Como concorrentes do Paraná à Câmara dos Deputados citaram suas atividades em 2018

Daniela Neves e Mariana Marinho Soares

Este texto analisa de que forma candidatos e candidatas a Deputado(a) Federal pelo Paraná em 2018 utilizaram seu tempo no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) para citar suas profissões.

Apesar da diminuição do tempo da propaganda eleitoral pelo rádio e televisão, este continua sendo espaço importante de apresentação dos candidatos aos eleitores (MASSUCHIN E CAVASSANA, 2020; CERVI, 2010). Além da propaganda em bloco, a partir de 2016 passaram a ser transmitidos spots que, ao contrário da propaganda em bloco, são apresentados de maneira imprevisível no meio da programação (ALDÉ E BORBA, 2016). Este conteúdo, no entanto, estuda apenas a propaganda em bloco.

Utilizando a metodologia da Análise de Conteúdo com o modelo adotado pelo grupo de pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP), o objetivo neste texto é verificar como se distribuem, no HGPE de 2018, as citações de profissões para compreender se isso se trata de um ativo político de estratégia de campanha dos candidatos.

Tabela 1: Menção à profissão

Fonte: CPOP (2020).

Percebe-se pela tabela 1 que a grande maioria (87,6%) não ocupa o tempo de campanha citando a profissão. Dos 2016 segmentos de candidatos(as) à Câmara federal pelo Paraná em 2018, apenas 249 (12,4%) utilizaram a profissão como um ativo para atrair atenção dos eleitores. A tabela 2 mostra quais foram as ocupações mencionadas.

Tabela 2: Profissões citadas

Fonte: CPOP (2020).

Desta forma, das 249 aparições que citaram profissão, em 40,6% os canditatos declararam ser professores, 10,7% policiais, 7,6% agricultores e 7,6% empresários. Estas foram as principais profissões citadas.

Para este texto, foi feita uma pesquisa bibliográfica a respeito de professores e profissionais de segurança como um ativo de campanha, mas não há trabalho sobre a profissão de professor. Já policiais e outros profissionais de segurança são objetos de pesquisa na Ciência Política.

Diversos fatores podem explicar a utilização da profissão de policial como ativo de campanha. O aumento dos índices sobre crimes violentos nos últimos anos, que mostra um alto número de mortes de civis e policiais, torna o tema “segurança pública” relevante na agenda eleitoral dos candidatos, uma vez que as demandas da sociedade nesse campo tendem para um reforço das formas repressivas de controle social (BERLATTO E CODATO, 2014).

Segundo Berlatto, Codato e Bolognesi (2016), a experiência profissional dos agentes públicos de segurança entra como um recurso facilmente instrumentalizável na campanha. No entanto, outras pautas institucionais da categoria também se mostram importantes para entender a utilização deste ativo pelos candidatos, entre elas a qualidade de vida e de trabalho dos policiais, a discussão da atual estrutura organizacional das corporações, as diferenças salariais internas e as dificuldades de ascensão na carreira (CODATO, 2016). Visto que os profissionais desta categoria geralmente se consideram pouco ou nada assistidos politicamente, além de se considerarem desvalorizados no âmbito social (BERLATTO, CODATO E BOLOGNESI, 2016), a explicitação de suas profissões em campanha eleitoral pode sugerir uma intenção de mudança neste cenário uma vez que estejam inseridos na esfera parlamentar.

Como se trata de um texto descritivo e sem referências de estudos anteriores sobre candidaturas de professores, não é possível afirmar o que faz dessa ocupação um recurso a ser utilizado na campanha, mas pelo levantamento é possível perceber que se trata de uma estratégia no caso desta categoria, ainda mais do que para policiais. Uma hipótese pode ser para atrair votos da categoria; ou para tocar o imaginário da população, que tem em sua vida referência em professores. Porém, apenas um estudo mais aprofundado pode analisar tais hipóteses.

Referências:

BERLATTO, Fábia; CODATO, Adriano.Candidatos policiais na política nacional: uma análise dos aspirantes a deputado federal. Newsletter. Observatório de elites políticas e sociais do Brasil. NUSP/UFPR, v. 1, n. 7, p. 1-16, 2014.

BERLATTO, F.; CODATO, A.; BOLOGNESI, B. Da polícia à política: explicando o perfil dos candidatos das Forças Repressivas de Estado à Câmara dos Deputados. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 21, p. 77-120, 2016.

CERVI, E. U. “Tempo da política” e a distribuição dos recursos partidários: uma análise do HGPE. Em Debate, v. 2, n. 8, p. 12-17, 2010.

MASSUCHIN, M.; CAVASSANA, F. A construção da propaganda eleitoral: a estrutura do HGPE no Brasil a partir de uma perspectiva longitudinal. Revista Teoria & Pesquisa, v. 29, n. 1, p. 81-109, 2020.