O texto produzido pela pesquisadora Luana Moreira aborda as manifestações de 2013 no Brasil, sua evolução ao longo dos anos e seu impacto na opinião pública, principalmente em Curitiba. Menciona como os protestos começaram como movimentos contra altas tarifas de ônibus, mas se transformaram em manifestações políticas mais amplas, com críticas ao governo e pedidos de mudanças em diversas áreas. O autor também analisa o papel de veículos de mídia como Veja e Carta Capital na formação da opinião pública durante esses eventos, destacando seus viés e como influenciaram as perspectivas dos leitores. É apresentada uma pesquisa realizada em Curitiba no início de 2023, mostrando baixos níveis de apoio a protestos públicos, especialmente aqueles envolvendo ocupações de prédios, danos ao patrimônio e confrontos com a polícia. No entanto, indica uma tendência positiva crescente na simpatia das pessoas por esse tipo de movimento na cidade.

No Brasil, em fevereiro de 2013 na cidade de Porto Alegre (RS) se iniciava um circuito de manifestações contra o preço abusivo das passagens de ônibus, passando logo em seguida para movimentos em diversas cidades do país. Lançando um olhar especial para a cidade de São Paulo, que teve uma organização mais substancial pelo MPL (movimento passe livre) contra o aumento no preço da passagem, na época de 3,00 passando por fim para 3,20. Não se pode afirmar com propriedade que as manifestações eram em sua totalidade movimentos com viés de esquerda, centro ou direita.

Segundo a autora Céli Regina J. Pinto: “a hipótese sobre essa trajetória e sobre as bases de um discurso tendencialmente de direita em 2015 teve seus primeiros passos realizados nas manifestações de 2013, com pontos de inflexão deste processo ocorrendo no jogo de abertura da copa do mundo em 2014, que marcava a inauguração do estádio Itaquerão em São Paulo no dia 12 de junho”. Em 2014 as moções se concentraram em torno dos jogos da copa do mundo, juntando uma concentração de pessoas tão expressiva quanto em 2013, principalmente nas cidades onde alguns dos jogos seriam sediados, porém com os protestos sendo fortemente reprimidos com o uso da força policial. Em 2015 no entanto as manifestações de cunho político tomaram forma de fato, com duras críticas nesse momento a então presidente do país Dilma Rousseff e sua gestão, além de diversos pedidos pelo impeachment da mesma.

A escalada de reivindicações da população, que em um primeiro momento tratavam a respeito do aumento abusivo de 0,20 centavos da passagem sobre a população passaram a falar acerca do passe livre estudantil, maiores investimentos nas áreas de saúde e educação e pelo fim da corrupção no país, além da luta pelo próprio direito de poder de se manifestar de fato, sem interferência ou repressão policial.

PRINCIPAIS PAUTAS DAS MANIFESTAÇÕES (2013):

Razões das manifestações:

Transporte público37,6%
Contra a PEC37,5%
Ambiente Público29,9%
Saúde12,1%
Educação5,3%
Gastos com a copa do mundo4,5%
Reação à ação violenta da polícia1,3%
Justiça/segurança pública1,3%
Outros0,6%
 Créditos a Ilse Scherer-Warren

Em uma análise ao artigo de Rafaela Albuquerque Gonçalves, intitulado “O papel das revistas Veja e Carta Capital na formação de opinião  pública acerca das manifestações populares”, a autora nos mostra resultados da revista Veja se posicionando em um foco pró-liberal e a Carta Capital num foco antiliberal, se dividindo também em prol do governo (Carta Capital) da época ou em oposição a ele (Veja). Em conclusão, ambas as revistas deixaram de lado sua imparcialidade jornalística, priorizando no entanto seus posicionamentos políticos e ideológicos, seduzindo assim seus leitores a apoiarem sua colocação como correta em unanimidade, comprometendo dessa forma a construção social da opinião do eleitor e fazendo com que este por sua vez tendesse a caminhar de encontro a revista com que possuísse maior afinidade, tornando assim o pensamento crítico de seu assinante desprovido de uma opinião própria.

Na cidade de Curitiba, em um survey realizado no primeiro semestre de 2023 pela turma da disciplina de Métodos Quantitativos do Curso de Ciências Sociais da UFPR, foi questionado a população da cidade seu percentual de apoio ou não apoio no que se refere às manifestações públicas, principalmente após os diversos acampamentos em apoio ao ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, que ocorreram desde meados do fim do segundo turno das eleições majoritárias de 2022 e do ataque aos prédios públicos em Brasília no dia 08 de janeiro de 2023. Segue abaixo os resultados obtidos pela pesquisa:

Apoia greve

não43,3%
sim56,7%
Total100%

Apoia manifestações de rua

não45,6%
sim54,4%
Total100%

Apoia ocupação de prédio público

não80,6
sim19,4
Total 

Apoia ocupação de prédios abandonados

não80,3
sim19,7
Total 

Apoia panelaço

não68,8
sim31,3
Total 

Apoia acampamento em espaço público

não77,1
sim22,9
Total 

Você acredita que as manifestações dão resultado?

Sempre dão resultado8,6
Às vezes dão resultado72,5
Nunca dão resultado18,1

Participou de alguma manifestação pública nos últimos 12 meses?

sim18,1
não81,7

Em uma escala de 1 a 7, quanto você sente simpatia por manifestações?

Sendo 1 nenhuma e 7 muita

119,2
26,3
36,1
411,0
525,6
610,8
720,7

Qual a sua opinião sobre o uso de força policial nas manifestações?

concordo totalmente10,4
concordo30,1
não concordo nem discordo25,2
discordo18,8
discordo totalmente15,5

Manifestações revoltosas, com confronto entre civis e/ou militares ou com degradação do patrimônio público são uma forma válida de protesto?

concordo totalmente7,0
concordo7,7
não concordo nem discordo5,9
discordo14,1
discordo totalmente65,3

Em conclusão, pode-se perceber dos resultados alcançados que apesar de uma clara posição política mais voltada à direita e extrema direita na cidade, o apoio a manifestações se mantém baixo, principalmente nas categorias de ocupação de prédios públicos, depredação do patrimônio público, acampamentos em espaços públicos ou com embates entre civis e policiais. Um dado curioso, porém mostra que os curitibanos acreditam que as manifestações às vezes dão resultado e demonstram uma ascensão positiva em relação a sua simpatia por esse tipo de movimento na cidade. 


Referências:

WARREN, I.S. Manifestações de rua no Brasil: encontros e desencontros na política. Salvador, 2014.

PINTO, C.R.J. A trajetória discursiva das manifestações de rua no Brasil (2013-2015). São Paulo, 2017.

GONÇALVES, R.A. O papel das revistas Veja e Carta Capital na formação da opinião pública brasileira acerca das manifestações populares. São Paulo, 2014.

YAMAGUTI, B. Manifestações de junho de 2013: passada uma década, pessoas que participaram dos atos relembram os protestos. g1.globo.com, 2023. Disponível em <https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2023/06/04/manifestacoes-de-junho-de-2013-passada-uma-decada-pessoas-que-participaram-dos-atos-relembram-os-protestos.ghtml>

Preço da passagem de ônibus provoca manifestações pelo país. g1.globo.com, 2013. disponível em <https://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2013/06/preco-da-passagem-de-onibus-provoca-manifestacoes-pelo-pais.html>