Este texto trata dos diferentes tipos de temáticas abordadas entre candidatos que buscaram uma vaga como deputado(a) federal em 2018
Afonso Verner e Beatrice Cristina dos Santos Araújo
Qual a relação entre tipo de candidato e tema no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE)? Esse comentário busca analisar a relação entre os tipos de candidato a deputado federal pelo Paraná e os temas tratados pelos postulantes no HGPE. Para tanto, são utilizadas informações do banco de dados do CPOP sobre a eleição de 2018. Com isso, busca-se compreender: existe relação entre o tipo de candidato e o tema por ele(a) abordado no HGPE?
Inicialmente é preciso destacar quais são os tipos de candidatos(as) que fazem parte do banco de dados do CPOP. O Grupo divide os(as) postulantes entre aqueles que são candidatos à reeleição, aqueles que são ocupantes de outros cargos eletivos (vereador, por exemplo), ocupante de cargos não eletivos (secretário de saúde, por exemplo) e candidatos(as) sem mandato.
A partir de uma breve análise do trabalho de Cervi (2011), pode-se observar que, desde o final dos anos 1980, no Brasil, o horário eleitoral em rádio e tevê tem chamado a atenção de pesquisadores da área, reconhecendo a centralidade da mídia de massa para as relações de representação política contemporânea. Neste contexto, o HGPE tornou-se uma referência quase permanente na identificação de padrões de campanhas políticas em nível local, regional ou nacional.
Importante ressaltar que no horário eleitoral como um todo, a distribuição do tempo na televisão e a subdivisão do mesmo entre os candidatos depende de critérios distributivos, que podem ser mais hierárquicos ou mais igualitários, dependendo da dinâmica das forças internas de cada legenda. Assim, é o partido que determina se seus candidatos terão maior ou menor liberdade na divulgação de suas mensagens e, consequentemente, prescreve uma maior unidade ou fragmentação na própria imagem que projeta por via da televisão (DIAS, 2005).
Em seguida, é importante também ressaltar as tipificações temáticas da coleta de dados do HGPE. O livro de códigos utilizado pelo grupo elenca quatorze possíveis tipificações das temáticas tratadas pelos candidatos(as) no HGPE. Elas são: saúde, economia, violência/segurança pública, política institucional, ambiental, infraestrutura, ético/moral, cultura, educação básica e ensino médio, ensino superior e geral, minorias, cardápio, outro (quando não se enquadra nos anteriores) e nenhum (quando não há temática presente na fala).
Sobre a análise, o primeiro dado interessante do texto diz respeito ao número de candidatos que aparecem no HGPE e suas respectivas tipificações. A coleta mostra que 68,7% dos candidatos que aparecem no horário eleitoral não tem mandato, 21,9% é candidato(a) à reeleição, 8,4% é ocupante de outro cargo eletivo e apenas 1% ocupava cargo não-eletivo – quando segmentado por temática, os candidatos de cargo eletivo acabam sendo excluídos da presente análise por representarem menos de 1% do total de segmentos com temáticas abordadas.
Outro quesito importante e que deve ser levado em conta ao observar temáticas previstas no HGPE diz respeito à parcela dos candidatos(as) que efetivamente falam na Propaganda Eleitoral. As informações do banco de dados do CPOP mostram que, entre os candidatos(as) a deputado(a) federal que figuram no HGPE, 76,2% efetivamente falam durante o Programa, enquanto outros 23,8% não falam. Isso acontece porque, entre outros motivos, há estratégias para otimizar tempos pequenos no HGPE. Coligações com menos tempo usam offs de narradores, por exemplo, para apresentar seus candidatos. Neste caso, quando o candidato(a) não fala (efetivamente), é possível esperar que não haja nenhum tema sendo tratado, apenas a apresentação do candidato(a) em si.
De forma geral, sem relacionar tipo de candidato e tema, nota-se que a maioria das falas dos postulantes ao cargo de deputado(a) federal não tem temática definida: 52% do conteúdo coletado foi classificado como sem nenhum tema. Em seguida, o tema que tem maior presença no HGPE dos deputados é cardápio, quando o candidato(a) fala de vários temas, sem destaque especial para nenhum deles. Por sua vez, a temática ético e moral soma 8,6% do conteúdo coletado, seguida do tema política institucional, que alcança 8,4%. Há ainda de se destacar que a temática minorias aparece em 4,6% do conteúdo coletado, enquanto 4,2% dos postulantes fala de temas que são considerados “outros” por não se enquadrarem nas demais temáticas previstas no livro de códigos.
