Este post, produzido pela pesquisadora Beatrice Araújo, analisa o comportamento dos atores digitais de direita no Twitter no período de 2019 a 2022, em relação à disseminação de valores antidemocráticos e ataques institucionais. Os perfis que mais postaram foram BolsonaroSP, deltanmd, kimkataguiri e DamaresAlves, sendo São Paulo a cidade que mais gerou tweets de direita.

Conforme os estudos de Recuero e Gruzd (2019), o contexto político do Brasil é complexo, uma vez que o país passa por uma crise social, econômica e política que tem se agravado desde o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT) em 2016. Nesse contexto, a investigação e a prisão do ex-presidente Lula, do mesmo partido, no primeiro semestre de 2018, representam um dos momentos mais politicamente tensos dessa crise. Isso se reflete nas discussões que ocorrem na mídia tradicional e nas redes sociais, especialmente no que diz respeito à disseminação de grande quantidade de desinformação e notícias falsas sobre os fatos.

Segundo Casimiro (2018), não é possível entender o “refluxo reacionário” vivido atualmente no Brasil se focarmos nossa análise apenas nos últimos anos. Nesse sentido, o historiador produz um minucioso mapeamento dos grupos políticos e empresariais associados a esse movimento, bem como do entrelaçamento orgânico entre ambos na formação ideológica do Estado brasileiro contemporâneo e das elites nacionais. Suas conclusões demonstram como o recente extremismo político brasileiro – de conotação primordialmente neoliberal – se constituiu na concretude das relações institucionais, tornando-se, como veremos, fundamental à nossa compreensão desse fenômeno.

De acordo com a sua perspectiva, a atual dinâmica sócio-política brasileira decorre da reorganização das classes dominantes nacionais ainda na década de 1980, momento no qual, na esteira da abertura política do Regime Militar brasileiro (1964 a 1985), teria emergido uma nova forma de ação político-ideológica desses grupos, atrelada, principalmente, “à representação política não partidária dos segmentos da direita liberal conservadora, atualizada, militante e, muitas vezes, truculenta” (CASIMIRO, 2018, p. 41). Desde então, acrescenta, suas ações têm se difundido, intensificado e radicalizado.

E ainda, conforme o artigo de Massuchin et al (2021), que tem como objeto o comportamento digital  da direita no Twitter, a partir da atividade de atores digitais que surgem no contexto do sistema híbrido de mídia, em relação à dissipação de valores antidemocráticos e ataques institucionais, apesar da proliferações bastante heterogênea desses agentes, a literatura tem mostrado a utilização generalizada de plataformas digitais para espalhar discursos de interesse político.

Segundo Raquel Recuero (2020), o papel dos atores nas práticas de produção e informação no Twitter também foi estudado por alguns autores. Xu et al. (2014), por exemplo, mostraram que usuários com mais conectividade e envolvimento com o assunto no Twitter tendiam a influenciar mais os fluxos de informação, assim como as organizações. Esse envolvimento maior com as ferramentas e com a rede poderia ser associado com conhecimento e expertise, dando mais poder a determinados atores na discussão política. Soares, Recuero e Zago (2018) também discutiram os diferentes papéis dos atores na conversação política.

Para elaborar o presente estudo, foram coletados pelo grupo dados de perfis de direita no Twitter no período de 05/04/2019 até 15/08/2022. Desta forma, foram identificados os atores de direita que mais postaram no Twitter no período em questão, conforme apresentado na Figura 1.

Figura 1 Fonte: Autora (2022)

O estudo dos perfis dos atores que mais apareceram no Twitter no período de tempo estudado, conforme a figura 1, trouxe os seguintes resultados: em primeiro lugar, BolsonaroSP (4407); em segundo lugar, deltanmd (3978); em terceiro lugar, kimkataguiri (3567); e em quarto lugar, DamaresAlves (3373). Em seguida, aparecem jdoriajr (3233) e filipebarrost (3137). Ressalto que estes foram os perfis de direita mais encontrados, mas não necessariamente postaram mais desinformação, visto que essa afirmação demanda estudos mais aprofundados quanto ao conteúdo das postagens.

Segue a Figura 2, apresentando as principais localidades de onde os tweets dos atores de direita foram postados.

Figura 2. Fonte: Autora (2022)

Conforme a figura 2 constatamos que a esmagadora maioria dos tweets de direita vieram de São Paulo, o que não nos causa espanto, visto que é o maior colégio eleitoral do país. Já em segundo lugar aparece a cidade de Curitiba e somente em terceiro, Brasília. Sendo assim, o fato da capital do Paraná estar a frente, quanto ao número de tweets, que a capital federal é surpreendente.


REFERÊNCIAS:

CASIMIRO, F. H. C. As classes dominantes e a nova direita no Brasil contemporâneo. In: GALLEGO, E. S. O ódio como política: a reinvenção da direita no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2018. 

MASSUCHIN, M. G. et al. Valores antidemocráticos e ataques às instituições: comportamento da direita on-line a partir da análise das contas ‘Direita Brasil’ e ‘Verde Amarela no Twitter. Política e sociedade. Florianópolis, V.20 nº49 – Set/Dez de 2021

RECUERO R. #FraudenasUrnas estratégias discursivas de desinformação no Twitter nas eleições 2018. Rev. Bras. Linguíst. Apl., v. 20, n.3

RECUERO, R.; GRUZD, A. Cascatas de Fake News Políticos um estudo de caso no Twittter. Galaxia (São Paulo online), n.41, mai-ago, 2019

SOARES, F. B.; RECUERO, R.; ZAGO, G. Influencers in polarized political networks on Twitter. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON SOCIAL MEDIA AND SOCIETY, 9., 2018, nova York. Proceedings […] Nova York: ACM, 2018. p. 168-177. DOI: https://doi.org/10.1145/3217804.3217909XU, W. W.; SANG, Y.; BLASIOLA, S.; PARK, H. W. Predicting opinion leaders in Twitter activism networks. American Behavioral Scientist, Londres, v. 58, n. 10, p. 1278- 1293, 2014. DOI: https://doi.org/10.1177/0002764214527091