Uma breve análise léxica das publicações feitas pela parlamentar durante os meses de campanha eleitoral

Rafaela M. Sinderski

Em um cenário político marcado por desigualdades entre homens e mulheres – como é o caso brasileiro –, é comum que candidatas a cargos de poder enfrentem a invisibilidade e o peso dos estereótipos em sua trajetória eleitoral (MIGUEL E BIROLI, 2010; PANKE E IASULAITIS, 2016; MASSUCHIN, MARQUES E MITOZO, 2020). Sabendo que elas, normalmente, dispõem de menos tempo na mídia tradicional – tal qual a televisão – para apresentar suas propostas (CARVALHO, KNIESS E FONTES, 2016), sites de redes sociais como o Twitter assumem cada vez mais importância para a campanha de muitas postulantes. É por meio deles que elas conseguem interagir de forma direta com o público, expondo suas ideias e posicionamentos (MASSUCHIN, MARQUES E MITOZO, 2020).

Nas eleições de 2020, Curitiba contou com uma mulher como a pessoa mais votada para a Câmara Municipal. Indiara Barbosa (NOVO) teve 12.147 votos, cerca de 2 mil a mais do que o segundo colocado, Serginho do Posto (DEM) – que conquistou 10.061 votos – e 3.273 acima de Carol Dartora (PT), segunda mulher mais votada na capital paranaense. Como já foi apontado em outro texto deste site, apesar de ter acumulado mais votos, Barbosa não foi a candidata que mais postou no Twitter durante a reta final da campanha eleitoral. Pelo contrário, ela fez menos publicações do que suas colegas de parlamento. 

Este comentário aprofunda a investigação focada na conta da vereadora e apresenta uma breve análise léxica dos tweets feitos por ela. O recorte temporal foi estendido em comparação com o texto anterior – que considerou apenas os 14 dias anteriores ao primeiro turno do pleito, mais o dia da eleição em si –, passando a abranger todos os meses de campanha eleitoral: setembro, outubro e novembro de 2020[1]. Foram consideradas, ao todo, 180 publicações feitas por Barbosa no perfil @IndiaraNOVO. A figura 1, abaixo, é uma nuvem de palavras com os termos que mais apareceram nas postagens da parlamentar ao longo do período estudado. A nuvem foi construída com auxílio do pacote wordcloud para o ambiente de programação R. Os vocábulos precisavam aparecer, no mínimo, cinco vezes para serem considerados na análise.

Figura 1 – Nuvem de palavras feita a partir dos tweets de Indiara Barbosa entre setembro e novembro de 2020

Fonte: autora (2021).

As palavras “obrigada”, “valeu”, “apoio”, “vamos”, “renovar” e “Curitiba” apontam para uma interação da vereadora com o público, expressando sua gratidão pelos votos conquistados e promessas de um bom mandato, como neste exemplo, tuitado em 16 de novembro: “Obrigada aos 12.147 curitibanos que acreditam em uma nova política!! Vamos representar o @partidonovo30 aqui!!”. As menções feitas pela então postulante se concentram nas contas do partido Novo (@partidonovo30); do, na época, candidato à prefeitura de Curitiba, Dr. João Guilherme (@drjoaonovo); de João Amoedo (@joaoamoedonovo), um dos fundadores do Novo; de Adriana Ventura (@adriventurasp) deputada federal pelo partido em São Paulo; e Amália Tortato (@amaliatortato), sua companheira de Câmara. 

A partir disso, percebe-se que boa parte das publicações da parlamentar no Twitter foram marcadas por uma comunicação típica de campanha, com agradecimentos e juras de um futuro melhor, ou pelo contato com colegas de seu próprio partido. Praticamente nenhum assunto de interesse público se destacou, com exceção do tema relacionado às mulheres na política, que surgiu em 5% dos tuítes feitos por Barbosa. “Mulheres” é palavra relevante na figura 1. “Pela primeira vez, uma mulher é a vereadora mais votada de Curitiba! Além disso, fui a 3ª mais votada da HISTÓRIA! Nada disso seria possível sem o apoio de todos aqueles que acreditam verdadeiramente em uma NOVA política! O  @partidonovo30  já entrou fazendo história!”, diz o conteúdo postado em 18 de novembro.

O tópico “mulher na política” também foi relacionado a um episódio envolvendo Indiara Barbosa e o Porta dos Fundos (@portadosfundos). Em 22 de novembro, a produtora publicou, em seu canal do YouTube, uma esquete que satirizava a eleição de uma vereadora pelo partido Novo. Na produção, a personagem é apresentada como a parlamentar mais votada de Curitiba, afirmando que usou de artifícios sexuais para conquistar o sucesso eleitoral. O vídeo, apontado como machista, gerou discussão nos sites de redes sociais e foi retirado do ar tempos depois[2]. Barbosa repudiou o conteúdo em seu perfil no Twitter, fazendo com que a conta do Porta dos Fundos também se tornasse um termo relevante na análise de seus tweets.


[1] O corpus inclui postagens feitas depois do primeiro turno do pleito, que ocorreu no dia 15 de novembro.

[2] Disponível em: https://f5.folha.uol.com.br/voceviu/2020/11/porta-dos-fundos-tira-do-ar-esquete-que-gerou-polemica.shtml. Acesso em 12 fev. 2021.

Referências

CARVALHO, F. C.; KNIESS, A. B.; FONTES, G. S. Representação feminina na propaganda eleitoral partidária no Brasil: as candidatas a Deputada Federal pelo Paraná na TV. Estudos em Comunicação, v. 1, p. 231-246, 2018.

MASSUCHIN, M; MARQUES, J; MITOZO, I. Marketing Women Political Leaders. In: Ross, K. International Encyclopedia of Gender, Media, and Communication. Wiley, 2020.

MIGUEL, L. F.; BIROLI, F. Práticas de gênero e carreiras políticas: vertentes explicativas. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 18, n. 3, p. 653, set. 2010.

PANKE, L.; IASULAITIS, S. Mulheres no poder: aspectos sobre o discurso feminino nas campanhas eleitorais. Opinião Pública, v. 22, p. 385-417, 2016.