Por: Rangel Ramos
Em dezembro de 2021, um estudo desenvolvido pelo Departamento de Ciência Política da Universidade de Stanford e publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, apontou que os algoritmos do Twitter tendem a favorecer as postagens dos perfis mais à direita do espectro ideológico.
O estudo contou com uma análise refinada de 6,2 milhões de artigos de notícias compartilhados 46.470.596 usuários únicos expostos ao algoritmo de recomendação em comparação com um grupo de controle de 11.617.373 usuários que nunca receberam tweets recomendados automaticamente.
A amostra de 4% de todos os usuários do Twitter contemplou tweets de 3.634 políticos eleitos de grandes partidos políticos em: EUA, Canadá, Alemanha, Japão, Reino Unido, França e Espanha. Os resultados revelaram que a direita política goza de maior amplificação em relação à esquerda política.
Em uma das conclusões, os pesquisadores apontam que a amplificação algorítmica foi mais significativa quando comparada nos grupos de políticos do que nos políticos individuais ou nos partidos específicos.
De acordo com o estudo, os tweets dos liberais no Canadá, por exemplo, foram amplificados em 43%, contra os dos conservadores em 167% do mesmo país. Já no Reino Unido os tweets dos trabalhistas foram amplificados em 112%, enquanto os conservadores foram amplificados em 176%.
Para autores como Bennet e Livingston (2018), a perda de autoridade das instituições democráticas, combinada com o aumento de canais alternativos de informação, está mobilizando muitas pessoas a se juntarem a movimentos e partidos à direita.
Os autores também defendem que à medida que a direita, chamada de radical, rejeita as instituições democráticas e deslegitima a imprensa, cresce a demanda por informação e por lideranças que expliquem como as coisas funcionam e porque ficam tão fora de ordem.
Nisto, cresce também a necessidade de pesquisadores em Comunicação Política observarem com maior cautela a dinâmica de atores políticos autodeclarados de direita em plataformas digitais de comunicação, como o Twitter.
O Cpop iniciou seus testes de observações no Twitter do Brasil em 2019, mas os códigos foram calibrados e mais páginas escolhidas a partir de 2020. Por isso, os dados foram selecionados para este post contemplando apenas as páginas de Damares Alves, Deltan Dallagnol e Filipe Barros.
No gráfico abaixo você pode observar a quantidade de tuítes publicados por ano de três autores explicitamente declarados de direita. São eles: Damares Alves, Deltan Dallagnol e Filipe Barros.
O gráfico aponta uma grande atuação da ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do governo Bolsonaro, foram mais de 1500 tuítes durante o ano de 2020 e até o momento já chega a quase 3.500, o que demonstra uma média de aproximadamente 8 posts por dia.
Deltan Dallagnol intensificou sua atuação na plataforma digital neste ano, em que mais do que dobrou a quantidade de tuítes publicados, muito provavelmente por conta de sua candidatura para o pleito de 2022.
Já Filipe Barros demonstrou estar mais atuante no Twitter em 2021, em que aproveitou o momento da pandemia para aumentar seu capital político a fim de alavancar sua candidatura a deputado federal servindo na base apoiadora de Bolsonaro.
O próximo gráfico apresenta a quantidade de retuítes das mesmas contas no mesmo período.
A comparação entre os dois gráficos mostra a diferença no engajamento da audiência em cada um dos atores. Filipe Barros, por exemplo, teve um alto número de publicações retuitadas em 2020, indicando que seus seguidores estavam mais conectados com o conteúdo compartilhado. No entanto, mesmo mantendo quase a mesma quantidade de publicações em 2021, o engajamento não foi tão expressivo.
Já no perfil de Deltan Dallagnol a estratégia de aumentar o volume de publicações no feed tem favorecido o aumento do engajamento dos seus seguidores, pois é possível perceber que em 2022 (até o momento), o maior número de publicações está resultando em um maior número de retuítes em comparação aos anos anteriores.
A mesma dinâmica percebida no perfil de Deltan, acontece no perfil de Damares Alves, no entanto, em sentido contrário. No perfil da ex-ministra as publicações e os retuítes foram diminuindo ao passar dos anos. Ela tinha um alto engajamento fruto de uma alta assiduidade em 2020 e que agora em 2022 está bem menor em comparação com os anos anteriores.
As observações ainda são incipientes e não muito conclusivas, no entanto há de se reconhecer que os níveis de engajamento dos atores de direita, em especial os bolsonaristas, é bem consistente no Twitter.
Essa pequena coleta mostra que, conforme Bennet e Livingston (2018) sugerem, as pessoas estão mesmo procurando por figuras que criam conteúdos paralelos ao da imprensa oficial para usar como fonte de informação e de construção da realidade.
Referências
BENNETT, W. L.; LIVINGSTON, S. The disinformation order: Disruptive communication and the decline of democratic institutions. European Journal of Communication, v. 33(2), p. 122–139, 2018.
F. Huszár et al., Algorithmic amplification of politics on Twitter. Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 118, e2025334118 (2021).
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