A análise mostrou que a desigualdade existe, mas que os partidos dos candidatos têm um papel importante nessa questão

Fernanda Cavassana

A desigualdade de gênero na participação política institucionalizada ainda é grande no Brasil e, no Paraná, não é diferente. A representação das mulheres na Assembleia Legislativa Estadual do Paraná, por exemplo, é ínfima. Desde sua fundação, em 1854, houve apenas 17 deputadas estaduais na ALEP. Baixa não é só a eleição de mulheres para esses espaços, mas também a participação na competição. Poucas mulheres se candidatam e têm recursos necessários para concorrer, fazer campanha, serem eleitas. Contudo, essa baixa participação não pode ser simplificada a um suposto desinteresse, tampouco um simples veto pelo partido (Finamore e Carvalho, 2006). Tais questões são permeadas e influenciadas por diferentes variáveis, relações e disputas de poder.

Em alguns momentos, pontualmente, registraram-se aumentos significativos da representação feminina nas assembleias legislativas (Araújo, 2001). Em comparação com dados nacionais e continentais, cabe ressaltar que o Paraná tem patamares baixos de inclusão das mulheres na elite política (Resende et al., 2010).

Na tentativa de diminuir essa desigualdade política, têm-se modificado as regras do jogo, ainda que os efeitos esperados não sejam, ainda, concretizados. Como exemplo principal no Brasil, têm-se modificações na Lei das Eleições e a instauração de cotas, estipulando o preenchimento de no mínimo 30% por sexo nas candidaturas nas campanhas proporcionais.

Neste post, discorremos sobre a campanha televisiva para o cargo de deputada estadual na ALEP em 2018. Considerando os dados do CPOP sobre a distribuição do tempo de horário gratuito de propaganda eleitoral (HGPE) para os partidos, busca-se esboçar como, em 2018, a competição foi construída nesse espaço partidário de comunicação eleitoral comparando-se, principalmente, os candidatos por sexo – indicado no cadastro da candidatura –, mas também pelas agremiações partidárias.

Destaca-se que das 239 mulheres candidatas à ALEP em 2018, 95 delas (39,8%) apareceram no horário eleitoral. Tais mulheres estiveram presentes em 379 segmentos (23,8%total), que ocuparam 2,3 mil segundos quando observado o tempo dessa participação. Comparando-se com os homens, verifica-se que eles eram 2,2 candidatos para cada candidata registrada no TSE e, no HGPE, tornam-se 2,7 candidatos homens para mulher. Já sobre os espaços de participação, verifica-se que para cada uma aparição de uma mulher na propaganda, 3,2 segmentos eram de homens. Isso também vale para o tempo de duração dessas participações, que para os homens foi 3,2 vezes maior.

O gráfico abaixo expõe os percentuais para homens e mulheres, da quantia de candidatos registrados ao tempo ocupado no HGPE. Evidencia-se que não só há sempre maiores percentuais para os homens, como também, ao passo que observamos mais detalhes da propaganda eleitoral, mais desigual é participação por gênero.

Gráfico 1 – Comparação por sexo da participação na competição pela ALEP 2018 (%)

Fonte: CPOP (2019).

No gráfico 1, fica visível a tendência da diferença entre as participações masculina e feminina aumentar no que diz respeito à propaganda para deputado ou deputada estadual no Paraná. É importante destacar que as barras são dos percentuais para a comparação. Ao passo que se considera mais características da organização da campanha – aqui no caso televisiva –, mais desigual é a campanha por gênero. Resultados semelhantes foram encontrados em outros artigos sobre gênero e HGPE (Cervi, 2011), inclusive para o Paraná (Carvalho et al, 2018).


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Como analisamos um espaço gerido pelos partidos, também cabe comparar a presença de candidatos homens e candidatas mulheres por agremiações. O gráfico abaixo ilustra a quantidade de segmentos por sexo do candidato e partido na disputa pela ALEP em 2018. Percebe-se que apenas o Republicanos possui mais segmentos de mulheres do que de homens. Ainda assim, alguns partidos têm diferenças menores entre os dois pontos, indicando maior equidade na distribuição do horário eleitoral por sexo nesses partidos, como PT e PP. Por outro lado, em outras agremiações como o PSL, o MDB e o PSDB, são perceptíveis diferenças maiores entre a quantidade de aparições dos candidatos por sexo. Nesses, privilegiou-se a participação masculina na campanha.

