Por: Maíra Orso e Dayane Saleh

A partir dos laços permitidos pela internet, a direita radical brasileira ressurge (MIGUEL, 2020) e ganha visibilidade, movimentando o debate público com discursos reacionários e conservadores. A ascensão da extrema-direita já vem sendo discutida pela literatura nacional e internacional, visto que, a instrumentalização das mídias sociais para veicular narrativas anti-democráticas, anti-institucionais, fomento de campanhas de desinformação,  menções de ódio à determinados grupos sociais e obsessão à teorias da conspiração têm sido associados, em suma maioria, à páginas ultraconservadoras.

A direita no Brasil passou a se organizar de maneira mais ativa nas plataformas digitais a partir do cenário político de 2013 e se tornou mais evidente após 2015, na onda de manifestações que deu origem ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff (ROCHA, 2018). Na situação de instabilidade política, a direita se destaca (MESSENBERG, 2017), Bolsonaro se projeta como liderança nacional e a internet assume papel decisivo na sua candidatura. As eleições de 2018 são marcadas pelo uso de robôs e pela difusão de fake news (RUEDIGER, et al 2018; HARBATH, 2018; DOURADO, 2020).

As redes sociais permitiram a globalização da política. Os grupos de discussão política podem atingir uma escala global e, desta forma, as redes adquiriram um papel enorme na transmissão da comunicação política. Assim, o papel das redes não é apenas o de discussão. Estas tornaram-se um instrumento de partilha que anteriormente era apenas garantido pelos media tradicionais. Esta característica é muito comum e importante na rede social Twitter. A discussão política presente no Twitter parte em bastantes ocasiões de um comentário a tweets anteriores criados por políticos envolvidos.

O que observamos no Brasil são grupos que mantêm o conservadorismo nos costumes e na economia adotam a ideologia libertariana, que prega o menor Estado possível, afirmando que qualquer situação que nasça de mecanismos de mercado é justa por definição, por mais desigual que possa parecer. Fonseca (2014) explica que mesmo muito heterogênea e abarcando distintos grupos sociais, essa nova direita se aproxima em aspectos específicos.

A tal nova direita é no mínimo duas coisas bem distintas. E, dessas duas, uma nem é direita, embora seja nova. Nesse mesmo balaio estão dois grupos: conservadores e libertários. Eles têm algo em comum: a insatisfação com o estado do Brasil e a descrença nas opções políticas disponíveis ou mesmo na política como um todo. Não pertencem à  direita tradicional e, obviamente, se opõem ao governo do PT. O que não quer dizer que aceitem de bom grado o rótulo de direita. (FONSECA, 2014, s/p)

Nesse contexto em que o ativismo de direita tem ganhado representantes e fontes de informação próprias nas mídias digitais e que se percebe indícios de que seus discursos denotam ataques institucionais, buscou-se, portanto, analisar como isso se estabelece a partir de duas páginas do Twitter, a  @Direita Brasil e a @Verde e Amarela.  Os perfis Direita Brasil e Verde Amarela foram selecionados como objeto de análise a partir de critérios de visibilidade, uma vez que essas contas congregam maior número de seguidores e compartilhamentos, comparativamente a outros perfis de direita, bem como elevado número de seguidores e engajamento. 

Buscou-se contextualizar os conteúdos distribuídos pelos dois perfis. Com 68% das postagens, o principal conteúdo diz respeito ao tema político institucional. “@danielPMERJ Daniel, assim q o nhonho sair, cobrem pautar a pec do voto impresso p/ 2022 Converse com a base, com o presidente. Façam o possível e o impossível” exemplifica postagens que dialogam sobre a cena política.  Por outro lado, a pandemia também evidenciou os assuntos relacionados à saúde (6,4%), ainda que com um viés político e questionador sobre as decisões de governadores e prefeitos, com similaridade de teor entre o perfil e o discurso recorrente do presidente. Conforme Malerba e Fernandes (2021), tem-se uma narrativa integrada que amplifica argumentos. Ou seja, embora as páginas não sejam oficiais e representativas da direita partidária, corroboram seus discursos. 

Outro ponto interessante a ser mencionado é que os três discursos mais recorrentes observados nas páginas vão de encontro com as características identificadas na literatura sobre a direita, são eles: apoio ao presidente ou líder político (46%), conspiracionista (33%) e identitário (28%), ainda que o anticomunismo e anti-minorias também apareçam com 11% e 7%, respectivamente. De diferente modo, o discurso anti-imigração, típico da conjuntura europeia e norte-americana não repercute no Brasil, aparecendo pontualmente. 

 Discursos da Direita Brasil e Verde e Amarela no Twitter

DiscursosN%
Apoio ao presidente48346,40%
Conspiracionista34132,80%
Identitário28727,60%
Anticomunismo11210,80%
Anti-minorias737,00%
Destituição dos poderes262,50%
Defesa e apologia à ditadura161,50%
Anti-migração121,20%
Total1350100,00%

No período analisado os ataques se direcionaram em primeiro lugar ao Supremo Tribunal Federal (29,2%), que tem apresentado ação intensiva durante o governo de Jair Bolsonaro, o que muitas vezes desagrada as páginas Direita Brasil e Verde e Amarela. Podemos notar essa insatisfação nos tweets “O SStf fará LIVE com Fernandinho Beira-Mar também?” e “‘STF deve barrar uso de Cloroquina’ ‘STF autoriza Estados a descumprir decreto sobre serviços essenciais de Bolsonaro’ ‘STF barra nomeação de Diretor Geral da PF’ Quem são os anti-democráticos mesmo?? Precisa desenhar ou está claro quem são os BANDIDOS dessa nação??”. 

Tabela 5 – Classificação dos ataques institucionais

Ataques InstitucionaisN%
Deputados8116,3
Senadores479,5
Legislativo (Senado e Câmara)10320,7
STF14529,2
Juízes do STF479,5
Prefeitos214,2
Prefeituras112,2
Partidos163,2
CPI da COVID204
Mais de um ataque61,2
   
Atacam49717,3
Não atacam237682,7
Total2873100

O principal inimigo da direita, dentre os partidos, é o PT, que aparece em 33% desses ataques. O cenário do antipetismo no Brasil, mas principalmente por ser uma articulação de longa data, desde o Orkut (CHAIA, 2007; ROCHA 2019), é algo bastante evidente. Vale ressaltar que não se trata de simples oposição, o que seria saudável para a democracia, mas uma desqualificação dos oponentes associada à estratégias de sarcasmo, ironia e outros repertórios discursivos, algo já discutido em outros planos de atuação digital da direita (LOBANOV, 2019; EKMAN, 2014; MASSUCHIN, CHAGAS, 2021).

Por: Dayane Saleh e Maíra Orso