Resultados apontam que um único partido acumula quase 60% do total de citações nos programas de candidatos a deputado estadual no Paraná

Afonso Verner

Desde 2014, os partidos e instituições políticas têm enfrentado uma crise significativa, especialmente no que diz respeito à legitimidade destes atores sociais diante do eleitorado. Nesse cenário, o post busca discutir a presença de partidos políticos no conteúdo do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) durante a disputa por vagas na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) em 2018. 

Na visão de Perhs e Leal (2013, p. 90-91), o modelo do HGPE que conhecemos hoje surgiu por “conta da necessidade de disciplinar as propagandas partidárias e dar oportunidades iguais de exposição dos partidos políticos”. Desta forma, ganha importância observar como os próprios postulantes a cargos eletivos citam (ou deixam de citar) os partidos políticos no momento de se comunicar com o eleitor. 

Miguel (2004) lembra que o HGPE teria o potencial de tornar a campanha eleitoral mais democrática, já que possibilitaria que todos os candidatos e partidos estivessem no Rádio e na TV. No entanto, é importante citar que o tempo de cada partido e candidato(a) dependia de outras variáveis, como coligações no caso dos partidos, e como capital político e acesso à máquina partidária, no caso dos(as) candidatos(as).

Assim, este texto observa alguns dados sobre a presença e/ou ausência dos partidos políticos na comunicação feita pelos(as) candidatos(as) que disputaram a eleição proporcional de 2018. O primeiro aspecto a ser salientado é a citação direta ou não do partido político pelo candidato – nesse caso, a citação direta foi computada no banco de dados quando o(a) postulante a deputado(a) mencionava nominalmente o partido.


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Os dados coletados pela equipe do CPOP mostram que em 91,3% das entradas do banco de dados (1.548 casos) não houve citação direta do(a) candidato(a) ao partido político. Apenas 8,7% das unidades coletadas (147 casos) registram a citação do partido por parte do candidato(a). Importante salientar que, mesmo que não fossem citados nominalmente, os partidos e coligações apareciam no HGPE nos GCs (geradores de caracteres) que dividem a tela com os(as) candidatos(as). 

Em seguida, observa-se quais são os partidos citados nos casos em que há menção do partido, ou seja, em 8,7% do HGPE coletado na disputa por vagas na Assembleia. Com essa amostra, os dados revelam que a legenda mais citada foi o Partido dos Trabalhadores (PT) com 57,1% das citações – o PT tem uma margem muito maior que todos os demais partidos mencionados. No gráfico abaixo, o PT é representado pelo número da legenda, neste caso o 13, assim como as demais legendas.

Gráfico 1 – Frequência de citações por partido

O segundo colocado, por exemplo, é a Rede Sustentabilidade que soma 12,9% das menções partidárias (a legenda é representada pelo número 18). O PMDB, atualmente conhecido como MDB, tem 9,5% das citações no HGPE para deputado estadual no Paraná em 2018. O quarto partido mais citado é o Partido Pátria Livre (PPL) que tem 5,4% das citações feitas pelos candidatos em 2018 – em escalas menores, todas inferiores a 5% do total, outros sete partidos somam citações no HGPE analisado.

Neste primeiro momento, nota-se que apenas um partido acumula quase 60% do total de citações no HGPE para deputado estadual no Paraná, enquanto as demais legendas dividem de forma não linear as demais menções. A predominância dos candidatos(as) do Partido dos Trabalhadores (PT) na citação da sigla pode revelar uma estratégia persuasiva nesta esfera de disputa, como também uma orientação partidária aos próprios candidatos. 

Por fim, duas considerações importantes. A primeira delas é que, entre as menções feitas pelos candidatos(as) e coletadas pelo CPOP, a menção do partido no HGPE é a maior – isso em relação às menções sobre religião, profissão e etnia, por exemplo. Ou seja: o partido político segue sendo fator representativo mais citado no momento em que o candidato(a) se apresenta ao eleitorado.

A segunda consideração importante diz respeito ao número de candidatos(as) novatos no pleito de 2018. Diante da crise institucional estabelecida e de uma aposta em novas lideranças e na renovação das diferentes esferas políticas, o número de candidatos(as) novatos também chama a atenção. A aparição de candidatos foi de 90,3% do total de figuras que apareceram no HGPE – também houve o registro da aparição de líder partidários (8,3%), patrono político (0,1%) e representantes da campanha majoritária, ou seja, governador (1,4%).

Na disputa por vagas na Assembleia Legislativa do Paraná em 2018, os sujeitos sem mandato representaram 91,7% dos candidatos que estiveram no HGPE, enquanto os ocupantes de cargos não eletivos (ex-secretários, por exemplo) foram 1,1% do total, já os ocupantes de outros cargos eletivos (vereadores, por exemplo) somaram 3,2% e os candidatos que buscavam a reeleição eram apenas 4% no universo estudado. Os dados podem ser conferidos na tabela abaixo.

Tabela 1 – Presença de candidatos por tipo

Fonte: autor (2019), com dados do CPOP.

Dessa forma, o post aponta duas sugestões: a primeira delas é de que os partidos políticos são pouco citados quando se leva em conta o HGPE como um todo e isso pode ser explicado por vários aspectos, entre eles a crise institucional. O segundo aspecto é que o elevado número de candidatos novatos também traria uma diminuição para o destaque dado ao partido em detrimento do foco individualista, especialmente em um cenário em que a renovação era tão valorizada. 

Referências:                                  

PERHS, L.; LEAL, P. R. 2013 “Horário gratuito de propaganda eleitoral e propaganda partidária gratuita: do surgimento à personalização na televisão brasileira”. In: Revista Parágrafo. São Paulo, v.2, n. 1. p.84-97. 

MIGUEL, L. F. Discursos cruzados: telenoticiários, HGPE e a construção da agenda eleitoral. In: Revista Sociologias, Porto Alegre, v.1, n.11, p. 238-258, 2004.