Um breve comentário sobre as participações de Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) nos embates televisionados

Valquíria Morgado e Deivison Santos

 A literatura especializada no âmbito da Comunicação Política destaca a função exercida pelos debates em períodos eleitorais como dispositivos complementares para a distribuição de informações sobre candidatos, podendo, assim, ampliar o grau de conhecimento dos eleitores sobre o desempenho e propostas dos concorrentes em disputa (VASCONCELLOS, 2014). A eleição para presidente de 2018 pode ser utilizada, então, como exemplo do estímulo propiciado por este espaço para que os candidatos emitam suas posições sobre temas importantes para a discussão pública. Nesse sentido, compreender a forma pela qual os concorrentes na campanha presidencial trataram os assuntos discutidos durante os debates se trata de atividade pertinente – sobretudo tendo em vista o papel relevante exercido pelas instituições de comunicação no contexto político nacional (GOMES, 2004). Diante disso, o comentário ora apresentado tem como objetivo analisar as retóricas privilegiadas pelos candidatos nos debates do primeiro turno da eleição presidencial de 2018.

A coleta do material investigado foi realizada pelo Grupo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP-UFPR), baseada em livro de códigos com informações consolidadas sobre as abordagens utilizadas pelos candidatos durante os confrontos.

Marcada pelo acirramento entre os concorrentes na disputa, o primeiro turno da eleição presidencial terminou com o candidato Jair Bolsonaro (à época do PSL) recebendo 46,03% dos votos, enquanto Fernando Haddad (PT) foi sufragado por 29,28% dos eleitores que participaram do pleito – sendo ambos os políticos que seguiram para o segundo turno. Em terceiro lugar ficou o candidato pedetista Ciro Gomes (PDT), com 12,47% dos votos, seguido de Geraldo Alckmin (PSDB) com 4,76%[1].

A seguir, apresenta-se detalhes sobre a variável dedicada a apreender as características retóricas dos concorrentes (Quadro 1). Foram selecionados somente os candidatos Fernando Haddad, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin, a fim de comparar a atuação entre os políticos mais votados que participaram da maioria dos debates – Bolsonaro se ausentou da maioria dos confrontos em decorrência do incidente em que sofreu uma facada no abdômen[2].

Quadro 1 – Categorias da variável “Retórica”

Fonte: CPOP (2020).

Fernando Haddad (PT): Durante as participações do candidato petista nos debates, houve predominância da categoria “proposição”, especialmente nos confrontos da Rede Aparecida, no SBT e na Rede Globo. Em seguida, a categoria “sedução” se destaca, sendo privilegiada no confronto da Rede Record, como mostra o Gráfico 1, logo abaixo.

Gráfico 1 – Retórica de Fernando Haddad (PT)

Fonte: autores, com dados do CPOP (2020).

Ciro Gomes (PDT): Pode-se dizer que Ciro Gomes foi o concorrente que mais alternou sua atuação retórica nos debates ao longo do primeiro turno do pleito. Entretanto, as características que estiveram presentes em quase todos os confrontos são “proposição” e “crítica”, como se vê no Gráfico 2.

Gráfico 2 – Retórica de Ciro Gomes (PDT)

Fonte: autores, com dados do CPOP (2020).

Geraldo Alckmin (PSDB): Conforme aponta o Gráfico 3, Alckmin privilegiou a categoria “proposição” na maioria dos debates em que participou. Tal categoria foi seguida por “sedução” e “crítica”, que se acentuou ao longo do primeiro turno.

Gráfico 3 – Retórica de Geraldo Alckmin (PSDB)

Fonte: autores, com dados do CPOP (2020).

Percebe-se, a partir dos gráficos, que todos os candidatos em destaque ofereceram razoável importância à retórica propositiva – especialmente o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, que privilegiou a postura em número maior de vezes em todas as suas participações. Além disso, seja para criticar governos anteriores ou os próprios concorrentes de forma direta, os candidatos também destinaram atenção especial à retórica crítica. Por fim, a retórica “sedução” esteve bastante presente nos primeiros debates dos candidatos Ciro Gomes e Geraldo Alckmin, enquanto Fernando Haddad a privilegiou de forma mais significativa somente no penúltimo debate em análise, da Rede Record.


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Futuras investigações podem expandir as avaliações sobre a atuação dos concorrentes a cargos majoritários em disputas eleitorais no Brasil, assim como os efeitos dos debates televisionados na percepção política dos eleitores.


[1] Disponível em: https://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/2018/09/06/ato-de-campanha-de-bolsonaro-em-juiz-de-fora-e-interrompido-apos-tumulto.ghtml>. Acesso em: 25 de fev. 2020.

[2] Disponível em: <http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Outubro/concluida-totalizacao-de-votos-do-1o-turno-das-eleicoes-2018>. Acesso em 25 de fev. 2020.

Referências

GOMES, Wilson. Transformações da política na era da comunicação de massa. São Paulo: Paulus, 2004.

VASCONCELOS, Fábio. Debates presidenciais na TV como dispositivos complementares de informação política no Brasil: Características e estratégias. In: IX encontro da Associação Brasileira de Ciência Política, 2014.