Qual partido mais usou o recurso em seu programa eleitoral?

Alessa Lauriano e Beatrice Araújo

De acordo com Panke e Tesseroli (2016), pesquisas apontam que há um razoável número de brasileiros que não assistem ao HGPE. Contudo, essa forma de comunicação ainda permanece como um espaço privilegiado para que os candidatos possam realizar sua propaganda política durante a campanha. Pode-se constatar, assim, um certo deslocamento espacial das campanhas eleitorais, que, das ruas, passaram a estar mais presentes na televisão.

Conforme Panke e Cervi (2011) afirmam, o HGPE assume um papel de mediação entre candidato e eleitores, o que não significa que seja uma crise do modelo antigo de campanha, mas sim uma outra forma de colocá-la em prática. Os autores ressaltam a importância dessa forma de comunicação, dizendo que ela assume o “elemento lúdico” que é intrínseco à televisão.

Assim, o presente texto tem como objeto de pesquisa o HGPE na campanha para prefeitos na cidade de Curitiba em 2020. A variável em análise será “uso do cargo”, que identifica se, no segmento analisado, o candidato cita cargo que ocupa ou ocupou, considerando todos os cargos de sua carreira política, incluindo os não-eletivos. Os dados são provenientes do banco da CPOP.  O objetivo do texto é avaliar como o uso do cargo surgiu nos programas eleitorais da capital paranaense.  

A unidade de análise é a média de tempo em segundos que foi utilizado o uso do cargo. A tabela 1 traz a média de tempo de uso do cargo em segundos por partido e o percentual que a presença da estratégia representa para cada um considerando o total de seu uso.

Tabela 1 – O uso do cargo no HGPE 2020

Fonte: autoras (2021).

É importante mencionar que o HGPE também tem relevância na configuração das coligações. Por saberem da importância para a disputa (BORBA, 2012), os partidos buscam coligações para ganharem mais tempo no rádio e na televisão. A distribuição de tempo obedece ao tamanho das bancadas nas câmaras legislativas, normas estipuladas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) (MASSUCHIN, 2016).

Portanto, conforme a tabela 1, é possível concluir que a variável “uso do cargo” foi um recurso daqueles que despontaram na disputa, visto que os partidos que ficaram com as primeiras colocações utilizaram mais o recurso discursivo. O DEM, com o candidato reeleito Rafael Greca, utilizou o recurso em 18,04% de seu tempo. Já o PDT de Goura, que ficou em segundo lugar, utilizou em 12,88%. Contudo, o partido que mais utilizou o recurso foi o PSL de Francischini (19,58%). Mesmo não tendo sido divulgado nenhum apoio do Presidente Jair Messias Bolsonaro ao candidato, ele argumentava, como publicado na entrevista ao Bem Paraná no dia 27 de outubro de 2020, que estava apostando nos eleitores do presidente, por ele ter sido eleito também pelo PSL. 

Ademais, é possível observar que a média de tempo é igual tanto no PL quanto no DEM, com um valor de 35 segundos (18,04%).  Já os partidos PDT, PT e PMDB têm valores próximos, consecutivamente: 25 segundos (12,88%), 22 segundos (11,34%) e 24 segundos (12,37%). Por fim, o último partido que utiliza o uso do cargo em menor tempo é o PCdoB, com a média de 15 segundos (7,73%). Os demais partidos, não apresentaram o uso do cargo no HGPE.

Referências:

BAUER, M. Análise de conteúdo clássica: revisão. In BAUER, Martin W.; GASKEL, George (Org). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 189-217.

BORBA, F. A propaganda negativa: estratégia e voto nas eleições brasileiras. 2012. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Instituto de Estudos sociais e Políticos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ, 2012.

FONTES, G. S.; FERRACIOLI, P. Novas Eleições, Novas Estratégias? o HGPE dos candidatos à prefeitura de Curitiba em 2012 e 2016. Compolítica. Porto Alegre, RS, 2017.

MASSUCHIN, M. G. et al. A construção da campanha eleitoral majoritária no HGPE: uma análise comparada das estratégias usadas pelos presidenciáveis. v. 15, n. 32, 2016.

PANKE, L.; CERVI E. Análise da comunicação eleitoral: uma proposta metodológica para os estudos do HGPE. Contemporanea – Comunicação e Cultura, Salvador, v. 9, n. 3, p. 390-404, 2011.

PANKE, L.; TESSEROLI, R. Horário gratuito de propaganda eleitoral, características e aceitação dos eleitores. Comunicação & Sociedade (Online), v.38, p.103-127, 2016.