, olhar e oposição. Por fim, o cluster da cor vermelha é relacionado a propostas de campanha e promessas durante o período eleitoral, com destaque para termos como: populismo, combustível, ônibus, aumentar, salário, projeto e universidade. Pode-se afirmar que os tweets dos perfis institucionalizados (Filipe Barros, Kim Kataguiri e Arthur do Val), foram utilizados para três assuntos principais: as eleições de 2022 e o STF; para falar da oposição e da corrida eleitoral; e para propostas de campanha.
A diferença estatística das disposições dos termos nos eixos x (55,15%) e y (44,85%) é pequena, o que significa que os clusters têm relações parecidas entre si, e que os termos em azul estão tão distantes dos verdes, quanto estão dos vermelhos (não há diferença na relação entre clusters) – são três assuntos aparentemente distintos, que não tendem a se misturar.
CHD de Reinert para os tweets de perfis institucionalizados
Fonte: autoras (2023).
Abaixo, no quadro 1, identificamos os clusters a partir dos contextos oferecidos pelos seus termos estatisticamente significativos (p < 0,0001).
Categorias temáticas e termos-chave para classificação do corpus institucionalizado
Classe da CHD | Categoria | Léxicos mais presentes |
Classe 1 | Eleições e STF | TSE, Alexandre, inquérito, sistema, STF, voto, constituição, vazamento, exército |
Classe 2 | Oposição e corrida eleitoral | Lula, corrupção, guerra, sujo, olhar, oposição |
Classe 3 | Propostas de campanha | Populismo, combustível, ônibus, aumentar, salário, projeto e universidade |
Fonte: autoras (2023).
O tweet de Filipe Barros, de 7 de julho de 2022 é um exemplo do cluster 1: “Interessante ver a enorme DISPOSIÇÃO do @TSEjusbr ,solicitando OBSERVADORES internacionais ,da OAB, CNJ,…mas atrasando e dificultando a participação dos especialistas das Forças Armadas,que podem contribuir DE FATO com maior SEGURANÇA nas eleições”. Para exemplificar o cluster 2, temos o tweet de 22 de junho, de Kim Kataguiri: “É, turma, também achamos péssimo ex-ministro preso envolvido em esquema de corrupção, mas a gente lembra dos verões passados também, hein. Não somos nem Lula nem Bolsonaro à toa. A gente sabe muito bem o que rolou durantes os governos petistas”. Já para representar o cluster 3, propostas de campanha, temos o tweet de 22 de junho de Kim Kataguiri: “No curto período em que passei a ocupar a presidência da Comissão de Educação na Câmara dos Deputados, me foquei em aumentar as tarefas de fiscalização”.
Contas não-institucionalizadas
A classificação hierárquica descendente dos tweets dos três perfis não-institucionalizados também formou três clusters temáticos (representados pelas cores verde, vermelho e azul), tal qual a CHD realizada com o corpus dos tweets de perfis institucionalizados. O que indica que os temas mais abordados nos tweets das três contas institucionalizadas selecionadas se assemelha aos temas destaque das não-institucionalizadas selecionadas, pois ambas formam três clusters temáticos bem parecidos entre si (Figura 2). Assim como na CHD dos perfis institucionalizados, aqui também temos um cluster que foca nas eleições e no STF (cluster 1), e um cluster que fala na oposição (cluster 3). O terceiro cluster formado destaca termos sobre jornalismo (cluster 2). Os clusters, portanto, indicam que os perfis não-institucionalizados analisados (@n4nd4MBL; @taoquei1; e @GutoZacariasMBL) abordam principalmente três assuntos distintos em seus perfis no Twitter, no período analisado, sendo eles: eleições e STF, jornalismo, e oposição/esquerda.
CHD de Reinert para os tweets de perfis não-institucionalizados
Fonte: autoras (2023).
Assim como na CHD dos perfis institucionalizados, aqui também. A diferença estatística das disposições dos termos nos eixos x (56,24%) e y (43,76%) é pequena, indicando que os três clusters têm relações parecidas entre si.
Categorias temáticas e termos-chave para classificação do corpus não-institucionalizado
Classe da CHD | Categoria | Léxicos mais presentes |
Classe 1 | Eleições e STF | Alexandre, inquérito, ministro, processo, aprovar, advogado, decisão, stf, Moraes |
Classe 2 | Jornalismo | Seguidor, jornalismo, amigo, compartilhar, jornal, matéria, compartilhar, agenda, fake news |
Classe 3 | Oposição/ esquerda | Brasil, mundo, matar, vida, país, trabalhador, rua, fome, ditadura, economia, socialista, comunista. |
Fonte: autoras (2023).
Para exemplificar o cluster 1 (eleições e STF) temos o tweet do perfil @taoquei1, de 18 de julho de 2022: “Infelizmente estou proibida de publicar a verdade, delações homologar pelo STF. #PTePCCnuncaTiveramLigacaoAlguma; tudo não passa de uma ilusão das nossas cabeças. Me perdoe @Alexandre, achei que delacoes públicas pudessem ser comentadas”. Exemplificando o cluster 2 (jornalismo), temos o tweet de 9 de julho de 2022, também realizado pelo perfil @taoquei1 – “Fake News descarada… Isso não é Jornalismo é Militância Suja e Irresponsável! Depois ficam com mimimi dizendo que Bolsonaro ataca e não respeita a Imprensa. Na boa,tem como respeitar?”. E, para exemplificar o cluster 3 ( oposição/esquerda), temos o tweet de @GutoZacariasMBL, de 2 de agosto de 2022: “O BRASIL É UMA PIADA! O mensaleiro condenado Roberto Jefferson, ex-aliado de Bolsonaro e que está em prisão domiciliar, se lançou candidato à presidência da república pelo PTB. O fundo do poço sempre é mais fundo do que achamos”.
Os dados apontam para a continuidade da relevância das teorias neoinstitucionalistas, que enfatizam o papel das instituições na organização da sociedade e investigam como essas instituições moldam as escolhas e comportamentos individuais e coletivos. Mesmo em ambientes digitais horizontalizados, como as mídias digitais, essas teorias ainda têm validade. No entanto, é importante notar que a elite política de direita não necessariamente demonstra respeito pelas instituições jornalísticas. Para afirmar isso com segurança, seria necessário conduzir uma análise sintática mais aprofundada para entender de forma mais qualitativa o significado das declarações feitas pelos políticos, considerando que pesquisas anteriores já documentaram conflitos entre a mídia e políticos conservadores de direita.
REFERÊNCIAS
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