Por: Rafael Linhares e Padilha
Com a profissionalização de diversas áreas ligadas à política, campanhas eleitorais e com a diversidade de meios de comunicação disponíveis para os eleitores (COLEMAN, BLUMLER, 2009), cada vez mais é possível identificar as mais diversas estratégias de comunicação de massa pensadas pelas equipes de campanha e pelos candidatos durante os pleitos eleitorais.
Nesse sentido, é possível identificar uma maior difusão do Facebook como ferramenta de comunicação digital a partir das eleições de 2014 (BRAGA; CARLOMAGNO, 2018) na qual a maior parte dos eleitos possuíam perfil nessa mídia digital.
Assim, alguns trabalhos indicam a existência de associações entre a carreira política de parte das elites políticas brasileiras com a quantidade de seguidores nas redes sociais, idade e quantidade de votos recebidos (BRAGA; TAVARES; PADILHA; MACEDO, 2021).
Ainda, no presente comentário, utilizaremos uma adaptação da tipologia proposta por Miguel Carreras (2012) para a categoriazação da carreira política dos deputados estaduais de Santa Catarina. Tal adaptação é composta por três tipos de parlamentares: os insiders, os mavericks e os outsiders (WISSE; LINHARES; BRAGA, 2022):
i) os outsiders: são aqueles deputados que não exerceram nenhum cargo eletivo antes do ano de 2018;
ii) os insiders: são os parlamentares que já exerceram especificamente mandatos de deputado estadual anteriormente;
iii) os mavericks: são os parlamentares que já possuíram carreira política eletiva prévia, em outros níveis de representação, mas nunca haviam exercido mandatos de deputado estadual antes de 2018.
Inicialmente iremos apresentar algumas informações descritivas sobre a votação recebida pelos deputados estaduais catarinenses assim como suas quantidades de seguidores no Facebook. Na média, os parlamentares receberam uma quantia de votos de 38.508 e possuíam 58.299 seguidores no Facebook. Como mostra a tabela abaixo:
Tabela 1
Estatísticas descritivas sobre a quantidade de seguidores no Facebook e votos recebidos em 2018
ESTATÍSTICAS | QUANIDADE DE SEGUIDORES | QUANTIDADE DE VOTOS |
VALOR MÍNIMO | 5.231 | 14.685 |
1º QUARTIL | 38.044 | 33.891 |
MEDIANA | 44.125 | 36.872 |
MÉDIA | 58.299 | 38.508 |
3º QUARTIL | 65.901 | 42.969 |
VALOR MÁXIMO | 213.074 | 62.762 |
Fonte: GEIST – UFPR
Sobre os votos recebidos em 2018 pelos deputados estaduais eleitos por Santa Catarina, é possível perceber que a menor quantidade de votos recebidos por um parlamentar foi de 14.685. Seguindo para o primeiro quartil, o valor que representa tais parlamentares é de 33.891 votos. A mediana da distribuição é de 36.872 e a média é de 38.508 votos. Por fim, o terceiro quartil e o valor máximo são representados, respectivamente, pela quantidade de 42.969 e 62.762 votos.
Sobre a quantidade de seguidores no Facebook dos deputados estaduais eleitos pelo Estado de Santa Catarina, é possível perceber que o parlamentar que menos agremiou seguidores possui 5.231 acompanhantes nesta rede social. Seguindo para o primeiro quartil, o valor que representa tais parlamentares é de 38.044 seguidores. A mediana da distribuição é de 44.125 e a média é de 58.299 seguidores. O terceiro quartil e o valor máximo são representados, respectivamente, pela quantidade de 65.901 e 213.074 seguidores. Por fim, ainda podemos notar alguns parlamentares que são outliers na distribuição de seguidores. Como demonstra o boxplot abaixo:
Gráfico 1
Distribuição de seguidores dos parlamentares no Facebook.
Para o caso da Assembleia de Santa Cataria é possível identificar a presença de quatro outliers no Facebook, são eles os deputados por ordem decrescente: Sergio Motta (213.074), João Amin (139.539), Bruno Souza (133.366) e Ana Caroline Campagnolo (128.902). Tais parlamentares sobressaem dos demais na quantidade de seguidores no Facebook, tal fato nos permite classificá-los (as) como outliers nesta rede social e essa característica será discutida a seguir.
