Dados sobre a acusação de propagação de notícias falsas nos comentários das fanpages de grupos pluripartidários

Inaiara Ferreira e Camilla Gonda

Análises de posts e comentários de partidos políticos são comuns em pesquisas de comunicação política. No entanto, há, também, movimentos pluripartidários, que mobilizam lideranças de todo o Brasil para atuar na política.

Esses movimentos surgem com o intuito de renovar a política, trazendo novos nomes e cursos de preparação. Para Hanna Pitkin (1967), representação é “tornar presente novamente”, e é com essa intenção que, após as crises políticas de 2013, esses movimentos ganharam força.

Com a popularização das redes sociais, muitos desses movimentos surgiram na internet, mobilizando pessoas em torno de seus ideais em sites como o Facebook. Alguns alcançaram grande popularidade, como é o caso do MBL, fundado em 1 de novembro de 2014, que atualmente conta com 3,1 milhões de seguidores em sua fanpage[1] e que defende o liberalismo econômico e o republicanismo.

Neste texto, interessa a relação entre tais organizações e a discussão sobre fake news, um termo que pode ser usado para tratar de informações falsas, mas também para qualificar o que desagrada uma figura política ou uma parcela de determinado público (DOURADO E GOMES, 2019). Nosso objetivo é verificar se, em suas páginas de Facebook, esses grupos pluripartidários são acusados de propagar conteúdos falsos.

Para abordar o assunto, utilizamos dados do CPOP, que coletou, entre julho e outubro de 2018, comentários em postagens feitas por cinco dos principais movimentos nacionais: RenovaBR, RAPS, Acredito, MBL Brasil e Livres. Os movimentos RenovaBR e RAPS trabalham com capacitação política, oferecendo aos líderes preparação e treinamento, já o MBL, Livres e Acredito trabalham com base de associados, ou seja, possuem pessoas com a mesma ideologia em vários lugares do Brasil, são movimentos de ideias.

O movimento mais antigo é a RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), fundado em maio de 2012, que conta, em 2020, com 673 líderes e tem aproximadamente 21 mil seguidores no Facebook[2]. O RENOVABr é uma escola de democracia com o programa iniciado em outubro de 2017. Segundo informações do próprio site do movimento, “desde 2018 já são quase 2000 cidadãos formados em todos os estados do Brasil”[3] e com aproximadamente 99 mil seguidores em sua página de Facebook[4].

Já o LIVRES é uma associação civil suprapartidária em defesa do liberalismo. Fundada em 2016, conta com pouco mais de 168 mil seguidores no Facebook[5] e 68 líderes. Por fim, o ACREDITO é um movimento de renovação política, fundado em 2017 e que conta com 59 lideranças cívicas e aproximadamente 58 mil seguidores na sua fanpage[6].

Na tabela 1, abaixo, podemos observar que todos eles, exceto a RAPS, receberam algum comentário dizendo que suas páginas estariam compartilhando fake news:

Tabela 1 – Comentários e acusações nas fanpages dos movimentos

Fonte: autoras (2020).

A RAPS é a página com menos seguidores e menos comentários do corpus, que possui um total de 479.213 textos. Além disso, desde 2018 faz ações de combate às fake news. Em seu site, há, desde em 24 de agosto, uma série de podcasts sobre desinformação , o “RAPS CONECCTION”, com a pesquisadora Ellen Aquino, do Instituto Tecnologia e Equidade (IT&E).

O MBL foi o movimento que recebeu mais acusações em números absolutos. A diferença deste para os outros é a sua natureza mais crítica em relação ao governo petista, além das mobilizações de rua ligadas a ele, o que faz com que essa seja uma página com um alto número de seguidores e postagens. Além disso, também é relevante o evento ocorrido em julho de 2018, quando o Facebook derrubou centenas páginas e contas que espalhavam fake news, incluindo a do MBL e de alguns de seus membros (HAYNES, 2018).

Já o movimento com mais acusações em números relativos foi o movimento Acredito, sendo que há acusações diretas de fake news em 0,52% dos comentários recebidos na página. Em números absolutos, essa porcentagem representa 7 comentários num total de 1.343. Podemos perceber, portanto, que os movimentos costumam receber poucas acusações relacionadas às fake news.


[1] Disponível em: <https://www.facebook.com/mblivre/>. Acesso em 22 set. 2020.

[2] Disponível em: <https://www.facebook.com/RAPSBrasil/>. Acesso em 22 set. 2020.

[3] Disponível em: <https://renovabr.org/o-que-fazemos/>. Acesso em 22 set. 2020.

[4] Disponível em: <https://www.facebook.com/renovabr/>. Acesso em 22 set. 2020.

[5] Disponível em: <https://www.facebook.com/EuSouLivres/>. Acesso em 22 set. 2020.

[6] Disponível em: <https://www.facebook.com/movimentoacredito/>. Acesso em 22 set. 2020.

Referências

HAYNES, B. Facebook retira do ar rede ligada ao MBL antes das eleições. Reuters, 2018. Disponível em: <https://br.reuters.com/article/domesticNews/idBRKBN1KF1MI-OBRDN>. Acesso em 22 set. 2020.

PITKIN, F. H. The concept of representation. Berkeley: University of California Press, 1967.

DOURADO, T.; GOMES, W. O que são, afinal, fake news, enquanto fenômeno de comunicação política? Anais do Compolítica, 2019. Disponível em: <http://ctpol.unb.br/compolitica2019/GT6/gt6_Dourado_Gomes.pdf>.