Uma análise dos prefeitos eleitos nos 10 maiores colégios eleitorais do país
A pandemia deu às eleições de 2020 um ar de atipicidade. Isso porque a situação imposta pela crise sanitária moldou as eleições de uma forma diferente da que estávamos acostumados, com menos campanha de rua e maior espaço para as redes sociais.
Nesse sentido, podemos analisar a mudança na ideia de sociabilidade, em que a necessidade de sair de casa para consumir conteúdos deixou de existir, como afirmou Castells (2006, p. 22):
“Contudo, existe uma enorme mudança na sociabilidade, que não é uma consequência da internet ou das novas tecnologias de informação, mas uma mudança que é totalmente suportada pela lógica própria das redes de comunicação.”
Assim, existe a necessidade de se analisar o consumo de conteúdos por meio das redes sociais, traçando um paralelo entre o que é consumido e as consequências desse consumo. Nesse caso, o foco são as eleições e a relação entre o quanto os candidatos publicaram e o quanto os eleitores reagiram.
Usando dados coletados pelo CPOP, buscou-se analisar, de modo comparativo, o desempenho nas urnas dos prefeitos eleitos nos 10 maiores colégios eleitorais do país com o seu nível de engajamento no Twitter durante o 1º turno eleitoral de 2020, a fim de verificar se o engajamento nas urnas refletiu também o engajamento no Twitter.
Cervi e Massuchin (2018) destacam que as três formas principais de engajamento – curtir (ou “favoritar” no Twitter), compartilhar (ou “retweet”) e comentar – exigem diferentes esforços dos agentes envolvidos nessas ações. Destacam ainda que, com a interação de conteúdo, os leitores tornam-se agentes centrais para a circulação da informação. Logo, cada postagem realizada tem o objetivo de gerar uma interação com o usuário, de engajá-lo.
Nas tabelas abaixo, é possível analisar o desempenho dos candidatos às prefeituras das 10 cidades que concentram o maior número de eleitores do país – São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Curitiba (PR), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Belém (PA) –, com destaque para os prefeitos eleitos, total de tweets, número de curtidas, compartilhamentos (RTs) e também uma média calculada em que se somaram as interações (curtidas + compartilhamentos) e dividiu-se pelo número total de tweets, observando-se, assim, a média de interação por tweet. Ainda, a posição em que cada candidato terminou ao final do 1º turno.
Tabela 1 – Candidatos à prefeitura de São Paulo (SP)
Tabela 2 – Candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro (RJ)
Tabela 3 – Candidatos à prefeitura de Belo Horizonte (MG)
Tabela 4 – Candidatos à prefeitura de Salvador (BA)
Tabela 5 – Candidatos à prefeitura de Fortaleza (CE)
Tabela 6 – Candidatos à prefeitura de Curitiba (PR)
Tabela 7 – Candidatos à prefeitura de Manaus (AM)
Tabela 8 – Candidatos à prefeitura de Recife (PE)
Tabela 9 – Candidatos à prefeitura de Porto Alegre (RS)
Tabela 10 – Candidatos à prefeitura de Belém (PA)
Como é possível observar, apenas dois prefeitos eleitos repetiram o mesmo sucesso das eleições no Twitter, registrando o maior engajamento: Alexandre Kalil (PSD) em Belo Horizonte (tabela 3) e Edmilson Rodrigues (PSOL) em Belém (tabela 10), que foi eleito em 2º turno, mas terminou o 1º turno com a melhor votação. Kalil publicou apenas 17 vezes durante o período, mas conseguiu com esses poucos tweets um engajamento de 2.933 na média por tweet, enquanto a candidata que mais publicou em Belo Horizonte, Áurea Carolina (PSOL), com mais de 2.600 tweets, embora tenha tido um bom número de curtidas e compartilhamentos, na média de engajamento ficou em 3º lugar, com 84 engajamentos/tweet – e nas eleições ficou em 4º lugar.
