Uma análise da presença feminina e dos temas abordados no HGPE, a partir do banco de dados coletado pelo CPOP
Andressa Butture Kniess e Nayane Pantoja Cardoso
Em 2018, 73,9% dos segmentos no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) relativos aos candidatos ao cargo de Deputado Federal foram ocupados por homens, enquanto apenas 26,1% foram ocupados por mulheres. Esses resultados estão em consonância com trabalhos anteriores, que já demonstraram a discrepância entre a participação masculina e feminina no HGPE, no caso das campanhas proporcionais (CARVALHO, KNIESS, FONTES, 2016; CERVI, 2011).
Mas é importante destacar que a desigualdade na distribuição do tempo do HGPE não ocorre apenas de acordo com o sexo do candidato. É muito comum que os partidos políticos priorizem aqueles que atuam como puxadores de votos. Ao analisar o HGPE referente aos candidatos ao cargo de Deputado Federal pelo Paraná em 2010, Cervi (2011) demonstra que o tipo de candidato (sem mandato, ocupando de cargo não-eletivo, ocupante de outro cargo eletivo e candidato à reeleição) é uma variável mais relevante do que sexo, no que tange à distribuição do tempo. “Mulheres têm uma participação menor do que deveriam na divisão do horário eleitoral; no entanto, mulheres com mandato ou ocupantes de cargo por indicação tendem a ter espaços mais qualificados que homens sem mandato” (CERVI, 2011, p. 133).
Os 495 segmentos destinados às mulheres foram distribuídos entre 71 candidatas – e apenas 13 delas apareceram em 10 ou mais segmentos durante a campanha (Tabela 1). Dentre essas candidatas, cinco buscavam a reeleição, já ocuparam outros cargos eletivos ou foram indicadas por familiares. Luísa Canziani (PTB) foi eleita pela primeira vez, mas é filha de Alex Canziani, deputado federal desde 1999[1]. A segunda candidata com maior número de segmentos foi Christiane Yared (PL), que, em 2014, se elegeu Deputada Federal com mais de 200 mil votos[2]. Em terceiro lugar está Gleisi Hoffmann, ex-Senadora e atual presidente nacional do PT[3]. Leandre, candidata à reeleição, aparece em 10 segmentos[4], assim com Terezinha Modzinski Fistarol (vereadora na cidade de Ampere)[5]. Todas foram eleitas, exceto Terezinha.
Em contrapartida, todas as demais candidatas expostas na Tabela 1 nunca ocuparam um cargo eletivo e não foram eleitas em 2018. Vale destacar que Marisa Lobo é presidente do AVANTE Paraná[6]. Esses resultados podem indicar que alguns partidos políticos vêm investindo em novas candidaturas.
Tabela 1 – Candidatas a Dep. Federal com 10 segmentos ou mais no HGPE
No que tange aos temas tratados pelos candidatos, o teste de qui-quadrado mostra que há diferenças estatisticamente significativas em relação a candidatos homens e mulheres. De acordo com o V de Cramer, a associação entre essas duas variáveis é de 34%. Os resíduos padronizados servem para verificar a diferença entre os valores observados e os valores esperados em uma distribuição[7]. Os resultados demonstram que dois temas foram destaque entre as candidatas de 2018: educação e minorias (portadores de necessidades, políticas afirmativas para negros, mulheres, comunidade lgbtq+ etc). As mulheres falaram de educação 8,40 vezes mais do que o esperado e de minorias 7,54 vezes mais do que o esperado. Por outro lado, os resultados foram negativos para saúde (-2,50), infraestrutura (-2,33) e temas ético-morais (-4,45). Já os homens falaram 2,64 mais do que o esperado de temas ético-morais e menos do que o esperado de educação (-4,98) e de minorias (-4,48).
Tabela 2 – Cruzamento entre as variáveis “Sexo” e “Tema”
Para o caso das candidatas à Câmara Municipal de Ponta Grossa, em 2012, Tavares, Matheus e Fernandes (2015) mostram que a maior parte dos segmentos não apresenta nenhuma temática e a educação é um tema mais mobilizado por mulheres do que por homens (assim como ocorre com os dados aqui expostos). Em contrapartida, o tema ético-moral é predominante tanto entre os homens quanto entre as mulheres, o que pode indicar que as estratégias utilizadas no HGPE são distintas em campanhas proporcionais de diferentes níveis.
No que tange ao tema da educação, é muito provável que ele seja mais mobilizado por candidatas porque as mulheres representam a maioria dos trabalhadores desse setor. No caso da educação pública do Paraná, as mulheres correspondem a 80% dos professores e funcionários de escola[8].
Leia também:
A discussão sobre políticas públicas para mulheres no HGPE de 2018
A presença de mulheres na Câmara dos Deputados
Notas:
[1] Ver em: https://www.camara.leg.br/deputados/73458/biografia. Acesso em 19 mai. 2020.
[2] Ver em: https://www.camara.leg.br/noticias/442369-deputada-federal-mais-votada-no-parana-e-estreante-em-politica/. Acesso em 19 mai. 2020.
[3] Ver em: https://pt.org.br/gleisi-hoffmann. Acesso em 19 mai. 2020.
[4] Ver em: https://www.camara.leg.br/deputados/178832/biografia. Acesso em 19 mai. 2020.
[5] Ver em: https://especiais.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2018/candidatos/pr/deputado-federal/terezinha-modzinski-fistarol-1533/. Acesso em 19 mai. 2020.
[6] Ver em: https://avante70.org.br/noticias/marisa-lobo-presidente-do-avante-parana-e-homenageada/. Acesso em 19 mai. 2020.
[7] Com o intervalo de confiança de 95%, consideram-se significativos os valores acima de 1,96 e abaixo de -1,96 (destacados na Tabela 3).
[8] Ver em: http://www.educacao.pr.gov.br/Noticia/Mulheres-sao-protagonistas-na-educacao-no-Parana. Acesso em 21 mai. 2020.
Referências
CARVALHO, F. C. de; KNIESS, A. B.; FONTES, Giulia Sbaraini. As candidatas no HGPE proporcional no Paraná: a representação feminina na campanha televisiva para a Câmara Federal em 2014. Estudos em Comunicação, v.1, n. 23, 2016.
CERVI, E. U. O uso do HGPE como recurso partidário em eleições proporcionais no Brasil: um instrumento de análise de conteúdo. Opinião Pública, v. 17, n. 1, 2011. TAVARES, C. Q.; FERNANDES, M. M. Sobre o que falam as mulheres no horário eleitoral? Um estudo sobre as candidatas a vereadoras de ponta grossa em 2012. In: XIII Encontro Paranaense de Pesquisa em Jornalismo, 2015.