A quantidade de comentários nas páginas do Facebook tem relação direta com a votação obtida pelos candidatos à Presidência em 2018?

Afonso Ferreira Verner

No Brasil, o uso da internet, especialmente das redes sociais online (RSO), tem ganhado importância nas últimas eleições. Com as mudanças na legislação eleitoral em 2009 houve uma ampliação das possibilidades de uso destes mecanismos por parte dos candidatos (AGGIO, 2013) e, desde então, essa ferramenta tem conquistado espaço considerável na organização das campanhas (CERVI, 2016).

Por sua vez, em 2018, a disputa entre os candidatos nas redes sociais online teve um papel inédito na corrida pela presidência da República. Com a ausência de um dos candidatos nos debates do segundo turno (Jair Bolsonaro, na época no PSL) e com o impedimento legal (prisão) de outro candidato (Luiz Inácio Lula da Silva, do PT), a disputa nas redes sociais ganhou força extra.

Diante disso, este post vai relacionar a quantidade de comentários nas páginas oficiais dos candidatos no Facebook (engajamento) com a votação final obtida por cada um deles no primeiro turno do pleito, no dia 7 de outubro de 2018. O texto avança em um tema que já foi discutido neste site, mas que usou, na época de sua publicação, dados de pesquisas de intenção de voto, já que o pleito ainda não tinha terminado.

Para fins de análise, são analisados os dados dos seguintes candidatos: Jair Messias Bolsonaro (PSL), Fernando Haddad/Lula (PT)*, Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Cabo Daciolo (PATRIOTAS) e Marina Silva (REDE). Entre os mais bem colocados no primeiro turno, apenas João Amoedo (NOVO) não foi contemplado na coleta.

A coleta de dados feita pela equipe do CPOP durante os meses de julho, agosto, setembro e outubro de 2018. Os números mostram que as páginas no Facebook dos seis candidatos receberam, juntas, entre julho e agosto, um total de 10.635.932 comentários.

A página que mais recebeu comentários no período foi a de Lula/Haddad com 4.957.797 comentários (46,6% do total coletado). Em seguida, aparece o endereço de Jair Bolsonaro no Facebook com 4.092.512 comentários no período (38,4% do coletado). Haddad e Bolsonaro também dividiriam os dois primeiros lugares no primeiro turno em número de votos (gráfico 1).

Gráfico 1 – Porcentagem de comentários feitos nas páginas dos candidatos entre julho e outubro de 2018

Em seguida, a página com mais comentários no período é a do tucano Geraldo Alckmin, que recebeu 457.357 comentários no Facebook (4,3% do total). Cabo Daciolo (PATRI) aparece em seguida com 383.593 comentários na página que mantém no Facebook (3,6% do total coletado).

Por sua vez, a candidata Marina Silva (REDE) recebeu 378.715 comentários na página do Facebook entre julho e outubro (3,5% do total).  Enquanto isso, Ciro Gomes (PDT) recebeu 365.958 comentários durante o mesmo período (3,4% do total coletado). Nota-se que há uma proximidade entre Daciolo, Marina e Ciro no número de comentários, o que não se repete nas urnas.


Leia também:

Uso das redes sociais durante a campanha presidencial de 2018

Eleições 2018 e conversações políticas nas redes sociais


Quando se observa a votação dos candidatos no primeiro turno do pleito (gráfico 2), nota-se que não há uma correlação direta entre o número de comentários e a votação obtida nas urnas. Bolsonaro liderou no primeiro turno com 46% dos votos válidos, seguido de Haddad com 29,2% dos votos válidos – Bolsonaro e Haddad já haviam liderado o número de comentários, mas com o petista em primeiro lugar.

Gráfico 2 – Porcentagem de votos por candidato no segundo turno de 2018

Fonte: TSE (2018).

Em seguida, aparece Ciro Gomes com 12,2% dos votos válidos – Ciro teve apenas 3,4% dos comentários coletados no período. Depois está Geraldo Alckmin com 4,7% dos votos – essa é uma proporção parecida com os 4,3% de comentários acumulados pelo tucano durante a campanha.

Por sua vez, João Amoedo (NOVO), que não foi contemplado na coleta, acumulou 2,5% do total de votos e Daciolo (PATRI) recebeu 1,6% da votação válida, enquanto teve 3,6% do total de comentários coletados. Já Marina Silva, dona de 3,5% dos comentários das redes sociais no período, teve apenas 1% dos votos válidos.

Este breve comentário mostra que não se pode correlacionar diretamente o número de comentários das páginas dos candidatos com a votação obtida por eles – há uma tendência das maiores campanhas terem mais comentários e de também concentrarem a maior quantidade de votos, caso de Bolsonaro e Haddad.

No entanto, para os demais candidatos não há uma correlação direta, como acontece com Marina Silva – a candidata teve 3,5% dos comentários do período, mas menos de 1% dos votos válidos. Já Ciro teve apenas 3,4% do total de comentários coletados, mas acumulou mais de 12% dos votos válidos no primeiro turno.

* A página de Lula teve os comentários coletados até quando o ex-presidente, que estava preso, deixou a corrida eleitoral e o candidato da chapa se tornou, oficialmente, Fernando Haddad.

Referências:

AGGIO, C. Campanhas online: o percurso de formação das questões, problemas e configurações a partir da literatura produzida entre 1992 e 2009. In MARQUES, F. P. J.; SAMPAIO, R. C.; AGGIO, C. (Eds.). Do clique à urna: internet, redes sociais e eleições no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2013.

CERVI, E. U. Campanhas eleitorais em redes sociais: transparência ou pornografia? Os 15 primeiros anos de Análises de Conteúdos de campanhas eleitorais produzidas pelo CPOP. In: CERVI, E. U.; MASSUCHIN, M. G.; CARVALHO, F. C. (Org.). Internet e Eleições no Brasil. Curitiba: CPOP, 2016.