Já entre os eleitos que ficaram com o engajamento abaixo do esperado, houve quatro casos, todos ficando em 6º lugar no ranking de suas cidades: Bruno Covas (PSDB) em São Paulo (tabela 1), com uma média de 238 engajamentos/tweet e apenas 43 postagens – bem abaixo do 1º colocado, Guilherme Boulos (PSOL), que registrou uma média de 4.338 engajamentos/tweet e mais de 2 mil postagens, mas que terminou a eleição derrotado no 2º turno; Eduardo Paes (DEM) no Rio de Janeiro (tabela 2), com média de 55 engajamentos/tweet, sendo o candidato que mais publicou, mas perdendo em engajamento para o oponente que derrotou no 2º turno, Marcelo Crivela (PRB), que registrou média de 808 engajamentos/tweet; David Almeida (AVANTE) em Manaus (tabela 7), com média de 8 engajamentos/tweet com apenas 58 publicações, enquanto o candidato do PT, José Ricardo, que nas urnas ficou em 3º, obteve o melhor engajamento com média de 25; e Sebastião Melo (MDB) (tabela 9), com média de 7 engajamentos/tweet em suas 417 postagens, perdendo para sua concorrente Manuela D’Ávila (PCDOB), com 838 engajamentos/tweet e mais de 2.000 postagens.
As demais cidades tiveram seus eleitos em boas posições. Bruno Reis (DEM) (tabela 4), de Salvador, ficou em 3º lugar no Twitter com engajamento médio de 21 por tweet, sendo eleito no 1º turno. Já o mais engajado da cidade, Cezar Leite (PRTB), teve 92 engajamentos/tweet, mas terminou o pleito em 4º lugar. Sarto (PDT), de Fortaleza (tabela 5), também ficou em 3º com 54 engajamentos/tweet, derrotando nas urnas o mais engajado – Capitão Wagner (PROS), que teve 165 engajamentos/tweet. Em Curitiba, Rafael Greca (DEM) (tabela 6) ocupou o 4º lugar com 30 engajamentos/tweet e, assim como Reis, também foi eleito em 1º turno. Contudo, Greca perdeu no engajamento para o 2º colocado nas urnas, Goura (PDT), que teve 78 engajamentos/tweet. Por fim, João Campos (PSB), de Recife (tabela 8), ficou em 2º lugar com engajamento médio de 32 interações por tweet, mas derrotou no 2º turno a candidata com melhor engajamento, Marilia Arraes (PT), que registrou 376 engajamentos/tweet.
Com esses resultados, é possível ter uma ideia do impacto das redes sociais on-line na campanha eleitoral. Embora não haja relação entre eleitos e o maior engajamento no Twitter, observa-se que os melhores colocados nas eleições também tiveram um bom engajamento no Twitter, sugerindo que investiram na campanha digital nessa plataforma. Ainda, candidatos que já incorporaram o uso do site em sua atuação também registraram bons engajamentos por já possuírem seu público fidelizado, como é o caso de Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila, vindos de campanhas presidenciais (em 2018); Arthur do Val (PATRI), em São Paulo, que iniciou a carreira política pela internet; Marisa Lobo (AVANTE), em Curitiba, defensora do conservadorismo e que buscou associar sua imagem a de Bolsonaro; entre outros.
Logo, investir nas redes sociais on-line é um fenômeno que, a cada eleição, vem se intensificando e provando sua essencialidade, sobretudo em eleições atípicas como as de 2020.
O banco de dados utilizado na produção deste texto está disponível para ser compartilhado com pesquisadores e profissionais interessados em campanhas eleitorais e análise de redes sociais on-line. Para obter o material, contate nucleocpopufpr@gmail.com.
Referências:
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em rede. Do conhecimento à acção política. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2006
MASSUCHIN, Michele Goulart; CERVI, Emerson Urizzi. Tipos de engajamentos e circulação de notícias nas redes sociais: A relação da audiência com os temas publicados nas fanpages de jornais brasileiros. Revista Eptic, v. 20, n. 3, 2018.