Por: Andressa B. Kniess e Felipe S. Paz

A Tabela 1 mostra as contas mais mencionadas por Deltan Dallagnol no Twitter entre abril de 2019 e agosto de 2022. Essas menções ocorreram nos tweets do ex-procurador ou em suas respostas aos tweets.

Tabela 1
As 10 contas do Twitter mais mencionadas por Deltan Dallagnol 

ContaNúmero de menções
Roberson Pozzobon (@RHPozzobon)195
Helio Telho (@HelioTelho)113
Vladimir Aras (@VladimirAras)63
Claudio Dantas (@claudioedantas)56
O Antagonista (@o_antagonista)56
Sergio Moro (@SF_Moro)53
Monique Checker (@MoniqueCheker)52
Felipe Moura Brasil (@FMouraBrasil)50
Bruno Calabrich (@brunocalabrich)41
Ricardo Amorim (@Ricamconsult)38
Fonte: CPOP/UFPR (2022)

 Nota-se que Deltan Dallagnol interagiu com Procuradores da República (alguns ligados diretamente à Operação Lava Jato) e com jornalistas. Os procuradores são Roberson Pozzobon, Helio Telho, Vladimir Aras, Monique Checker e Bruno Calabrich.  

 Roberson Pozzobon teve a conta mencionada 195 vezes por Dallagnol. Ele é Procurador da República do Ministério Público Federal e integrou a operação Lava Jato. Tem pouco mais de 65 mil seguidores na plataforma e se define como:

“Professor e Procurador da República #lavajato desde 2014 ⭐️ Luto por pequenas mudanças que fazem grandes diferenças ❤️ Cristão Pai Marido Atleta”

Hélio Telho teve a conta mencionada 113 vezes. Ele é Procurador da República em Goiás e já fez críticas à Vaza Jato (vazamento de conversas realizadas entre o então juiz Sergio Moro e integrantes da Operação Lava Jato)[1]. No Twitter, ele tem 41 mil seguidores e não costuma fazer posicionamentos político-partidários explícitos.

Vladimir Aras é Procurador Regional da República e foi mencionado 63 vezes. No Twitter, ele tem 50 mil seguidores e costuma compartilhar materiais publicados pela imprensa. Aras mantém um blog no qual escreve sobre justiça criminal, direitos humanos, corrupção e segurança pública[2].

Monique Checker, Procuradora da República no estado do Paraná, também integrou a operação Lava Jato. Ela foi mencionada 52 vezes por Deltan Dallagnol. Com 60 mil seguidores, Monique Checker faz críticas ao presidente Jair Bolsonaro e no dia 3 de setembro postou: “A diferença entre um corrupto e um presidiário é só o tempo da justiça”[3].

E Bruno Calabrich, também procurador da Lava Jaro, foi mencionado 41 vezes. Ele tem 31 mil seguidores no Twitter.

Além disso, a conta de Sérgio Moro também foi bastante mencionada por Deltan Dallagnol (53 vezes). Atualmente, Moro possui mais de três milhões de seguidores e usa a plataforma para divulgar sua campanha ao Senado Federal pelo estado do Paraná.

O que esses resultados mostram é que o ex-procurador costuma interagir com seus semelhantes, ou seja, personalidades que dizem defender a pauta anti-corrupção, que participaram da operação Lava Jato ou que já chegaram a defende-la publicamente.

Em relação aos jornalistas, Deltan Dallagnol fez menções às contas de Cláudio Dantas (56 vezes), o Antagonista (56 vezes), Felipe Moura Brasil (50 vezes) e Ricardo Amorim (38 vezes). Novamente, a interação parece acontecer com os semelhantes: jornalistas associados a posições conservadoras e mais ligadas à direita, com um forte viés anti-corrupção (com exceção do economista Ricardo Amorim).

Cláudio Dantas tem atualmente 277 mil seguidores no Twitter e é diretor-geral de O Antagonista. O jornal, por sua vez, possui mais de um milhão de seguidores no Twitter. Já sofreu críticas vindas da família Bolsonaro[4], mas também já foi acusado de prestar serviço de assessoria de imprensa para a candidatura de Jair Bolsonaro em 2018: “O Antagonista é uma referência muito citada por sites nos quais predominam fake news mantidos pela direita política, como “JornaLivre”, ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL), cuja página foi retirada do ar pelo Facebook por compor rede de fabricação de notícias falsas, e “O Implicante”, retirado do ar após denúncias de vínculo com políticos e acusações de corrupção” (PASTI, GALLAS, 2018).

O que esses resultados mostram é que outros trabalhos já vêm afirmando: o Twitter tem sido muito utilizado para o diálogo entre pares, o que acaba impulsionando a formação de bolhas ideológicas (KALINKE, ROCHA, CASTANHEIRA, 2020; RECUERO, ZAGO, SOARES, 2017). Ou seja, no caso de Deltan Dallagnol, a interação ocorre com personalidades que possuem opiniões semelhantes. Se, no início do século, pensava-se que as redes sociais digitais revolucionariam a democracia por proporcionarem diálogos e discussões políticas no sentido habermasiano, hoje, nota-se que elas tendem a reforçar opiniões e aproximar quem já pensa da mesma maneira.

REFERÊNCIAS

KALINKE, P., ROCHA, A. A., CASTANHEIRA, K. N. Entre bolhas: uma análise de formação de redes no Twitter no contexto da pandemia do novo coronavírus no Brasil. Revista Brasileira de História da Mídia, v. 9, n. 2, 2020.

PASTI, A., GALLAS, L. A mídia antipetista: quem está por trás do portal “O Antagonista”? Diplomatique Brasil, 26 de outubro de 2018. Disponível em: https://diplomatique.org.br/midia-antipetista-por-tras-do-portal-o-antagonista-2/. Acesso em: 16 set. 2022.RECUERO, R., ZAGO, G., SOARES, F. B. Mídia social e filtros-bolha nas conversações políticas no Twitter. Trabalho apresentado no XXVI Encontro Anual da Compós, Faculdade Cásper Líbero, São Paulo, 06 a 09 de junho de 2017.

Notas de rodapé

[1] Ver em: https://blogs.correiobraziliense.com.br/cbpoder/procurador-helio-telho-dizer-que-moro-mandava-no-mp-e-mentira-deslavada/. Acesso em: 16 set. 2022.

[2] Ver em: https://vladimiraras.blog/. Acesso em: 16 set. 2022.

[3] Ver em: https://twitter.com/MoniqueCheker/status/1566237806715965441. Acesso em: 16 set. 2022.

[4] Ver em: https://www.facebook.com/cbolsonaro/photos/o-antagonista-%C3%A9-fakenews-do-pr%C3%B3prio-antagonista/2001499283232174/. Acesso em: 16 set. 2022.