Gráfico 2 – Segmentos por sexo do candidato a deputado(a) estadual por partido em 2018 (N)

Fonte: CPOP (2019).

Cabe lembrar que os segmentos podem ter durações distintas e que alguns candidatos tendem a ficar mais tempo que outros em suas participações. Para concluir a comparação entre os homens e mulheres, o gráfico abaixo traz as caixas de distribuição do tempo em segundos dos segmentos. É importante destacar que se mensura a duração dos segmentos. Assim, aqueles que apareceram mais de uma vez têm os segundos de cada aparição indicados no gráfico e não todas as vezes somadas. Isso importa, principalmente, por causa dos outliers, que podem representar um candidato que, mais de uma vez, destacou-se no HGPE ocupando espaços mais longos do programa. Observa-se que, no geral, a média de duração foi de 6,22 segundos por segmento.

Gráfico 3 – Tempo do segmento por sexo do candidato(s)

Fonte: CPOP (2019).

Há semelhanças entre os sexos, inclusive com medianas pouco acima da linha de média. Contudo, cabe destacar que a amplitude é maior no boxplot dos homens, indicando maior variação do tempo entre esses candidatos, e menor no das mulheres, indicando segmentos com durações mais próximas entre elas. É interessante notar que um quarto dos segmentos de candidatos homens – o segundo quartil – dura de dois a sete segundos e que, ainda que a maior parte (50%) tenha tempos mais homogêneos, os segmentos das mulheres duram também entre três e oito segundos.

Já em relação aos outliers, cabe comentar que, no caso das candidatas, apenas o PP apresenta casos extremos, em que houve elevada duração do segmento de propaganda. É o caso da deputa estadual Maria Victória Barros, cujos segmentos são todos assinalados acima do último quartil, como outliers. Um exemplo de candidatas que são privilegiadas diante das outras, especialmente pelo capital político acumulado, este muitas vezes herdado de familiares, como é o caso da deputada, filha, na época, da governadora e candidata à reeleição Cida Borghetti e do, então, Ministro da Saúde no Governo Federal de Temer, Ricardo Barros. No caso dos homens, há mais outliers – com segmentos alcançando quase 30 segundos de duração –, mas eles representam candidatos do PT e do PP. Ou seja, por mais que o PT e PP sejam, comparativamente, mais equilibrados na distribuição dos segmentos por sexo, nesses partidos, há candidatos homens que se destacam em segmentos muito mais longos que a média.

Nesta breve análise, verifica-se que há diferenças entre candidatos homens e mulheres na disputa para deputado e deputada estadual do Paraná em 2018, mas que essas são mais explicadas pelos partidos. Também, que a desigualdade de distribuição do tempo nesses segmentos é perceptível com a concentração em alguns candidatos que ganham segmentos mais longos e, portanto, mais visibilidade na campanha televisiva do partido. O que tende a ilustrar a escolha partidária em privilegiar os conhecidos puxadores de voto, o que também se aplica às mulheres que concorrem.

*O post é trecho de um capítulo da autora publicado na coletânea do Encontro de pesquisa por/de/sobre mulheres, no prelo.

Referências

ARAÚJO, Clara. As cotas por sexo para a competição legislativa: o caso brasileiro em comparação com experiências internacionais. Dados, v. 44, n. 1, 2001. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0011-52582001000100006

CARVALHO, Fernanda Cavassana; KNIESS, Andressa Butture; FONTES, Giulia Sbaraini. Representação feminina na propaganda eleitoral partidária no Brasil: as candidatas a Deputada Federal pelo Paraná na TV. Estudos em Comunicação, v. 1, p. 231-246, 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.20287/ec.n26.v1.a13

CERVI, Emerson Urizzi. Uso do HGPE como recurso partidário em eleições proporcionais no Brasil: um instrumento de análise de conteúdo. Opinião Pública (UNICAMP. Impresso), v. 17, p. 106-136, 2011.

FINAMORE, Claudia M.; CARVALHO, João Eduardo. Mulheres candidatas: relações entre gênero, mídia e discurso. Revista Estudos Feministas, v. 14, n. 2, 2006. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2006000200002

RESENDE, Roberta Carnelos ; NICOLÁS, María Alejandra ; ROSEVICS, L. . Análise da participação política feminina nas Assembléias Legislativas da região sul do Brasil (1998-2006). Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, v. 1, p. 254-269, 2010. DOI: http://dx.doi.org/10.5212/Rlagg.v.1.i2.254269