Ainda observando as temáticas de maneira geral, sem cruzar as variáveis tipo de candidato e tema, nota-se que vários assuntos tidos como centrais em uma eleição têm baixa presença nos discursos dos candidatos a deputado(a). Saúde, por exemplo, esteve presente em 1,7% dos conteúdos coletados, economia em 2,5%, violência e segurança pública aparecem 1,7% e educação (somando os temas de educação básica e ensino superior) figura em 3,1% do conteúdo coletado.
Em seguida, passamos a analisar o cruzamento das temáticas com os tipos de candidato. A intenção é conseguir compreender se há algum tipo de predominância de tema entre as diferentes tipificações de candidato. Os dados mostram que entre os postulantes ao cargo de deputado federal que não tem mandato, 54,2% não trataram de nenhum tema durante o HGPE. Por sua vez, os temas com maior presença entre esse tipo de candidato é cardápio (quando o candidato fala de vários temas, sem predomínio para nenhum em específico) que está em 10,3% das falas deste tipo de candidato. Em seguida aparece a temática de ética e moral com 7,9% das falas, seguida de política institucional com 7,8% de presença nas falas destes candidatos. Por fim, o tema de minorias é tratado por 6,9% do total de falas de candidatos a deputado federal sem mandato.
Gráfico 1 – Tema por candidato sem mandato (%)
Os números também nos revelam as temáticas dos candidatos que ocupam outros cargos eletivos. Entre eles, 50% não tratou de nenhuma temática no HGPE. Por sua vez, um tema que teve repercussão entre esse tipo de candidato foi ético e moral (19,6% das falas) e político institucional (13,3%). Entre os candidatos que ocupavam outros cargos eletivos, 10,1% usou o HGPE para falar de vários temas, sendo classificados como “cardápio”.
Gráfico 2 – Tema por candidato que ocupa outros cargos eletivos (%)
Por fim, entre os candidatos à reeleição, 37,7% deles não tratou de nenhum tema de política pública específico no HGPE. O tema mais presente entre esse tipo de candidato no HGPE para deputado federal foi cardápio, presente em 17% dos pronunciamentos deste tipo de candidato no HGPE. Por sua vez, o tema político-institucional esteve presente em 10,3% das falas e a temática ético e moral se fez presente em 9% das falas deste tipo de postulante.
Gráfico 3 – Tema por candidato à reeleição (%)
Ao observamos o cruzamento dos dados de tema e tipo de candidato, nota-se um padrão inicial: diante de todos os tipos de candidatos diferentes, a maioria deles (cerca de 50% em todos os casos) não trata de qualquer tema de política pública no HGPE. Em muitos desses casos, o tempo é usado para formação da imagem do próprio candidato. Outro padrão é a presença do tema ético-moral entre os mais comentados entre os diferentes tipos de candidatos(as).
Além disso, nota-se que, entre os candidatos à reeleição, há uma presença considerável de temáticas classificadas como cardápio. Com tempos curtos, os postulantes tendem a tratar de várias questões ao mesmo tempo, tentando otimizar seu espaço na televisão. Por sua vez, os candidatos que ocupavam outros cargos eletivos deram destaque ao tema político-institucional. Ressalta-se ainda que a temática “minorias” só apareceu entre os candidatos sem mandato, com 6,8% das falas entre esse tipo de postulante a deputado(a) federal.
Referências:
CERVI, E. U. O uso do HGPE como recurso partidário em eleições proporcionais no Brasil: um instrumento de análise de conteúdo. Opinião Pública, v. 17, n. 1, 2011.
CONDE, M. R. B; ROMÁN J. A. Investigar en comunicación: guia práctica de métodos y técnicas de investigación social en comunicación. Madrid: Mc Graw Hill, 2005.
DIAS, M. R. Projeção da Imagem Partidária nas Estratégias de Campanha na Televisão: Uma Análise do HGPE 2002, Revista de Ciências Sociais, v. 48, n. 1, p. 149-187, 2005.
MAHONEY, J.; GOERTZ, G. A Tale of Two Cultures: Contrasting Quantitative and Qualitative Research. Political Analysis Review, n. 14, p. 227-249, 2006.
OLIVEIRA, C. B. Horário Gratuito Político Eleitoral – HGPE: O Eleitor e a Cidadania Política. Porto Alegre, 2008.
RAGIN, C. C. Constructing Social Research: the unit and diversity of method. Thousand Oaks: Pine Forge Press, 1994.