Agora, iremos apresentar a frequência dos parlamentares catarinenses divididos a partir da adaptação de carreira política proposta no presente trabalho. Assim, podemos identificar 17 (42,5%) parlamentares insiders, 13 (32.5%) mavericks e 10 (25%) outsiders. Contemplando os 40 deputados eleitos pelo Estado, como mostra a tabela abaixo:
Tabela 2
Distribuição de parlamentares por carreira política.
TIPOLOGIA DE CARREIRA POLÍTICA | FREQUÊNCIA | PERCENTUAL | PERCENTUAL CUMULATIVO |
INSIDER | 17 | 42.5% | 42.5% |
MAVERICK | 13 | 32.5% | 75% |
OUTSIDER | 10 | 25% | 100% |
TOTAL | 40 | 100% | 100% |
Fonte: GEIST – UFPR
O próximo passo da presente análise é articular os conceitos de outliers no Facebook com a tipologia de carreira política trabalhada anteriormente, junto à quantidade de votos recebidos pelos deputados estaduais catarinenses eleitos no pleito de 2018. Tais informações estão reunidas no gráfico abaixo:
Gráfico 2
Relação entre tipologia de carreira política, quantidade de votos no Facebook e votação recebida em 2018
O gráfico de dispersão é dividido em quatro quadrantes a partir das linhas que correspondem às médias de votos recebidos pelos deputados estaduais eleitos em 2018 (linha azul, horizontal) e a quantidade de seguidores de cada parlamentar no Facebook (linha preta, vertical). Cada ponto no gráfico representa um parlamentar e o tamanho da circunferência está ligada à sua quantidade de seguidores.
Ainda, representamos a tipologia de carreira política através de três cores: a cor rosa indica os parlamentares insiders, a cor verde indica os mavericks e a azul os outsiders. Por fim, o eixo y apresenta a quantidade de votos, o eixo x a quantidade de seguidores e na parte inferior direita do gráfico é indicado coeficiente de correlação de Pearson.
A média de votos foi de 38.508 e a média de seguidores dos parlamentares é de 58.299. Podemos identificar que nos dois primeiros quadrantes, tanto o superior esquerdo quanto o inferior esquerdo, estão concentrados todos os “não-outliers” da distribuição. Ainda nessas mesmas áreas a tipologia de carreira política é bem diversa, não apresentando predominância de insiders, mavericks ou outsiders.
Quando olhamos para a segunda parte do gráfico, que corresponde aos quadrantes direito inferior e direito superior, identificamos uma predominância dos outsiders correspondendo a metade (2/4) dos casos, seguido por um caso de políticos insiders (1/4) e também um caso de políticos mavericks (1/4). Por fim, para o caso catarinense, ainda podemos observar que a correlação entre votos e quantidade de seguidores é baixa, uma vez que o coeficiente de Pearson retornou um p-value de 0.1963.
REFERÊNCIAS
BRAGA, S. S. CARLOMAGNO, M. C. Eleições como de costume? Uma análise longitudinal das mudanças provocadas nas campanhas eleitorais brasileiras pelas tecnologias digitais (1998- 2016). Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, v. 26, p 7-62, 2018.
BRAGA, Sérgio; TAVARES, Diogo; PADILHA, Rafael Linhares e; MACEDO; Márcio Giovanni. OUTLIERS SÃO OUTSIDERS? PERFIL DOS DEPUTADOS ESTADUAIS “HEAVY USERS” DE MÍDIAS DIGITAIS NA LEGISLATURA 2019-2023. Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação da Câmara dos Deputados – E-LEGIS. Brasília, 2021.
COLEMAN, Stephen; BLUMLER, Jay G. The Internet and Democratic Citizenship: Theory, Practice and Policy. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.
CARRERAS, Miguel. The Rise of Outsiders in Latin America, 1980-2010: An Institutionalist Perspective.Comparative Political Studies 45(12): 1451–82, 2012.
WISSE, F.; LINHARES, R; BRAGA, S. São os outliers, outsiders? Perfil dos deputados federais usuários intensivos de mídias digitais na legislatura 2019-2023. In: Adriano Nervo Codato; Gabryela Gabriel; Nilton Sainz; Maiane Bittencourt; Rodrigo da Silva. (Org.). A Profissão política: investigações sobre políticos profissionais no Brasil. 1ed.Curitiba: Massimo Editorial, 2022, v. 1, p. 108-144.
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