Post produzido por Sandra Nodari destaca a sub-representação das mulheres na política brasileira e nos telejornais. Apesar de serem maioria do eleitorado e população, ocupam apenas 34% das candidaturas e 4% do tempo total de falas. Eleições de 2020 trouxeram mais representatividade com candidaturas de mulheres negras e trans, mas desafios persistem na visibilidade dessas mulheres eleitas na mídia.
Nas eleições de 2020, as mulheres eram a maioria do eleitorado 52,6% (TSE, 2020) e formavam 51,8% da população brasileira (PNAD, 2019). Apesar disso, representavam apenas 34% do total de candidaturas, isso por força da Lei de Cotas. A baixa representação das brasileiras nos cargos eletivos é refletida, também, na pequena presença de mulheres como fontes de telejornais.
No caso do Jornal Nacional, principal telejornal brasileiro, entre as pessoas entrevistadas, elas ocupam apenas 4% do tempo total das falas, enquanto homens falam 15% (Sandra NODARI, 2021). As mulheres brasileiras são pouco ouvidas nos espaços de política e nos telejornais como afirma Gayatri SPIVAK (2010, p. 85) quando defende que o subalterno é o sujeito cuja voz não é ouvida.
Quando tratamos de subalternidade, devemos focar em grupos minoritários que têm pouca ou nenhuma presença nas listas de candidaturas e entre pessoas eleitas no Brasil: “Mulheres, a população preta, o proletariado, os membros da comunidade LGBTQIAP+ que são tidos como desviantes da heterossexualidade compulsória (…) ficando à mercê de ocupar posições de poder, tanto pela dinâmica da exclusão social quanto pelos filtros institucionais que tendem a reproduzir as desigualdades na esfera pública e na política eleitoral” (Alberto GOERCH et all, 2022, p. 491).
Ao entender-se como subalterna, e, portanto, ao buscar visibilidade, cada pessoa e cada grupo faz surgir novos atores sociais, novos sujeitos políticos. No contexto dos movimentos sociais brasileiros, destes sujeitos subalternos, têm surgido a cada eleição novas candidaturas políticas e mais pessoas eleitas. Nas eleições de 2020, podemos destacar a presença das mulheres negras e das mulheres trans.
Em 2020, 12% dos municípios brasileiros elegeram mulheres prefeitas, 16% das cidades têm vice-prefeitas e as vereadoras brasileiras ocupam 16% do número total de cadeiras nas câmaras municipais, porém, 954 cidades não elegeram nenhuma vereadora (17%). Estes dados estão bem longe dos 30% exigidos pelas cotas de candidatas.
Quando olhamos para os dados das eleitas em 2020, os números podem parecer mais diversos: 30 pessoas transgênero, 78 pessoas LGBTQIA+, 58 pessoas quilombolas, 159 pessoas indígenas e 20 mandata(o)s coletiva(o)s foram eleitas. A vereadora mais votada no Brasil, nas eleições de 2020, é Erika Hilton, mulher transgênero e negra, militante de movimentos sociais na periferia de São Paulo (SP). A vereadora mais votada da história de Belo Horizonte (MG) é Duda Salabert, mulher transgênero: professora e ambientalista.
Entre as mulheres cis, a vereadora mais votada de Belém (PA), Vivi Reis, é negra, feminista, antirracista, “antiLGBTfóbica” e defensora da Amazônia. Em Recife (PB), a vereadora mais votada é Dani Portela, negra, feminista, advogada e historiadora. Da mesma forma que a militante da juventude negra, Karen Santos, é a vereadora mais votada em Porto Alegre (RS). Curitiba (PR) elegeu Carol Dartora, que não foi a mais votada, mas foi a primeira vereadora negra da história da cidade.
Subalternas estão elegendo e sendo eleitas no Brasil. Mulheres negras e trans, foram eleitas entre as mais votadas em treze capitais brasileiras. A eleição apresentou um resultado mais diverso e mais representativo da história do Brasil. Resta saber agora como está a visibilização destas mulheres, políticas eleitas e mais votadas em suas cidades, nos telejornais e na imprensa brasileira. Dados que serão trazidos como tema do próximo artigo desta pesquisadora.
REFERÊNCIAS
Goerch, Adalberto B. Silveira, Miguel S. Santos, Everton R. Silveira, Gabriel. E. (2022). Subalternidade, representação e participação da comunidade LGBTQIAP+ no cenário político brasileiro. In: Conjecturas. Vol. 22, Nº 1. Disponível em: http://conjecturas.org/index.php/edicoes/article/view/506
IBGE. (s/d). Estatísticas sociais: População. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em: 15 out. 2019. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao.html.
Nodari, Sandra. (2021). A voz feminina nas reportagens televisivas: um estudo comparativo entre os jornais televisivos de Portugal e do Brasil a partir do Lugar de Fala. 2021. Tese (Doutorado). Ciências da Informação, Universidade Fernando Pessoa (Portugal) em cotutela com Comunicação, Universidade Federal do Paraná.
PNAD, 2019. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9173-pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-trimestral.html?t=destaques
Spivak, Gayatri. (2010). Pode o subalterno falar? (3ª reimpressão). Belo Horizonte: UFMG.
TSE. Tribunal Superior Eleitoral. Mulheres Representam 52% do eleitorado Brasileiro. Disponível em: https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Marco/mulheres-representam-52-do-eleitorado-brasileiro?SearchableText=%%20de%20eleitoras%20mulheres
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