Este estudo produzido por Lucas Zulin analisa as eleições municipais brasileiras de 2016 e 2020, focando na raça/cor dos candidatos e eleitos. Utilizando dados do TSE e IBGE, examina se houve mudanças na diversidade étnico-racial e participação eleitoral. A pesquisa busca compreender a representatividade de candidaturas não-brancas.

O presente trabalho teve como objetivo comparar os dados das eleições brasileiras para o legislativo municipal de 2016 e 2020 no que tange a declaração de raça/cor dos candidatos e eleitos nos pleitos. Com base nos dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A escolha das eleições de 2016 e 2020 se dá pela necessidade de avaliar se há indícios de mudanças entre os dois pleitos, aumentando a participação eleitoral e/ou aumentando a diversidade étnico-racial dos eleitos, visando fazer uma análise exploratória dos dados.

Para responder tais questões foram coletados os dados, junto ao TSE, das eleições de 2016 e 2020. As análises foram feitas usando o ambiente R e as bibliotecas rcmdr. Para tal trabalhamos com variáveis como regiões, ideologia partidária e também tamanho do partido para entender se houve e, caso sim, como se deram as mudanças no cenário de sub-representação de candidaturas não-brancas. Para tal post, teremos como questão norteadora o isolamento de uma dessas variáveis (ideologia partidária), tendo como questão: i) A ideologia política é uma variável importante para se pensar o desempenho eleitoral de candidaturas não-brancas e, caso sim, como impactam?;

Ao fim do levantamento de dados, levantamos um corpus de pesquisa com a seguinte distribuição:

Para o corpus de análise de dados, retiramos os considerados inaptos, visto que eles não participaram do processo de votação, então ao analisar tanto a oferta de candidaturas, quanto a eleição das mesmas, a atuação deles não teriam relevância para a pesquisa. Sendo assim, formando a composição do corpus da pesquisa, 437.424 candidatos(as) a vereança em 2016 e 400.707 candidatos(as) a vereança em 2020. Dos quais viriam a preencher 57.869 e 55.844 vagas, respectivamente. Desses, também não estarão relacionados nos dados aqui apresentados 0,01% (34) das candidaturas e 0,005% (3) dos eleitos, em 2016 e 1,1% (4.555) das candidaturas e 1% (554) dos eleitos, em 2020, dos quais o TSE não coletou declaração de raça/cor. 

No que diz respeito à ideologia partidária, sistematizamos nossos dados segundo a classificação proposta por Bolognesi, Ribeiro e Codato (2022). Os autores vão, através de aplicação de surveys em especialistas, no caso o membros associados a ABCP (Associação Brasileira de Ciência Política) tentar reclassificar as ideologias políticas dos partidos brasileiros. Pedindo para os especialistas os colocarem numa escala de 0 à 10, onde 0 significa extrema esquerda e 10 extrema direita, gerando assim uma média do posicionamento dos partidos brasileiros. A partir dos dados dos autores, optou-se por classificar os partidos em: extrema-esquerda (média entre 0-2), esquerda (média entre 2-4), centro (média entre 4-6), direita (média entre 6-8) e extrema-direita (média entre 8-10) chegando ao resultado na tabela seguinte (Tabela 2):

TABELA 2 – CLASSIFICAÇÃO IDEOLÓGICA DOS PARTIDOS (BOLOGNESI; RIBEIRO; CODATO, 2022)

EXTREMA-ESQUERDAPSTU – PCO – PCB – PSOL – PC DO B – UP
ESQUERDAPT – PDT
CENTROPSB – REDE – PPS(CIDADANIA) – PV 
DIREITAAVANTE(PT DO B) – SOLIDARIEDADE – PMN – PMB – PMDB (MDB) – PSD – PSDB – PODEMOS (PTN) – PPL – PRTB – PROS – PRP (PODEMOS EM 2020) – REPUBLICANOS – PR (PL) – PTC
EXTREMA-DIREITADC (PMDC) – PSL – NOVO – PP – PSC – PATRIOTA – DEM
FONTE: Autor, a partir de Bolognesi, Ribeiro e Codato (2022)

Vale destacar que a coleta dos dados foi em 2018, exatamente entre as eleições municipais de 2016 e 2020. Houve algumas modificações que foram adaptadas e já apresentadas na tabela acima. 

Em relação ao impacto da ideologia partidária na oferta e eleição de não-brancos é observável um forte impacto. Sendo que quanto mais à esquerda o partido, maior é sua capacidade de candidatar e eleger não-brancos, como podemos observar, no que diz respeito aos candidatos em 2016 e 2020, no gráfico 14:

Em 2020, a defasagem de maneira geral teve uma leve queda, porém se manteve a tendência de que quanto mais a esquerda o partido, mais chances ele tem de ofertar e eleger não-brancos, como melhor ilustrado no gráfico 15:

Nos mostrando, por fim, que é evidente o impacto da ideologia, tanto para a oferta de candidaturas quanto para eleição de não-brancos, para as Câmaras de Vereadores dos municípios brasileiros. Na continuidade da pesquisa, será finalizada a análise geral dos dados, analisando as demais variáveis. 

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
BOLOGNESI, Bruno; RIBEIRO, Ednaldo; CODATO, Adriano. Uma nova classificação ideológica dos partidos políticos brasileiros. Dados, v. 66, 2022.