Dados das prestações de conta revelam como os cinco candidatos(as) aplicaram recursos na campanha on-line em um ano de pandemia

Afonso Verner

A discussão proposta neste comentário parte do cenário marcado pelo processo de modernização das campanhas eleitorais (NORRIS, 2002) – de forma geral, as campanhas têm sofrido com diversas mudanças nas últimas décadas no Brasil e em outros países. Com isso, este comentário apresenta dados sobre a campanha on-line em Ponta Grossa, quinto maior colégio eleitoral do estado do Paraná.

Em um primeiro momento, é preciso destacar que as discussões focadas no caso brasileiro sobre campanhas on-line são recentes (AGGIO, 2010). O anacronismo da legislação fez com que o país só iniciasse campanhas com uso de ferramentas tecnológicas on-line a partir dos anos de 2010 e, desta forma, os próprios estudos sobre campanhas on-line. Em contrapartida, o pleito de 2020 foi o mais permissivo da história do país no que diz respeito ao uso de mecanismos on-line para conquista do voto do eleitor.

Para Sérgio Braga e Márcio Carlomagno (2018) as práticas de campanha on-line têm crescido no Brasil, acompanhadas de outros fenômenos. Os autores citam o crescente desengajamento do eleitorado com os partidos e consequente aumento da importância da campanha eleitoral para a decisão do voto, inclusive de e-campanhas feitas por intermédio das tecnologias digitais, como alguns desses fatores. 

Diante desse contexto, esta publicação apresenta a análise dos candidatos a prefeito de Ponta Grossa (PR) baseada em um dado empírico: o valor gasto pelos cinco candidatos(as) a prefeito(a) na disputa do primeiro turno na cidade. A coleta de informações deste índice foi realizada no dia 3 de fevereiro de 2021, já com base na prestação de contas de cada um dos postulantes[1] apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A disputa pelo comando da Prefeitura de Ponta Grossa contou com cinco candidatos(as): Mabel Canto (PSC), Professora Elizabeth Schmidt (PSD), Marcio Pauliki (SD), Professor Gadini (PSOL) e Professor Edson (PT). No primeiro turno, Mabel ficou em primeiro lugar na disputa e Elizabeth em segundo – as duas fizeram o único segundo turno feminino do Brasil e Elizabeth foi eleita como a primeira prefeita da história da cidade, com 52,38% dos votos[2].

A tabela 1 mostra o gasto com impulsionamento de cada candidato(a). No caso da Professora Elizabeth, somaram-se os valores para Facebook e Instagram (que são uma mesma empresa) e Google. Além disso, a terceira coluna exibe a porcentagem do valor destinado à campanha on-line sobre o gasto geral com a campanha, também declarado junto ao TSE.

Tabela 01 – Relação do valor de impulsão e porcentagem diante do total da campanha

Fonte: autor (2021).

A deputada estadual Mabel Canto (PSC) declarou ter gastado R$ 5.500,00 com impulsionamento no Facebook e Instagram. Na prestação de contas da campanha de Mabel há apenas apenas uma “entrada” de gastos, feita diretamente ao Facebook Brasil. Neste caso, os gastos de Mabel com impulsão representaram apenas 2% do gasto total de campanha – ela declarou ter gastado mais de R$ 282 mil na campanha como um todo. 

Por sua vez, a Professora Elizabeth (PSD), vitoriosa no pleito, declarou ter gastado R$ 27 mil em impulsão no Facebook/Instagram e outros R$ 7,5 mil no Google – a candidata do PSD foi a única a utilizar impulsionamento de conteúdos no Google. O gasto de Elizabeth com impulsionamento representou 2,4% do total de campanha. No caso da prestação de contas da professora, há apenas uma declaração de pagamento direto ao Facebook Brasil e um lançamento de pagamento ao Google. 

Já Marcio Pauliki (SD) informou ter gastado R$ 53 mil em impulsionamento (2,4% do total gasto na campanha) – a prestação de contas do candidato do Solidariedade traz apenas uma declaração de pagamento direto ao Facebook e boa parte do montante (R$ 50 mil) está declarado no pagamento a outra empresa, mas especificado como “impulsionamento nas redes sociais”.

Por fim, aparecem Professor Edson (PT) e Professor Gadini (PSOL), com os maiores gastos proporcionais em impulsão. O petista declarou ter gastado pouco mais de R$ 18,4 mil na campanha e utilizado R$ 1 mil com impulsão, representando 5,5% do total. Já Gadini declarou ter gastado pouco mais de R$ 39,4 mil. Desse total, R$ 2,1 mil foram aplicados apenas em impulsionamento no Facebook e Instagram, representando 5,4% do total. Tanto Gadini como Edson declararam, nas prestações de contas, valores repassados à D Local Brasil Pagamentos, discriminados como “gastos com impulsionamento”.

Os dados apresentados neste comentário permitem duas considerações: (i) apesar de serem uma novidade na campanha de 2020, os gastos com impulsionamento representaram fatias pequenas do gasto total de cada campanha; e (ii) no caso ponta-grossense, os gastos com impulsionamento não parecem influenciados pelos quesitos tempo de TV ou gasto total de campanha, já que todos os candidatos investiram de 2% a 5,5% de seu orçamento em impulsão.


[1] Um artigo com essa mesma perspectiva foi apresentado no XXIII Seminário de Inverno da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), mas o texto ali produzido trazia dados parciais – o evento aconteceu no dia 16 de novembro, um dia depois do primeiro turno.

[2] Disponível em: https://g1.globo.com/pr/campos-gerais-sul/eleicoes/2020/resultado-das-apuracoes/ponta-grossa.ghtml. Acesso em 5 fev. 2021.

Referências: 

AGGIO, C. & REIS, Lucas. Campanha eleitoral no Facebook: usos, configurações e o papel atribuído a esse site por três candidatos eleitos nas eleições municipais de 2012. Revista Compolítica, 3 (2), p. 155-188, 2013. Disponível em: http://compolitica.org/revista/index.php/revista/article/view/48 

______. Campanhas políticas e sites para redes sociais: um estudo sobre o uso do Twitter na eleição presidencial brasileira de 2010. Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporânea. Universidade Federal da Bahia, UFBA, 2014.

BRAGA, Sérgio; CARLOMAGNO, Márcio. Eleições como de costume? Uma análise longitudinal das mudanças provocadas nas campanhas eleitorais brasileiras pelas tecnologias digitais (1998-2016). Revista Brasileira de Ciência Política, n. 26, p. 7-62, 2018.